sábado, 31 de dezembro de 2011

“Ilusão ou crença” (29/12/2011)

Faz tempo que quero lhe falar: a palavra que me serve nem sempre me veste. Ela constrói um universo, é um signo intraduzível. Só porque falamos a mesma língua não quer dizer que possamos nos entender. Os contornos são de sentimentos, mas há algo de infinito, de inconsciente, que o verso não carrega. Fotografo um amor de ninguém, descrevo uma lágrima de uma janela qualquer, simulo uma chuva apenas pelo cheiro.

A palavra engana. Embriaga nossa sede pelo poder. Somos soberbos aproveitando-se do fato que não existe quem nos conteste. Eu faço discursos sobre a vida e o amor. Eu faço verso sobre o fim da tarde e rimo com as estrelas. Eu acho que sei, como você também acha. Nossa palavra não é uma certeza, não determina uma verdade se quer. Sua força é repetir-se até não lembrarmos que há alternativas além dela. Nossa fala é a construção de nossas ilusões. Somos particulares e parciais ao olhar o mundo. Dizendo coisas de um amor que desconhecemos o significado; de uma vida que não sabemos o destino; de um humano meramente idealizado. Quem somos nós para dizer alguma coisa?

Somos ninguém. Ainda sim, os únicos capazes de construir qualquer coisa baseado em algo que um dia tenha acreditado. Como a felicidade.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

“Segredo” (15/12/2011)

O sentimento não é um limite
Não posso esboçar tua face
Não saberia descrever sua alma
Pois você pode ser tudo
Tenho medo de construir este Tu
Há muitas palavras em silêncio
Posso seguir linhas sem rima
Na tradução imperfeita do olhar
Tenho que insistir enxergar-te
Você não dá dicas como o vento
Visto palavras tão aleatórias
Nem sempre aportam em outros corpos
O que navega por ti, tem destino?
Minha chance é que seja alma
Um coração há de guardar teus segredos
O sorriso revelará sua morada
Poderei finalmente ser verso
A palavra que nunca disse
Penso apenas se de posse do sonho
Resolverei então calar-me

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

“A emoção chegou primeiro” (04/12/2011)

Em nenhum momento pensei em nós. Não perguntei a ninguém o que achavam, não calculei o que fazer. Foi só uma breve coragem de lhe buscar. Antes que todos meus passados chegassem e antes que meus medos racionalizassem, e ainda antes de me convencer de que não era capaz, que tantas vezes me foi negada a chance... Eu acreditei no coração que pulsava pela curiosidade de ser feliz. Meu abraço completou-se em outro corpo e abdicou de todo resto. Meu pensamento invadido pela presença constante alimentava minha alma e dava força ao meu passo. A direção foi ficando óbvia dentro de outro olhar. Não tinha como duvidar do que sentia, aliás, é tudo que tenho. Foi quando te ofereci compartilhar uma vida e todas as razões que surgiam em nossas palavras foram se desfazendo na nossa frente, eu soube o que meu âmago sempre soube, o quanto te quero.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

“Ensaio sobre o improvável” (03/12/2011)

A vida é um encontro insensato. Somos tantos, perenes, distraídos, algumas vezes desesperados. Temos diversas línguas e outras tantas linguagens. Almas que carregam imensidões de sentido e um pulsar único que dá ritmo ao passo. O encontro é exatamente quando tudo desacelera, quando finalmente há um chão debaixo dos teus pés, e o tempo vira um pouco mais nosso. Eis então toda nossa improbabilidade, nossa fórmula sem resultado, a soma mais complexa da humanidade. Como juntar dois?

Foi quando a vida me acordou envolvido em um abraço, inebriado pela essência na minha pele. Ao olhar para trás é impossível determinar um quando, é como se o agora tivesse sempre existido. Poderia dar outras voltas no mundo e não voltaria aqui. Tem dias que são brechas inteiras de um universo onde com sorte podemos levar. Assim, contra todas as chances, nos encontramos, e encontrar a vida é raro.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

“Espere” (01/12/2011)

Quando a tristeza bater
Quando a alegria chegar
Quando a dor contrair
Quando o sorriso não conter
Quando o adeus falar
Quando o abraço envolver
Quando o fim sentenciar
Quando a mão abrir
Quando a distância impor
Quando o beijo salientar
Quando o rosto virar
Quando as flores nascerem
Quando a foto desbotar
Quando a alma sentir
Quando o corpo esfriar
Quando a palavra declarar
Quando o olhar desistir

Quando amar...
Não será melhor do que nenhum de nós

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

“Um inteiro de amor” (25/11/2011)

Seguro meu terço
Junto minhas mãos
Ainda sinto teu cheiro
Que agora se espalha pelo cobertor
Teu beijo deu ritmo ao meu coração
Teu carinho aconchegou minha alma
Tornas-te meu amanhã improvável
Assim me devolveu a chance
Construí-lo próximo da felicidade.

Não estou aqui para promessas ou pedidos
É nossa essência que vai assumir a possibilidade
O romance é nosso leme
Quero ir de encontro ao que sinto
Este gosto por quere-te
Todo resto fica bem simples

Concedida a graça do nosso encontro
Resumo essa prece
A um sorriso.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

“Benção...” (23/11/2011)

Fazia dias que caminhava entre nuvens. Não pedi nada para hoje, não esperava muito, no máximo minha alma livre. Ao abrir a janela eis que não há uma nuvem no céu. Um azul inocente, de algum dia puro do passado. Era impossível não sorrir diante a benção do Sol. Se alguns dias atrás, foi entre as gotas que tentei te alcançar, hoje são os raios dele que vão envolver nossos desejos. Pareceu tão apropriado, um sinal de boa sorte para o futuro. Sorri pela chance. Vamos desenhar nosso querer e, quem sabe, ele não se complete...

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

“Testamento” (18/11/2011)

Vou levar comigo todo amor
O lençol, o travesseiro e o cobertor
A foto na cabeceira e a 3x4 da carteira
Estou levando os casacos e o cheiro do armário
O reflexo atrás de ti no espelho do quarto
Não vai encontrar a escova e o aparelho de barbear
Levei a tolha que roubei do hotel com vista pro mar
Rasguei-me também de todas as fotografias
Não deixei nenhum presente que te dei
Coloquei na mala todo meu pedaço de vida
Destruí, uma por uma, nossas fitas
Desfiz sem dó, laço por laço
Não ficou imagem, som, nem palavra
Não se engane, carreguei o silêncio porta afora
Chave de fenda, martelo, prego, parafuso
Suor, saudade, sorriso e abraço
Pode olhar, não tem meus CD’s na prateleira
O livro do Manuel de Barros não está no criado mudo
Eu lavei e guardei toda louça
Coloquei no lugar a poltrona da sala
Desprogramei a secretária eletrônica e a televisão
Não guardei nenhum filme que planejamos ver
Já mudei as datas das minhas férias
Minuciosamente apaguei meu nome da tua agenda
Desmarque o florista, levei tudo que plantei
Rosas, lírios e as azaléias
O violão que aprendi apenas tua serenata
Ao cozinhar não procure minhas receitas
Não terá mais na boca nem meu beijo, nem meus sabores
Não passearemos no parque
A comunhão das nossas mãos será apenas desejo teu
À noite, a sombra no corredor não será minha
Pode amassar o travesseiro, não marcará minha presença
Perca o costume de parar nas lojas de esporte
Não volte ao restaurante da primeira vez
O jeito que gosto do café foi comigo
Jamais gostei de pizza fria
Levei a cópia da chave e fechei a porta
Não há ninguém além de você na casa
Passará dias me buscando entre as cortinas
Nem mesmo minhas cartas chegarão
Ficará sem meu olhar de adeus
Deixo-lhe somente nossa memória
Assim será tua escolha, me esquecer.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

“Virando a página” (14/11/2011)

Desenho um novo contorno. Quero outra cor para este cotidiano. Dispenso os tons de cinza, abro a janela e evito as gotas escorrendo pelo vidro. Lavo o rosto, deixo um sorriso no espelho, volto a me preocupar com minha roupa. Faço superstições ao tropeçar, planejo alguma fala perdida, roubo flores no parque. Invento novos motivos para um encontro. Visto-me de um novo espírito notável, recuperando algum reflexo de vida. Desfaço os esconderijos, falo sem mais pudores ou restrições de sentimentos. Na busca de qualquer inteiro firmo meu passo, abraço de novo o risco. Há algo nascendo e a chance é a melhor coisa que podem te dar. Abro o peito para o mundo, pois tem algo aqui fora. Além de qualquer alma, há algo que a completa. Esboço uma nova realidade e vão se construindo os personagens. Tudo agora é possível, como não ser feliz com isso?

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

“Trancafiado” (13/11/2011)

As paredes do meu quarto me confortam
Não quero deixar as cobertas
Se ainda fosse alguma preguiça
Mas é o mundo que deixou de ser vontade
Quero continuar girando aqui dentro
Um desaparecimento discreto
Abdicando de toda e qualquer luta
Estou enfadado deste universo
O trabalho que só consome
O sentimento que apenas desespera
Não me incomoda essa clausura
Aqui tudo está ao meu alcance
A vida atrás de uma janela
E absolutamente nada que me exija

As vezes é tanto que nos falta
Ao menos meu quarto posso preencher

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

“Liberdade de ser” (12/11/2011)

Na beira do hoje há uma promessa
O pôr-do-sol confunde com sonho
No que se pode tocar?
O que me esfria as entranhas
São essas eternas imagens de desejos
É tão fácil inserir-se na ilusão

Foi o querer desesperadamente
Levou-me além da sinceridade
Disse palavras que me engasgaram
Mas a vontade não era sentir

Apenas isso me incomoda no sonho
Saber onde traçar o limite
Não me é saudável remoer tantas possibilidades
Meu caro dia, não posso comprar tua esperança
Hoje é necessário viver.

Perverso é tudo permanecer chance
Alforria ao talvez.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

“Anulação” (09/11/2011)

Andamos de mãos dadas
Beijos na fila do cinema
Jantar aos sábados
Abraços fortes e comuns
Olhares com brilho exclusivo
Um verso virou rotina
O romance sempre amanhecendo
O encontro quase um dever
Os presentes não são mais surpresa.
O que uniu diluiu-se
Temos um anel de compromisso
Um retrato na cabeceira
Uma comodidade incômoda
Saciamos efêmeros desejos
Sentimos por definição
A presença virou costume
Perdemos um pouco a cor
Nos confundimos com a paisagem
O amor nos tornou comuns.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

“Carta do Desencanto” (06/11/2011)

Amor, venho esvaziar todo seu sentido. Eu que um dia roubei teu significado do dicionário. Já sou incapaz de repetir o abraço. As flores murcharam, abandonei-as em um inverno qualquer. Levei-te para toda palavra, te fiz contorno do meu universo. Meus olhos padeceram de cor, você escureceu em algum tom de cinza. Escrevo para desconstruir-te, apagar a marca do meu horizonte.

Tua falta não alimenta a solidão do meu quarto, já não é nem mais sombra. Desfaço meu sorriso a cada reciprocidade que não posso lhe dar. Desenlaço meus dedos em versos no papel cheio de letras frias. O “te” já não conjuga com você. Engoli o gosto amargo de não te querer. Preciso me desmanchar de qualquer virtude, desvencilhar-me da esperança. Não sou. Quero voltar a ser comum, paisagem, memória e talvez nem isso. Há de sobrar entre nós apenas um substantivo indefinido. Aqui mando a última coisa que posso lhe dar: Amor .

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

“Chuva de Verão” (17/10/2011)

Talvez seja louco
Mas gosto dos contornos cinzas
O jeito que me agride com gotas
O vento que sopra contra

Gosto quando me toma os céus
Faz de tudo teu véu
Disfarçando as brechas de luz
Há uma esperança atrás de ti
Desmanchará essa máscara negra
Desvendando tua alma azul anil

Devaneio seria não abraçar-te
Não abrir o sorriso na tempestade
Tudo que leva é porque deixo
Quero ser como Tu
Destes contornos cinzas
Sobre apenas o céu azul

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

“Paciência” (14/10/2011)

O romance vai voltar
Independente da primavera
Logo, indiferente as minhas vontades
Preciso apenas acomodar o vazio
Ver o horizonte como mais um passo
Deixar envelhecer a lembrança
Caminhar de mãos com a solidão
O real é que vai me salvar

Não vou abandonar um centímetro de vida
Quero tudo plenamente mais uma vez
Não abro mão nem dos pedaços
Sairei do sonho para a vida
Enquanto não vale dormir
Não aprisionarei o meu sentir
Tenho certeza de que ele irá voltar

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

“Fato Consumado” (13/10/2011)

Duas almas na incerteza do amanhã
A beira da impossibilidade do “nós”
Tatearam as saliências de seus corpos
Salivaram desejos por toda pele
Descobriram os limites do prazer
Para abandonar todos os pudores
Mergulhados na satisfação mundana
A simplicidade da nudez
O primitivo instinto de querer mais
Abstinência do tempo pelo eterno
As marcas dos arranhões nas costas
A paixão maior que a razão
Saciar a chama até o último fôlego
Traíram as certezas do futuro
Ao consumar a vida com o agora

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

“Nunca pensei” (06/10/2011)

Um dia o espelho vence
Revoga a ideia de si
Um olhar sem parcialidade
Que nos julga comuns
A construção só de ideais
Não sobrevive a realidade
As diferenças nos desprevinem
A distância, mera ilusão
Somos todos nossos nuncas
Os mesmos erros dos nossos pais
A face do nosso inimigo
Um dia reflete em nós
É chocante nos ver réus
Vítimas da própria consciência
Não precipite acusações
Ninguém é inocente
Desmoronada nossa imagem
Revela-se apenas o humano
A parte que ninguém imaginava

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

“Por trás do pano” (04/10/2011)

Não é teu olhar perdido no infinito
Nem o contraste em preto e branco
Não é teu jeito discreto de andar
Nem o mundo que esvazias sem notar
Não é tua pele, teu sexo
Não é a imagem que construo de você
Nem a essência que deixa ao passar por mim

Perturba-me são teus lábios cerrados
O medo envolto neste selo já umedecido
Brinca de desenhá-los com o dedo
Belisca-os em repreensão ao desejo
Mas jamais eles partem
Seja falta de aprendizado ou esquecimento
Teu sorriso não valeria ao menos um ensaio?

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

“Véspera de Primavera” (22/09/2011)

Estamos todos contra o parapeito
Esperando a madrugada se dissipar
Abrimos mão das esperanças e medos
Tudo por um amanhã

Poderemos preencher nossa alma de novos aromas
Poderemos preencher nosso coração de novos sabores
O sol entrará por todas as frestas
Acharemos um espaço para sermos

Acreditamos cegamente em nós
Nessa chama que mantemos viva
Nesse sorriso que manteremos aberto
Na vida que sempre floresce

Estamos todos aqui reunidos
A espera do desabrochar da primeira rosa
Ela será nossa prova definitiva
A felicidade, sempre volta a ser possível.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

“Um ensaio sobre o amargo” (21/09/2011)

O telefone já não toca. São as sutilezas do silêncio que esvaziam aos poucos a presença. Não dá para negar o suspiro de liberdade, sentimentos também pesam. Descobri recentemente as fissuras em meus princípios. Não me angustia minha decisão, nem seus motivos. Mas abandonei uma relação, não foi sem feridas. Em uma inocência acreditei que jamais criaria uma mágoa, uma tão bem acabada, tão marcante, tão longe de minhas verdades. Inocências crescem. Não sinto falta de nada neste quarto, não porque esqueci, mas na verdade nunca coube. Não olho para isso como falha, desperdício, penso que assim é a vida. No mais apenas me incomoda que a única alternativa ao amor seja a dor. As cicatrizes são mais necessárias do que digo e imagino. É, não há alternativa quando se admite que não se ama. Por isso nesta penumbra de fim de dia sobra este gole seco, cheio de realidade, esperança, dores, pesares, verdade e duramente sincero. Prefiro esta dose aos paliativos humanos.

Um brinde.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

“Anti-herói” (14/09/2011)

Rasgam mais algumas palavras
Sentimentos largados no chão
Toda voz parece embargar
Mais infâmias sobre o amor
O coração anda sofrendo
Facilitaram as distâncias
Subiram-se paredes de concreto
O tempo virou efêmero

Olho ao redor nas entrelinhas
Há tantos porta-vozes do sentir
Tanta alma em carne viva
O amor escapa pelas entranhas
Invade toda prosa
Vira arma na mão do rancor
Razões de uma emoção
A verdade de um passado
Dissipada no presente

Somos o século do absoluto
Uma geração cheia de certezas
Que definiu o amor
Decidiu tudo que é justo
Sabe apontar o dedo na cara
Desaprendeu a olhar no espelho
Reflexos do que negamos

O amor sofre em nós
Mas jamais foi nosso
Não faça dele um mártir
Vítima das nossas expectativas
Como tudo que aqui nasce
Ele tenta...e também falha
Nobre é admitir-se vil

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

"Trilogia"

“Amor de Praia”

Ah, se todo amor fosse assim a beira-mar
Molhasse os pés, sem arrastar na correnteza
Subisse a maré, sem afogar as esperanças
Refletisse o céu, sem roubar as estrelas
Ah, se todo amor beirasse meu mar.

“Amor de Campo”

Ah, se todo amor deitasse em uma varanda
Esticasse a vida na rede e um sonho na paisagem
Adiasse o segundo para fazer valer o minuto
Fosse como a brisa: um carinho sem levar
Ah, se todo amor dormisse na minha varanda

“Amor de Cidade”

Ah, se todo amor coubesse em um olhar
Uma presença que dispensasse a palavra
Uma verdade que não precisasse de provas
Um encontro que não terminasse efêmero
Ah, se todo amor não fosse apenas meu olhar

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

“Solidão Paulistana” (08/09/2011)

Como a raiz vence o concreto?
As ruas são frias
As almas são vacantes
Os olhares distantes
As verdades obscuras
Os passos escusos
E a palavra um abismo

Tudo por aqui passa
A multidão é vazio
Os abraços casuais
Um céu sem estrelas
Um chão sem sonhos
Inúmeras luzes acesas
Mas nenhum convite para entrar

Somos apenas cicatrizes do asfalto
Rachaduras que ainda respiram
Edifícios de corações
Poluição de sentimentos
Trânsito de silêncios
Becos de esperança
Que o corpo não seja vão

É desta terra inóspita
Onde a rosa crava o espinho
Desabrocha sua vida
Cria raízes na cidade
Acredita no seu lado bom
Nesta solidão...
Encontra companhia.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

“Pleonasmo Vicioso” (06/09/2011)

Vivo nesse abismo
A beira de tantos corpos
Nos desencontramos
Busco um sinal do recíproco
Uma verdade no âmago
A utopia de ver além do corpo
Os outros buscam rotas de fuga
Ninguém quer ser sincero
Nem mesmo no silêncio
Somos almas labirinto
Presos em nossas seguranças
Sinto-me andando entre vazios

Não há coração que não pulse
Não há vida que não grite
Não há corpo que não reaja
Enjoa-me essas máscaras
O mundo raso nos condena
Incapazes de encontrar
Um olhar que veja

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

“Desejo Solitário” (29/08/2011)


Talvez seja coisa de paulistano admirar-se com uma estrela. Aqui elas são mais solitárias, distantes uma da outra, como se morassem no mesmo lugar, mas não conversassem. Nesse silêncio, nenhuma precipita em desejo. Há muito para se vencer nessa cidade antes da queda. É preciso contar com a sorte de uma noite que anteceda um dia escaldante, destes sem nenhuma nuvem no céu. Mesmo assim é preciso que a noite se mantenha comedida com umidade para dispersar nossos rastros de poluição. Ainda assim a estrela, antes de qualquer cadência, depende do humano. Todos sabemos o que é depender do humano. Um olhar sem pressa, sem medo, urgência, dúvidas, preocupações. Um olhar que se não essencialmente livre, que por um momento se perca nos céus. Um olhar quente de alimentar almas, e distante, capaz de ver através dos rastros de nossa solidão. Talvez seja demais por um desejo. Talvez sejam estrelas de menos para este céu. Penso também que talvez não exista humano livre.

Temo por você estrela, que venha a ser apenas decadente.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

“Telha de Amianto” (16/08/2011)

Eu lembro quando a chuva vinha ensurdecer meu universo. Estava sempre a imaginar no meu quintal entre os soldados e as corridas disputadas entre os vales e montanhas das caixas sobre o balcão embaixo da janela da cozinha. Era tudo revestido de um azulejo laranja que não escondia sua idade. Foi entre essas mesmas caixas que encontrei um de meus cágados que fugiu enquanto limpava o aquário. Nessa época meu mundo já tinha diminuído e os sonhos já não podiam correr livres, faltava-me espaço no box do chuveiro, na escrivaninha. Fiquei exposto aos olhares que esperavam deixar para trás minha infância. Mas corri outras vezes naquele quintal, mais vezes do que posso me lembrar. Fiz guerras, joguei bola, lamento não ter deitado mais vezes naquele chão. No quartinho dos fundos tinha uma mesa de botão. Tinha também uma saída lateral para o corredor que recordo sempre em tons avermelhados, desses finais de dia engraçados de primavera. Era um calor debaixo daquelas telhas, mas quando chovia era mágico. Isolava todo som, toda vida. As gotas e aquele barulho sempre me confortaram. Mas que problemas tinha? Lá fui criança. Eu lembro do contra-luz na janela da cozinha que fazia de tudo sombra enquanto a chuva insistia lá fora.

Hoje meu quintal é ao ar livre e não consigo decidir se é melhor assim.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

“Acidente Geográfico” (15/08/2011)

Os passos são possíveis
Reais como apertar tua mão
Destrinchar as mexas dos teus olhos
Amaciar as maçãs
Carregar a lágrima
Admirar tua imensidão
Envolver um bater de coração
Sufocar todo medo
Versear em falso
Hesito ao pé do ouvido
O abismo é a palavra.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Post Especial Final

Caros leitores, este é o último post especial em virtude do lançamento do meu livro "Poeta da Colina - Um Romântico no Século XXI" . Publiquei aqui alguns poemas do livro que lerei em Sarau no próximo dia 22/09.

Quero agradecer a paciência desta overdose de divulgação, e entender este momento importante dentro da minha proposta como escritor. Mais do que poder assinar os livros, mais que poder recitar os poemas, o importante é este carinho e visitações que vocês sempre me concedem, com ou sem livros. Muito Obrigado, espero sempre poder contar com esta companhia.

Abaixo então segue um último poema que recitarei no evento. Quem ainda pretende ir, sugiro que compre o livro até quarta-feira para dar tempo de chegar com folga em sua casa. Lembrando das 18h30 às 20h, dia 22/09, no Sebo Praia dos Livros, Avenida Bernardino de Campos, 331.

O link do livro está aqui na barra lateral.

Obrigado mais uma vez.

“Livrai-me” (05/10/2007)

Preciso agora ocupar-te
Serão palavras breves
Algum tipo de adeus
Não sinta-se traído
Pelas promessas antes feitas
Elas criaram uma casa de vidraça
Um lugar sem movimento
Onde não cabe nem um grito
Entenda-me, por favor!
Preciso gritar mais alto
Preciso quebrar as janelas
Percorrer os caminhos da solidão
Chegar na realidade do olhar
Abafar os pensamentos
Perdoa-me então papel
Ficarei bem mais em paz
Fala que ouve-me bem
Que sabes o porquê
Divida comigo essas lástimas
Essas injustas palavras
Contigo já dividi tantos amores
Deixa-me agora este espaço
Dê-me toda essa distância
Preciso de tua eternidade poética
Pra poder esquecer-me no momento
Queria ausências sentidas
Mas desta vez só desapareço-me
Cansei do ódio, da ignorância
Ou da pior plena consciência
A verdade domina-me
De maneira desesperadora
É real, simplesmente real
Não cabem desejos nem sonhos
São apenas poucas palavras
Elas precisam ganhar corpo
Um relapso de coragem
Resta-me então só você
Sei que encontrarei tudo por aqui
Em alguma linha você me guarda
Em um verso sincero qualquer
Entrelinha, entrelaçado, permeado
Memória, concreto e ilusão
Efêmero, eterno, igual
Entranhas, âmagos e afins
Tudo aquilo que te faz fim!
Tudo aquilo que te faz começo!

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

“O Amor que Desconheço” (01/04/2007)

Passo pelo amor da minha vida todos os dias
Ela fica para trás na busca por chegar lá
Lá onde nenhuma promessa me foi garantida
Lá onde os sonhos também não estão
Lá onde encontrarei o puro e real
Ali na próxima rua, virando a esquina
O incerto, o dúbio, o abstrato

Todos os dias meu amor espera na porta da igreja
Eu estou com meu smoking, mas nunca chego
Saio para outras festas, danço com outros pares
Encontro sorrisos em outros abraços e pernas
Tenho mil namoradas e nenhum amor
Termino aqui mesmo por este chão
Frio, concreto e intransponível

Meu amor, todos os dias, me compra flores
E eu sempre insensível as deixo secar
Eu não passo por nosso apartamento
A geladeira está vazia, falta carinho e atenção
Uma foto de uma chuva que pegamos
Uma cama desfeita guardando memórias
Paixão, voracidade e ilusão

O amor da minha vida gasta horas ao telefone
Fico com som de ocupado em vez de sua voz
Quando vai me ligar é no momento que não estou
Eu, por mania, não retorno minhas ligações
Ela não gosta de insistir e se repetir nas mesmas
Eu e ela somos totais desencontros
Despreocupados, desavisados, distraídos

Eu faço constantes juras ao meu amor
Falando a verdade, ela nunca me ouviu
Nunca parou para ler minhas poesias
Teria inúmeros motivos para odiá-la
Mas por apenas um motivo não o faço
Estou naquele momento de ficar
Atordoado, escuso e complicado

Meu amor insiste em me desmentir
Conta aos amigos que está sozinha
Mas não posso culpá-la por isso
Todas minhas cartas ficaram em gavetas
Todas minhas palavras ficaram entre paredes
Assim nós dois permanecemos
Alheios, estranhos, distantes

Ass: Danilo Mendonça Martinho

Você pode ouvir este poema no próximo dia 22 de Setembro na "Noite de Autógrafos+ Sarau" do livro "Poeta da Colina - Um Romântico no Século XXI". Para ganhar o seu autógrafo basta levar o seu exemplar. (Compre aqui)

Conto com vocês.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

“Se puder...” (30/10/2007)


Esquece-me mente, em um breve momento de piedade
Sei sofrerei as conseqüências, só que mais tarde
Poupai meus passos deste peso a toa
Se existe em mim, como grita tão alto?
Se existe em mim, por que simplesmente não te calo?

Esquece-me hoje, e se possível amanhã também
Sua possibilidade diária me assusta
Insistindo nas minhas contrariedades
Por que não sussurra e me põe a dormir?
Por que não se senta, e apenas descreve meus sonhos?

Lembra-me mente, em um breve momento de saudade
Permita-me um leve vôo de liberdade
Pouco importará o que se faz real
Queime minhas asas se for tolo o suficiente
Queime minhas asas se eu ousar mais

Lembra-me hoje, só posso agora
No momento que me enxergo fora da razão
Aproveita que esqueci de proteger o coração
É impreterível que me tome pelos braços mais uma vez
É impreterível que não me deixe escapar para sempre

Ass: Danilo Mendonça Martinho

Você pode ouvir este poema no próximo dia 22 de Setembro na "Noite de Autógrafos+ Sarau" do livro "Poeta da Colina - Um Romântico no Século XXI". Para ganhar o seu autógrafo basta levar o seu exemplar.

Conto com vocês.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

“Quebre meu Silêncio” (16/07/2007)


A Madrugada já bate na porta
Só agora percebo que chove lá fora
Uma paz passageira me toma
Um pensamento fugaz me trai

Por que veio até mim nobre chuva?
Veio transbordar meus sonhos, ou
Veio apenas criar as mudas no jardim?

Um cheiro toma meus sentidos
É asfalto, é terra, é um pouco de alma
As janelas, as telhas, as casas, o corpo

Seus presságios não pareceram de sorte
Suas gotas me pareceram incertas
Promete-me companhia nas complicadas palavras?

Ficaria olhando chover por horas
Queria tua cadência em meu coração
Queria tua claridade em minha mente
Queria tua simplicidade em meus atos

Fique enquanto puder chuva minha
Envolva-me em qualquer delírio
Sussurra-me qualquer barbárie

Ass: Danilo Mendonça Martinho

Você pode ouvir este poema no próximo dia 22 de Setembro na "Noite de Autógrafos+ Sarau" do livro "Poeta da Colina - Um Romântico no Século XXI".

Você também pode ler este e outros poemas adquirindo o livro em todo Brasil, no link acima. O site disponibiliza venda por boleto, cartões e transferência. E a encomenda chega em média em 3 dias úteis.

Conto com o prestígio de vocês, muito obrigado!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Post Especial #1

O poema a seguir está no livro "Poeta da Colina - Um Romântico no Século XXI" e será recitado na Noite de Autógrafos do próximo dia 22 de Setembro. O evento terá cobertura de foto e vídeo da produtora Tripé De Ideias.

(OBS:O livro só está a venda pela internet. O tempo média de chegada do livro depois de pedir são 3 dias úteis.)

“Só de Passagem” (20/04/2006)

A vida se isolou hoje
Nos carros engarrafados
Salas vazias, casas abandonadas
As pessoas fogem de si próprias
Todos para os mesmos lugares
Tentando algum dia escapar
Onde é longe demais?

A vida se esvaziou
Foi deixada para trás
Saturada, insana, sufocante,
Hoje descansa dos indivíduos
Espera pacientemente a volta
Daqueles que procuram sem achar
Mas por enquanto só esqueça
O mundo não é o mesmo
Habitado apenas por animais

A inércia tomou conta
Aceitei sem lutar
Talvez esteja fraco
Corações partidos
Cicatrizes diárias
Talvez seja consciente
Fechei meus olhos
Soltei sua mão

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

“Poeta da Colina – Um Romântico no Século XXI”

Ele é simples, um primeiro, mas de coração. Já está a venda o meu primeiro livro, reunião de algumas poesias desde que comecei a escrever até meados de 2009. É uma emoção tê-lo na mão e um frio na barriga compartilhar com vocês. Não sei o que pensarão sobre ele. Tudo que sei, e tento manter a consciência disso, é que minha palavra não vai mudar o mundo, e há muitas almas que não moverei. Mas uma alma apenas que tocar já será minha felicidade, pois é um privilégio chegar até a alma. Espero que me permitam tal presente.

Obs: A venda do livro está sendo realizada pelo site do Agbook, no link: http://www.agbook.com.br/book/47734--Poeta_da_Colina

No dia 22/09 será uma Noite de Autógrafos, sem comercialização do mesmo. E com direito a um pequeno Sarau. Nos próximos posts vou apresentar algumas das poesias do livro que estarei recitando por lá.

Ass: Danilo Mendonça Martinho




segunda-feira, 22 de agosto de 2011

“Principiante” (15/08/2011)


É fácil admirar-se
Encontrar desenhos particulares
Tracejados de uma face
Esboços de um sorriso
Silhuetas de um desejo
Disfarces do pecado
É fácil perder-se
Imaginar o destino
Jogar com a sorte
Brincar com a chance
Desfazer em sonhos
Construir utopias
Difícil...
É escrever a primeira fala

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

“Condenado” (09/08/2011)


É uma pena
Deflagrar a verdade
Numa única palavra
Amor é uma conseqüência
A qual voltarei
Como se fosse um erro
Inebriado pela promessa
Embebedo minhas páginas
Sem pudores racionais
Despido de consciência
Perco-me na rima
Preso ao universo
Aquém da paixão
Vazio de realidade
Romanceio a esperança
Um sentir em exagero
Deixaram-me rasgar o peito
Disseram que era longe demais
As feridas se multiplicam
Fiz de tudo uma chance
Sem saber que tinha medida
Sobrou-me ser réu
Perpetuar
Crimes de romantismo
Desculpe se me entrego
Fecho os olhos para o mundo
Mas é preciso preencher os espaços
Até que me tomem a palavra
E a solidão cobre minha pena

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

“Uma ideia” (01/08/2011)


Talvez ser feliz não seja tão complicado assim. Não podemos ser todos os sonhos, mas quem disse que um já não será suficiente? É provável que tudo se resuma as escolhas do dia a dia. Sorrir, abrir a janela, olhar o horizonte, fechar os olhos, respirar a vida, sentir o suave do Sol ou o cheiro da chuva, abrir os braços, acreditar, firmar os passos, realizar-se, libertar, ficar em paz, encontrar saídas, fidelizar-se à emoção, suspirar, caminhar, sonhar, enxergar a vida sempre como possível.

Ser feliz pode ser bem fácil quando não ficamos a esperar que um outro nos faça.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

“Sob medida” (27/07/2011)


A solidão me veste
Quando as portas fecham
Quando o dia amanhece
Quando a noite cai
O suspiro marca o silêncio
O infinito invade os olhos
O mundo vira apenas possível
A vida conforta
O passo já não pesa
Longe de pressões sociais
Perto do que sinto
Sou apenas um pulso
A mesa já foi preenchida
O convite ficou aquém
Meu vazio tem outro gosto
Encontro com nostalgia
Boa parte da vida está dentro
Não me julgue se me afasto
Não perturbe se me calo
Nem tudo que me serve, completa
Fico sem o brinde
Hesito nos abraços
Guardo minhas palavras
Prefiro o som dos meus passos
A esse caminhar sem ritmo

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

“Luz da Estrada” (23/07/2011)


No fundo da noite
Separamos entre as estrelas
Tudo que foi abraço
Tudo que restou do amor
Nas sobras do real
Somos o que sobreviveu
Apesar dos desvios do caminho
Das chances para voltar
Sem perspectivas de final
Formamos o sorriso
Que ecoa no breu da vida

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

“Negligência” (19/07/2011)

Tentamos
Eufemismos
Meias palavras
Distâncias
Silêncios

Evitamos
Conflitos
Lágrimas
Verdades
Dores

Escondemos
Corações
Almas
Sentimentos
Palavras...

Bastava uma

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 28 de julho de 2011

“Existência” (03/07/2011)

Não sei quando cheguei
Muito menos se escolhi
A lembrança é um fragmento
A infância uma escuridão
A consciência começou tarde
Ainda não sei quem sou
Como humano uma máquina
Como razão uma essência
Para onde ir?
O viver não é coerente
As ações são aleatórias
Não há respostas
Apenas uma única perspectiva
Mutante, amarga e esperançosa
Preciso agir enquanto não volto
O que me trouxe me levará
Não saberei como
Nem fará diferença
O ser é somente um agora
Todos viremos a dexistir

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 25 de julho de 2011

“Seremos fim” (18/07/2011)

Eternamente. O que não morre? O que não passa? O que não se desfaz? O que permanece? Por que devo acreditar naquilo que não sou? Querem fazer de cada ato nosso um martírio, como se tudo fosse para sempre e o caminho imutável. Não quero olhar para vida com todo esse peso de tudo que já fiz. Mudei tanto, acreditei em outros sonhos. É fato que nossas decisões por vezes ferem, que jamais serão sem conseqüências, mas nunca me propus a ser perfeito e deixarei muitas coisas ainda pelo caminho. Só não me venha com cobranças, disse e fiz tudo da melhor maneira que conhecia. Fui sincero e isso pode ser muito complicado. Doei-me até não poder mais. Agora me chegam consciências me acusando de ser eternamente responsável pelo sentimento que abri mão. É soberba pensar que temos algum controle sobre o sentir alheio, ou mesmo imaginar que seremos inesquecíveis a tal ponto. Somos responsáveis pelo que sentimos e nos amedronta tanto isso que mantemos situações por comodidade, por culpa. Por acreditar ser eternamente responsável pelo próximo abdicamos nossa felicidade e tiramos também a do outro. Quem ganha nessa eternidade?

Somos finitos como tudo que nasce de nós.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 21 de julho de 2011

“Consciente” (17/07/2011)

Ainda não sei o que aconteceu. As palavras nunca foram tão leves, o desapego tão real. Mesmo falando de meu âmago não parecia machucar. Senti perturbar a outra consciência, desestabilizar uma emoção, mas vejo que nem me importei. Falei as palavras contidas no peito, não procurei eufemismos e vi na verdade o único caminho. Pela primeira vez estive resolvido e absoluto. Parece que amadurecer tem suas vantagens. Jamais desistirei das paixões, mas que não me cobrem também. A certeza do que não será também abre horizontes. Desprovido de tudo aquilo que não havia dito o passo já é mais certo, o talvez não desvia a direção. Um sorriso volta a clamar independência. Não abandonei a palavra. O você mudou.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 18 de julho de 2011

“Rotação” (17/07/2011)

Quando voltar aqui
Não fará diferença
Tudo que nos leva
Jamais há de retornar
O mundo é feito de nuances
Nem sempre visíveis
Mas nada escapa do sentimento
Cada vez que se olha para alma
O reflexo se transforma
A palavra que dói
Também perde significado

Se um dia voltar
Não será pelo passado
Não seremos os mesmos
Queira algo novo
Pois tudo que fui
Abdiquei junto de ti

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 14 de julho de 2011

"Bússola" (12/07/2011)

Não me incomodaria de ser feliz
Mas sabe tanto quanto eu
O teu olhar já não me procura
A tua palavra tenta disfarçar
Jamais movi teu sorriso
Diverte-me essa certeza
Ver no corpo alheio
Sentir na alma distante
Que há outro norte
Não aceitou minha rosa dos ventos
Meu farol segue sem porto
Bom é te ver a salvo
Distante da própria tormenta
O que te move nem disfarça
Você é mais dele do que teu
E qualquer palavra fica sem direção
Incomodaria-me desviar teu caminho

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 11 de julho de 2011

“Amores de metrô” (05/07/2011)

Procuro pelo teu reflexo
Um jogo de sinais
Não posso te entregar o olhar
Aprecio teus trejeitos
Verifico de canto teu rosto
Disfarço buscando o horizonte
Ao retratar teu corpo
Já sei que me repara
Não nego, te admiro
Mas nada além disso
Seriam levianas as palavras
Ousados demais os gestos
Somos então hipótese
Nossa intenção é um talvez
Tento parecer indiferente
Mas o sorriso me desfaz
Observo tua imagem na janela
Reparo seus anelares
Analiso minúcias de teu rosto
Hoje não tenho desculpas
Diluo a presença num sonho
As portas abrem na expectativa
E sempre desce antes de mim
Resta saber:
Será que ela é de olhar para trás.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 4 de julho de 2011

“Jogar-se” (28/06/2011)

Quem desenhou este vôo sem asa
A ilusão de Ícaro
A fuga sem realidade
Abandono todas máximas
Não quero compensar o universo
Sentir não é sacrificar-se
Não há promessas no fim do abismo
Ao me trocar pelo outro
Apenas desapareço
O querer não pede evidências
Posso ser mais teu
Mas sem ser verdade
Ainda prefiro tentar
Não viver longe daquilo que penso
Seja corpo ou coração
Não precipito mais
A queda não defende causa

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 30 de junho de 2011

“Feriado” (27/06/2011)

Estava a espera da solidão
O todo resumido ao nada
Um vento que tudo arrasta
Uma alma mais próxima da vida

Foi quando acordei no silêncio
Entre janelas abandonadas
Entre corpos apenas vacantes
O concreto a se esfriar do movimento

Pé ante pé arrisquei-me
A urbanidade era inofensiva
Sem as peças de seu caos
O mundo cabia no meu quintal

Estufei o peito de puro desejo
Fiz do silêncio meu sonho
Fiz do vazio meu lar
Construí no feriado minha paz

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 27 de junho de 2011

“Fim de Expediente” (20/06/2011)

A vida é boa
Esse toque de sol no rosto
A gargalhada depois do choro
As flores no jardim
Esse sorrir sozinho
A janela de esperança
O suspiro que ainda acredita
Essa brisa de fim de tarde
O aconchego da alma
O sonho que descansa
Esse céu avermelhado
A sombra do que somos
O horizonte infinito
Esse respirar em paz
Aceitar nossas culpas
Perdoar em nossos abraços
Esse olhar a se perder
Sem pedir muito
Algo para chamar de paz

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 23 de junho de 2011

“Fração” (19/06/2011)

Não há fuga
Palavra que enobreça
Verdade que justifique
Essência que se assuma
Vontade que demonstre
Somos vis
Ao menos podemos
Perturba-me essa perspectiva
Que escapa dos meus princípios
Faz de tudo uma razão
Do nosso olhar um lugar comum
Limites
Não podemos ser sempre poesia
Tudo pode ficar incompleto
Sem ninguém escapar ileso
O justo é uma noção parcial
Sofremos
Mas continuo caminhando
Resumido ao que sinto
Ao breve suspiro
Que preenche o vazio

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 20 de junho de 2011

“Estudo sobre a Alma” (16/06/2011)

O que nos faz diferentes? Aparências enganam, e a imagem é produto alheio. Um olhar de lamento ainda pode amar. O que nos leva ao âmago. Trilha final de cada simples ação. Acreditava que bastava um sentir para nos separar de todo resto. Todo mundo magoa, todo mundo sofre, a dor é inevitável como tudo que se propõe a promessa de sentir. Há lugares aonde não vamos, mas não quer dizer que não se alcance. Iludi-me com princípios, adotei os mais nobres, tratei-os como filhos, bastava almejar o melhor. Todo mundo é vil, todo mundo mente, a mudança é inerente a qualquer pessoa que propõe a caminhar. Só por que a bússola aponta para o norte, não quer dizer que permanecemos na mesma direção. Sobrou-me o sonho. A idealização trabalhada nos detalhes. Cada sorriso, cada abraço, cada palavra a orquestrar um plano, a simular uma felicidade. Todo mundo acorda, todo amor acaba, o fim só existe a partir do começo. Não é porque conseguimos imaginar que resistiremos à realidade.

Nada te salvará de ser, humano.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 16 de junho de 2011

“Deserdo” (16/06/2011)

Tenho palavras
Mas abdico
Não importam suas verdades
Jamais soarão sinceras
Não quero prolongar a dor
Nem me acostumei a ser mágoa
E isso basta
O argumento sempre será vão
Quando perante o sentimento
Entrego-me ao tribunal
Podem julgar o corpo
Esquecer-me num canto escuro
É simplesmente justo que o façam
Não tenho defesas
Chega de apelos e eufemismos
Cansei de discutir o ponto.
Não há nada mais aqui
Que me desculpem as palavras
Mas ficarei com o silêncio

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 13 de junho de 2011

“Príncipe” (07/06/2011)

A coroa é um fardo
Disfarçar sorrisos
Engolir palavras
Sempre estender mão
Abdicar egoísmos
Moderar abraços
Medir palavras
Evitar reações
Decidir pelo outro
Dispor de sacrifícios
Sentir calado
Amar sufocado
Fazer reverências
Apontar o caminho
Não ter destino
Abrir a porta
Beijar o rosto
Deixar passar
Ser cavalheiro nesse mundo
É ser algum tipo de solidão

Ass: Danilo Mendonça Martinho

sexta-feira, 10 de junho de 2011

“Rancor” (02/06/2011)

Amargo um coração
Cheio de passados
A lembrança cética
Tudo que só doeu
Temo teu sabor
Eis o impossível
O que não estou disposto a arriscar

É uma triste realidade
Questiona qualquer sonho
Quem vai levar a ilusão?
Não vai bastar o abraço
Hesitarei até o fim
Vou pedir um tapa na cara
Qualquer coisa sincera
Pois um dia me negaram o possível

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 6 de junho de 2011

“Tudo, se escreve com Tu” (31/05/2011)

O amor é sensível, um suspiro no ar. Um olhar que se alonga para alma. Mesmo reconhecendo-o não posso defini-lo. Ele é algo completo, alheio as palavras e rimas. Amor é um inteiro sem corpo e alma. É um cessar de lágrimas, é curar um vazio. Tudo que te torna todo. É fazer o Sol nascer novamente por de trás de um sorriso. É algo que não pede, nem se quer fala, mas encaixa. Como um par de mãos que se entrelaçam. Ele não quer provas, nem mesmo sacrifícios. Amor é um pedaço que sempre foi seu. Mas não confunda com posse. É músculo involuntário como o coração. Com amor se vive, mas não se controla. Ele soma, agrega, quer mais, te torna grande. É o que você passa a ser, não o que você abandona. Ninguém precisa ceder. O amor te faz segurar a mão. Ele só precisa do encontro para se tornar finalmente um. Único.

O amor é tudo menos concessão.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 2 de junho de 2011

“Esquecer” (01/03/2011)

Já me faltam alguns rostos. Também não posso garantir os momentos. Meu medo é essa certeza de que é possível esquecer. Até mesmo o que hoje é dor custa-me deixar partir. Não há nada nessa vida que se possa agarrar. Caminha-se junto e esta é nossa impressão do “para sempre”. Há tanto que queremos para nós, que as vezes o que nos escapa nem é por maldade. Algumas vezes a risada dá lugar para um beijo, e este para um abraço. Gastamos também muito espaço com os lamentos, mas é fato que são necessários. De pensar que os primeiros anos de vida a gente nem guarda e que da infância ficam memórias que não entendemos por que. Quem autorizou essas trocas, não deveria ser uma escolha minha? É verdade que não se deve viver no passado, mas perdemos tanto o olhar nesse horizonte que mal sobra tempo para lembrar. Nesse meio tempo são tantos sorrisos que se perdem, tantos corações que se distanciam. Tenho medo de acabar com um passado assim: frio, vazio, sem saber reconhecer o que foi meu. Ao mesmo tempo não consigo afastar a consciência de que algo me escapará e que não terei controle do que. Fotografo e guardo momentos. Mas diante do meu quadro não me chegam imagens, apenas essências. Fotos trazem sentimentos e sensações. A imagem é só passagem. Nos colocaram nesse mundo sem manual, sem validade, sem garantias. Tanto o bom quanto o ruim pode me faltar. Diferentes estímulos remetem a momentos aleatórios. E no fim podemos ser uma história que ninguém vai saber contar. Este é nosso risco.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 30 de maio de 2011

“Meu Pecado” (23/05/2011)

Enfadado em teu mistério
Ciente do meu sentir
Vendido à minha ilusão
Sem posse do teu olhar
Peco pela razão

Temo o teu querer
Evito as profundidades
Divido meu coração
Na posse do teu sonho
Peco pela solidão

Aceitei a tua distância
Neguei um reencontro
Desisti de toda dor
Na posse do nosso vazio
Peco pelo amor

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 26 de maio de 2011

“A escolha pela distância” (16/05/2011)

A princípio me parece insensato. Onde o outro não está, não se ama. A saudade pode doer, a palavra pode faltar. É esconder-se atrás da rotina, é não lutar. É deixar sempre para depois o sentir. É proteger o outro protegendo a si, sem ter nenhum dos dois. É fuga, um esquivo, um subterfúgio. A distância não existe é uma coisa que se impõe. O humano sempre é capaz de se fazer inalcançável sem perceber que não viver dói ainda mais. Pra que olhar para o lado? Fingir, disfarçar. Só para manter o sorriso como se fosse isenta de culpa? Escolher a distância me parece simplesmente mesquinho.

Por outro lado a distância é onde o outro não está, onde a palavra se cala, onde pode se esconder, onde se desiste. É evitar o sentir, é proteger-se, é fugir, é impor limites, é não ser afetado, é tentar esquecer. A escolha pela distância pode ser a última alternativa, de quem ainda sente, para deixar de sofrer.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 23 de maio de 2011

“Onde não existe tempo” (15/05/2011)

Aqui não bate vento, não nasce vida, é uma travessia sem alma. O caminho sem tempo faz lá fora ser qualquer lugar. Sinto-me em um deja vu eterno onde todos podemos nos perder. Nesse infinito, nesse canto de mundo, atravessam corpos igualmente estáticos, olhares sem destino. A boca seca, o horizonte se deforma, a palavra esmaece, tudo desiste. Quando entramos em um caminho onde nada se quer o mundo deixa de ter um amanhã.

Um trem que a gente embarca e nem sempre acha volta.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 19 de maio de 2011

“Aprendendo a dizer não” (13/05/2011)

Hoje é um dia triste
Teu colar sumiu do peito
Levou também o brilho do olhar
Tornei-me um fundo preto e branco
Uma presença estática
Esperando ser vencido pela ausência

Minha palavra é um rio que secou
Não podemos mais viver de flores
Se tivesse me negado o amor
Podia evitar arrancá-las pela raiz
Não restou nada entre nós
Somos apenas uma espessa distância

É temeroso não mais te imaginar
É apavorante ter que te calar
Mas o problema maior
É saber que nunca vai parar de doer
Tornou-se impossível outro verso

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 16 de maio de 2011

“Sacrifícios” (01/05/2011)

Beira tudo que é lágrima
E salta para o abismo
Mergulha no véu branco da alma
Salga a boca doce
Inunda todas as palavras
Escorre pelas cicatrizes
Ecoa onde nunca cheguei

A tua queda é o infinito
A dor, todo o viver
Onde meus olhos não visitam
Paira sobre tudo de mais sensível
Jamais será uma posse
És feita de liberdade
Resta apenas, também precipitar-me

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 9 de maio de 2011

“Outro Lugar” (26/04/2011)

A noite cai diferente
Sombreia outros recortes
Revela outros segredos
Há uma realidade para cada passo
Há uma alma para cada espaço
O mundo não precisa ser um vazio
A imensidão é um convite
E só podemos fazer parte
Não importa a linha do horizonte
Ela jamais será um limite

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 5 de maio de 2011

“Cataratas” (25/04/2011)

Uma queda por tua beleza
Um abismo natural
Um degrau sem esperança
A tua morte na beira da vida
A tua força invencível
A tua desconsideração pelo humano
Essa fuga de qualquer lógica
Essa liberdade sem controle
Essa tua alma...
És imensidão sem verso
Como todo sentimento
Um rio a procura de mar.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 2 de maio de 2011

“Sobre os sonhos” (24/04/2011)

Pisei mais uma vez nas nuvens
Aqui onde sempre faz tempo bom
É estranho não precisar de chão
Visitar a morada das estrelas
O homem e seus pretensos limites
Não entendo dominar os céus
Sem o controle da própria alma
Mas devo vir a admitir
Aqui devem estar as respostas
Numa realidade ainda em forma de sonho

Ass: Danilo Mendonça Martinho

domingo, 1 de maio de 2011

Meme Literário

A pedidos

1. Existe um livro que tu lerias e relerias várias vezes?
Talvez "Noites Brancas"


2. Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?

Sim. "O Guarani", mas é impossível.

3. Se escolhesses um livro para ler para o resto da tua vida, qual seria ele?

Nenhum. Nenhuma palavra se basta dessa forma.

4. Que livro gostaria de ter lido, mas que, por algum motivo, nunca leste?
"O diário de Anne Frank", mas adio o comprar esse livro. Outro é "Um, nenhum, cem mil", Pirandello, é um livro que precisa de espírito para ler.

5. Que livro leste cuja 'cena final' jamais conseguiste esquecer?
Nenhum. Me senti estranho agora


6. Tinhas o hábito de ler quando era criança? Se lia, qual era o tipo de leitura?
Só a turma da Mônica, rsrs. A coleção dos Karas se não me engano também é um marco "Droga da obediência" e afins.

7. Qual o livro que achaste 'chato' mas ainda assim o leste até ao fim? Por quê?
"O triste fim de policarpo quaresma", e não foi vestibular, foi vontade própria mesmo.

8. Indica alguns dos teus livros preferidos.

Cidades Invisíveis - Italo Calvino
Noites Brancas - Dostoievski
Sonhos de uma noite de Verão - Shakespeare
Bendito Maldito - Oswaldo Mendes (é biografia do Plínio Marcos, vale a pena)


9. Que livro está a ler neste momento?
"A desobediência civil" - Henry David Thoreau


Ass: Danilo Mendonça Martinho

sexta-feira, 22 de abril de 2011

“O outro lado do Desejo” (12/04/2011)

Nossa mente é uma fábrica de ideais. A maioria deles ligados a uma felicidade desconhecida, um sorriso permanente. A ilusão é tão forte que nos vemos invadidos por sentimentos que não aconteceram. Essas idéias são inevitáveis, plantadas e reproduzidas como um vírus, a imagem de uma vida muito melhor. Um sonho particular que parece estar atrás de toda janela, vivo em diferentes olhares. Nosso inconsciente toma conta e nos coloca em rumos repetidos onde ficamos aquém da nossa própria promessa. Assim nossa felicidade permanece estática, beirando nosso horizonte, resistindo ao nosso pedido para que nasça. O que nem sempre esperamos é que a vida nos escute.

Uma manhã a noticia te invade como a luz do dia. É fácil reconhecer o próprio sonho. A mistura de ansiedade e cautela. Os dissabores que vão dando lugar a tudo que é doce. A mente que abdica de tudo pela hora marcada. O passo ainda em dúvida caminha ao encontro e ali finalmente ao alcance de teus dedos, a prestar atenção em sua palavra, transformando esse mundo em lugar mais crível, tua felicidade. Ali do outro lado de tua alma o sorriso incondicional, a imaginação que funde com a realidade e uma incerteza irracional. O medo de estragar o desejo, questionando se merece tanto, pensando não ser capaz vivê-lo. O sonho é tão bom que parece não ser verdade. É assim que recebemos a felicidade, com descrédito. Como se fosse ela que tivesse que se provar.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 18 de abril de 2011

“Meio termo” (11/04/2011)

Podemos criar planilhas, fazer uma análise de risco. Podemos buscar opiniões de amigos e desconhecidos. Podemos buscar aprovação, debater com as paredes, ensaiar discursos, fundamentar argumentos. Podemos listar os prós e contras, imaginar futuros, basear-se em experiências passadas. Podemos procurar razões, cálculos, uma garantia. Podemos listar desculpas, motivos, teorias. Podemos tentar justificar nossas escolhas.

Mas nada jamais substituirá o sentimento. Ou se quer ou não. Você conhece todas suas respostas, a emoção vive nos extremos. O sentir pode não ser fácil, mas não fica no meio do caminho.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 14 de abril de 2011

“Sem resposta” (06/04/2011)

É a paixão que se declarou
Que transbordava do peito
Que venceu as próprias dúvidas
Que agiu por amor
Que aceitou os riscos
Que entendeu a indecisão
Que não se incomodou com o silêncio
Que se guardou na promessa
Que sobreviveu na distância
Que escondeu as tristezas
Que por vezes se questionou
Que se reafirmou todos os dias
Que só pedia a presença
Que aguardava uma resposta
Que já duvidava do encontro
Que se descobriu ainda maior
Que foi indiferentemente ignorada
Que sufocou-se no âmago
Que lhe foi negada a palavra
Que decidiu encerrar-se
Que não deixará de existir

Sentimento se declara...
Também se leva de volta

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 11 de abril de 2011

“Preço” (05/04/2011)

Cobro caro
Lágrimas
Lamentos
Dores
Pesares
Fins

Cobram-me
Sorrisos
Abraços
Felicidades
Esperanças
Liberdades

Comprei
Ilusões
Verdades
Sonhos
Promessas
Amores

Vendi barato
Beijos
Declarações
Quereres
Princípios
O coração

A escolha é de graça
Mas sem garantias

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 7 de abril de 2011

“Ensaio sobre a solidão” (04/04/2011)




A maior probabilidade é que nada permaneça. Todo desejo se consome, todo sonho acorda, amor também acaba. Por mais que nasçam horizontes a esperança esvaziará quartos e armários até apenas sobrar a luz acesa na varanda. Sei que ninguém será capaz da minha realidade e que a culpa não terá dono. Sentarei a beira da janela por costume, sem mais esperas. Caberá lembranças, mas jamais presenças, o âmago é um lugar de passagem.O que escolher não me deixar apenas fará de minha morada um lugar mais só. Temo e conforto esse futuro de que no fim ninguém possa ficar. Há escolhas que sempre defenderemos sozinhos. Há princípios que não mudam e há uma grande parte que temos que abrir mão. É possível que ninguém entenda minha busca por liberdade, que minha falta de máscaras passe por maldade e que siga o caminho de casa sem companhia. São os riscos de defender uma bandeira, de ser um único a levantá-la. O querer não é algo comum, talvez até seja pessoal demais e não vou abandoná-lo. São as escolhas e sempre serão elas a trilhar o caminho, como não posso garantir as alheias, a solidão fica como certeza.

Quero felicidade e não farei concessões.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 4 de abril de 2011

“Cru” (31/03/2011)

A vida é um quadro que perde a cor
Uma infância que cresce
A inocência que vira dor
Um amor que padece

A vida é uma propriedade sem posse
Um horizonte sem nome
Certezas sem garantias
Uma esperança que morre

A vida é um caminho sem volta
A palavra efêmera
O sentimento que esgota
O sonho que acorda

A vida é
Até te levar isso também

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 31 de março de 2011

“Defesa Final” (25/03/2011)


O outono nasce dentro de mim aconchegando cada sentimento. O frio me toma a pele, busca por companhia, exige o encontro com a alma. A natureza se desfaz das suas barreiras e nos toca no íntimo, forra nosso caminho de belezas, aproxima o horizonte. Caem sobre nós variações de um cinza que não chora, nem lamenta, mas abraça, congela momentos num quadro preto e branco. A vida não é sem cor, ela apenas às vezes a dispensa, prefere o nu, o sensível, o humano. O sol é pontual brilhando sem esquentar, transformando tudo em uma fotografia antiga em tons de sépia, como se essa memória fosse para sempre. Aqui somos nos mínimos detalhes dentro da serenidade dos dias que não arrastam, mas caminham. Como é importante viver cada passo, a vida só vale por completo. O céu fica alternando suas vestimentas brancas e azuis, e sempre construindo imensidões, chegamos aos lugares mais escusos do âmago. É tempo de descobrir nosso próprio universo, seus cantos, seus silêncios, seus espaços. Faço moradia nesse estado que posso chamar de meu, que sempre posso voltar e me fará sobreviver por outras estações. Momentos assim raros, todo viver o é, e percebê-lo desta forma é metade do caminho. Como é bom saber para onde. Esse ar aparentemente inerte dá uma sensação única de direção. Faz do futuro agora. Encho meus pulmões da mais fina esperança, arranjo uma cadeira na varanda, acendo um lampião na entrada e assim espero por qualquer inverno. O outono é um tipo de paz.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 28 de março de 2011

“Garoa” (20/03/2011)

Dorme comigo
Cadenciada e serena
Como a me ninar
Ao te ouvir
Cedo um sorriso
Sei, será breve
Por isso não te nego
Ter é uma ilusão
Entregar-se é comunhão
Somos uma intersecção
De caminhos independentes
A distância não importa
Se os encontros forem completos
Hoje veio me deitar
Abraçar-me em um sonho
Não veio matar saudade
Veio dizer que nunca partiu
Mesmo sem teu gosto
Mesmo sem teu cheiro
Sinto-te a flor da pele
Sussurrando segredos
Procurando por paz
Dou-te toda razão
Tu ponderas minha dor
Entende minha melancolia
Entrega-me outro horizonte
Lenta ou enfurecida
Deixa teu recado
Um verso em silêncio
Aqui sempre te encontro
Em um suspiro

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 24 de março de 2011

“Paradoxo” (17/03/2011)

Não foi teu corte novo
Não foram seus olhos profundos
Não foi teu sorriso pontual
Não foi nosso longo abraço
Não foram as promessas
Não foi te ver partir
Não foi o sufocar do sentimento
Não foi a sensação de adeus
Não foi a perda do sonho
Não foi a consciência do fim
Não foi te amar

O que amarga meu âmago
É minha cama vazia
Que nunca esteve
É sentar na mesa sem companhia
A qual nunca me cedeu
É ouvir o chuveiro escorrer
E saber que jamais foi você
É olhar pelos cantos
E não enxergar uma lembrança
Dói ainda mais perceber
Que para te esquecer...basta acordar.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 21 de março de 2011

“Último final” (14/03/2011)

Lamento informar que somos os mesmos
Nos encontramos no mesmo vazio
Sucumbimos diante a mesma promessa
Dói
Como se fosse a única coisa a sentir
Um âmago que grita por ajuda
Um coração pronto para desistir
Canso
Palavras, gestos e abraços
Futilidades de uma rotina
Como se simplesmente não soubesse
Recuso
Não preciso me sentir assim
Todos amamos com limites
Preciso voltar para dentro dos meus
Acabou
Não quero que deixe esperança
Devolva-me a chave de minha alma
E não me volte com algo menor que o amor

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 17 de março de 2011

“Brilho da Noite” (09/03/2011)

Há quanto tempo não me caia uma estrela. Fazia já meses que a luz se perdia na escuridão, mas hoje me cercaram. Queria poder registrar sua presença para quando minha procura for vã ainda assim te achar. Mas tu é sombra, esconderijo de desejos. Brinca com intensidades, desaparece com sentimentos. Tu és parte misteriosa da noite e mesmo sabendo que tudo pode levar, abri-te os braços. Abdiquei de instantes por teu olhar, para descobrir que senti tua falta. Ah, estrela qualquer que me observa sem palavras, já te conheço e sei que cai sem nomes, mas bem que em algum dia poderia me procurar.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 14 de março de 2011

“Cicatrizes” (03/03/2011)

Não há luz no fim do túnel
Abraço no final do dia
Compreensão no fim do romance

Nem sempre a verdade vence
O coração prevalece sobre a razão
O herói também morre

Todo desejo se apaga
O sentimento se consome
A esperança tem limite

Há dores que ficam
Pessoas que se perdem
O tempo não cura

Não existe promessa eterna
Compromisso sem dúvidas
O amanhã não dá garantias

A sinceridade é um acaso
O irracional uma consciência
Tudo é uma escolha

A distância é uma desculpa
A saudade uma muleta
Quem quer encontra

Fingir não protege
Calar não disfarça
O “não” sempre machuca

Desculpas não amenizam
Arrependimento não mata
Compaixão também é egoísmo

O querer não desaparece
Amizade não substitui
Rejeição é separação

No fim de todo sonho
Existe realidade.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 9 de março de 2011

“Entre a dor e alegria” (07/03/2010)

A noite se aproxima como quem se aproxima do sonho. A gente veste a máscara, constrói a fantasia. A festa começa por dentro. A luz acesa no olhar multiplica em outros rostos, reflete pelas ruas onde brotam esperanças. É tudo que o corpo precisa para abrir os braços, negar os medos, cegar as incertezas. A multidão não pede identidade. Tudo é supérfluo, efêmero e intenso. Não há nada do que se precise, mas muito do que se quer. A vida tem um lapso de infância, gosta e desgosta, usa e já não quer mais, esperneia e faz birra se não consegue. Mas logo esquece, quer voltar a brincar. E no jogo infantil se jogam desejos maduros. O beijo vira romance e o abraço história de amor. Celebra-se o encontro como se fosse único e promete-se liberdade para o amanhã. A festa segue sempre com novos passos e nunca com destino. Se a madrugada te perder será melhor, quando não há tempo não é necessário julgamentos. Se valer a pena seremos memórias, se não basta acordar. A noite não precisa de estrela e a manhã de raiar do sol. O coração serpentina desfeito e o corpo mundano satisfeito, tudo pode acabar.

A dor começa como o amanhecer em cada feixe de luz que vence a fresta. A inevitabilidade do fim. Um conjunto de suspiros lamentam um sonho coletivo particular. Alguns enxergam o martírio das desventuras das fantasias, das máscaras que vem a cair. Outros se prendem aos desenganos e transformam na sua verdade a ilusão. Por um momento parece que sempre que acordarmos será esta quarta-feira. O que fica, o que marca, o que faz disto algo tão especial é esse sentimento, a consciência de que acabou. Há poucas coisas na vida que já se planeja o choro e o luto. A realidade é que o carnaval é feliz por completo, dói por completo e chora até a última lágrima. Há tantos amores inacabados, amizades mal resolvidas, mas o carnaval é o equilíbrio da dor e da alegria. Quem dera a vida fosse sempre assim: um sorriso para cada lágrima.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 3 de março de 2011

“Sarau” (01/03/2011)

Comecei meu discurso
Palavra por palavra
Desfilaram pelo âmago
Caminhavam para o abismo
Sem certeza de uma volta

Despediam-se cordialmente
Levavam suas dores na bagagem
Mas deixaram lembranças
Como quem planta rosas
Viverei com os espinhos

Na completa ausência
Fui embargando a voz
Descobri tarde demais
Que me faltava significado
Até mesmo pro amor

Calei meu último verso
Procurei por um olhar
Todos mergulhados em expectativas
Mas nenhuma reciprocidade
A solidão não pedia palavra

Assim deixei o palco
Sem vaia e sem aplauso
Sem verso e sem rima
Respeitei o silêncio
Do que já não sentia

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

“Tua lembrança” (21/02/2011)

Há um sonho que não me deixa
Ele não se limita as madrugadas
Segue como sombra meus passos
Disfarça-se silenciosamente nos meus suspiros
Tua imagem é mais real que gostaria
O sentimento mais forte que imaginava
Ele me descreve em teus braços
Concede o beijo que me nega
São inúmeras variáveis favoráveis
Nenhuma aceita pela realidade
Mesmo de posse do impossível
Traio minha razão com você
Sem me importar com o sorriso ilusório
Sempre haverá um pedaço de mim
Incapaz de lhe negar o sim
O pedaço que você levou

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

“Unilateral” (16/02/2011)

Cansei de ser a voz que chama
O único corpo que quer
O olhar que sente
Cansei de ser a ponta vazia da história
O poema jogado no lixo
Como se meu gostar fosse menor
Sem merecer um não
Cansei da palavra muda sem respostas
Tenho o meu coração e meu caminho
Tenho meu horizonte e uma verdade
O teu nunca me fez parte
Tudo bem se a campainha não toca
O que nos une não é mais presença
É preocupação de ter que esquecer
Mas até ela, parece somente minha

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

“Viés” (15/02/2011)

Tenho medo
De que o beijo aprisione
A lembrança fique viva
Que só enxergue um futuro

Quando escolhi o nós
Preguei a liberdade
Só esqueci do meu abraço
Poderia não te deixar

Desejo tua felicidade
Longe da minha presença
Não é justo alimentar distâncias
Negando o agora por um encontro

Desconheço nosso resumo
Pela incerteza é que peço
Não façamos pensando em nós
Vamos proteger o intangível

Tenho medo
De que o beijo esmaeça
Em sentimentos exacerbados
Nossa única verdade

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

“Tudo também” (03/02/2011)

Tudo que pensa, esquece
Tudo que sente, sofre
Tudo que diz, se despede
Tudo que ouve, cala
Tudo que cheira, fede
Tudo enxerga, cega
Tudo que sorri, lamenta
Tudo que deseja, mente
Tudo que abraça, parte
Tudo que faz, destrói
Tudo que promete, decepciona
Tudo que caminha, não volta

Tudo que pensa, sonha
Tudo que sente, ama
Tudo que diz, se entrega
Tudo que ouve, compreende
Tudo que cheira, instiga
Tudo que enxerga, salva
Tudo que sorri, acredita
Tudo que deseja, constrói
Tudo que abraça, não solta
Tudo que faz, tenta
Tudo que promete, alimenta
Tudo que caminha, se perde

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

“Poeta Desertor” (02/02/2011)

Um ar pesado me encontra
No fim de cada palavra
O sussurro negligenciado
Consumindo cada linha
Por mais que me desfaça
A sombra ainda permanece
Não há poema sem rastro
Que não carregue omissões
O poeta que aguarda
O revelar dos segredos
A morte da verdade
No respiro de cada verso
Meus pêsames a esperança
Senhora de todas as rimas
Teus filhos a abandonaram
Construindo uma mentira
Aqui onde toda voz é vã
Nascidas já em silêncio
Que também pode sufocar
Não me venda esse olhar
Como se tivesse salvação
Apertei o gatilho
Trouxe a caneta até a mão
Devassei um princípio
Como quem ama quem não quer
Ao esconder o coração
Assinei-te o exílio
Fiz de todo sentimento uma guerra
Entrincheirado neste sótão
Percebi tarde demais
Diante o papel em branco
Quantos corpos hei de enterrar?

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

“Ansiedade” (30/01/2011)

A madrugada me antecipa
Imagens do que desejo
Acordo antes do alarme
Meus olhos querem te ver
É tarde para o coração
A expectativa pulsa
Só resta a realidade
Última instância dos sonhos
Juíza de nossas verdades
Luto para que não me desminta
O beijo cúmplice
O abraço incondicional
A certeza da presença
E sei que posso falhar
O sol já nasce
Trazendo o que não poderemos negar.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

“Hoje não” (07/02/2011)

Embrulhou-me o estômago
As faces que se desfaziam
Olhares que já não pertenciam
De um dia para outro
De um momento para o próximo
A dor que parecia na minha pele
O mundo que caia a nossos pés
O corpo que se sente injusto ao ficar
A alma que não sabe o que dizer ao partir
O dia pesa sobre as cabeças sem exceção
Corações em um mundo que os desconsidera

O sol já podia se pôr
Não restou nem sombra de vida
Somos olhos sem direção e propósito
Perplexos pela realidade que se repete
Sufocados pela fala amarga
Ninguém devia sentir isso
Nem mesmo uma segunda-feira
E se é que podemos pensar em algo
É o amanhã

Ass: Danilo Mendonça Martinho

Hoje, infelizmente grandes profissionais e colegas da Rádio e Tv Cultura(SP) foram dispensados. Ninguém ganha nessa história e a dor é geral. Minha mais profunda sorte para eles.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

“Antes do chão”(27/01/2011)

Descobri que é muito fácil ficar nesta beira, construir-se como mártir. É fácil olhar essa paisagem de belezas poéticas e ideais românticos. Que este momento não passa de uma promessa que ninguém está disposto a cumprir. A vida é maravilhosa quando sonho e apavorante como realidade. Queremos que alguém nos convença de que não é necessário o sacrifício, queremos posar como algum último cavalheiro. Paramos a beira do precipício pelos motivos errados. Usamos nobres sentimentos sem o menor escrúpulo. Defendemos valores pelos quais jamais lutaríamos. A idéia aqui nesta beira é maravilhosa, mas ninguém sabe o que é sobreviver uma queda. O salto é solitário e pessoal. Uma escolha egoísta que se faz para se mostrar como algo melhor. Mas há verdades demais pelo caminho e uma grande realidade final. Não há altruísmo, ninguém se joga por outro, e só teu corpo que cai. Tua alma que sente as lembranças, as distâncias e o que abandonou. O discurso pode ser lindo envolvido no romance de outro século, mas os gestos dessa humanidade falha são em falso. Não conheço ninguém que tenha ido até o fim. Há muita diferença entre o que se vê daqui, e o que se sente.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

“Vicissitudes” (26/01/2011)

A vida é simples
Como cheiro de chuva no asfalto
Como cheiro de grama cortada no jardim
Este raiar de Sol tardio
Essa esperança embutida na solidão
Não chega nem a ser palavra
Se sustenta no toque da pele
Nos desejos dos corpos
Suspira de um olhar a outro
Completa-se no abraço

A vida é sutil
Pequenas e breves felicidades
Intensos e findos romances
Entranhas de um dia
Sonhos de uma noite
Segredos escondidos no horizonte
Verdades escancaradas no peito
Um pedaço de lembrança
Um outro a se construir.

A vida é tudo
As aflições de uma alma
O disparar de um coração
O despedaçar de lágrimas
Arriscar o que não se tem
Tudo que se sente
Tudo que acaba

Ass: Danilo Mendonça Martinho

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

“Um último” (25/01/2011)

Há um suspiro na escuridão
Resquícios de um sentimento
O inevitável encontro com o fim
O gosto gasto do desgosto
Um coração batendo em falso
Contraindo pedaços de dor
As certezas do inexistente
Mas nem tudo é ilusão
O choro exausto
O olhar perdido
A palavra calada
São motivos de esperança
Teu corpo sangra
Há quem ainda sinta

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

“Beijo” (18/01/2011)

Quero fechar os olhos
Quero teus lábios
Na ponta dos meus
Um movimento irreversível
Uma desistência mútua
Uma paixão única
Quero lhe tirar do mundo
Transformar-te em universo
Questionar a realidade
Abusar da tua imaginação
Quero furtar teu tempo
Desconsiderar teus passados
Com a mão pela nuca
Tomar-te a memória
Quero violar os segredos
Apresentar-lhe a alma
Desconstruir os conceitos
Despir-te dos sonhos
Fazer-te pertencer aos meus braços
E se for incapaz de tudo
Não valerá a pena abrir os olhos

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

“Visita” (17/01/2011)

Juro, me chamou. Pelo apelido como outras vezes. Fazia tempo que não olhava para trás. Penso que talvez tenha me esquecido demais dentro de mim, sorrisos que não consigo mais achar. Busquei por você sem procurar o passado, apenas a verdade. Uma senhora descia a escada rolante e mais ninguém, nem ali, nem na outra entrada. Insisti por alguns segundos acreditando que logo te reconheceria por trás de algum corpo. Quando continuei meu caminho a voz continuou, mas conclui que minha mente me pregava peças, que não era meu o chamado.

Foi tão natural virar e procurar-te, como se fosse um aviso para cuidar da tua memória. Amedronta-me tudo que posso esquecer. Cicatrizes das quais não vou saber dizer onde cai. Pondero meu caminho e suas negligências inevitáveis, lamento o que neguei e as palavras que calei, mesmo assim foi nestes passos que me construí e se hoje olhei para trás sem medo ou remorsos, é porque encontrei paz. Não espero que aceite, mas entenda. Quem sabe em algum momento ainda existiremos. Hoje, embarquei no trem completamente só, com a certeza de já não pertencer a nós.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

sábado, 22 de janeiro de 2011

“Novo século” (16/01/2011)

Recomecei meu horizonte
Refiz o degrade avermelhado
Coloquei o Sol de canto
Algumas nuvens esparsas
Sombreei os contornos
Deixei frestas de imaginação
Abri um sorriso
Respirei mais fundo
Está tudo pronto
Podemos começar de novo
Vai ser um prazer construir-te
Vestida de romance
Desfeita na dor
Com silêncios pontuais
Precisamos levantar um novo dia
Há sonhos que não nasceram
E uma alegria discreta
Esperando o raiar da poesia

É um novo tempo
Ainda sem registro
São novas linhas
Onde cabe o impossível

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

“Arquivado” (14/01/2011)

Era tarde e escrevia sem perceber, no passado. As palavras deslocadas de seu tempo se comportaram como sempre, apenas sua essência parecia diferente. Perto do fim e de posse de alguma consciência ,virei a página. Salvei, provavelmente pela última vez, o arquivo de 2010. Tornou-se mais um elemento desse cemitério vivo que desde 2004 amontoam-se palavras. As vezes por lá vasculho e até me reconheço, mas jamais me encontro. A vida só cabe no agora, e hoje estou diante essa imensidão que não sei como preencher, muito menos como começar.

Arquivado só me resta esse passo a frente, essa ladeira abaixo. O mais difícil deste primeiro passo é assumir esquecer-se.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

“Enquanto não acordo” (13/01/2011)

Abri a janela
Procurei tuas novidades
O horizonte ainda é sonho?
A chuva ainda lamenta?
A poesia permanece sem eco?

Mas voltei sem respostas
Venderam-me uma nova era
Uma esperança direto da fábrica
Duas verdades prontas
Um desejo pré-aquecido

Algo ainda nos foge
São vicissitudes de nossa pele
Detalhes dos teus olhos
Assuntos que preferimos calar
Corações que decidem abdicar

Queria que fosse a primeira vez
Onde tudo parecesse possível
Mas não, eu carrego passados
E se podemos ver um bom motivo
É a lembrança de sermos melhores
Ainda podemos ser impossíveis.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

“Acostumar” (12/01/2011)

Não há nada nessa vida com o que não se acostume, mas é um erro não lutar. Podemos fielmente acreditar que não somos mais que isso, que tudo que acontece seja para o melhor, que as coisas são o que devem ser. Mas honestamente me incomoda este mundo sem saída. Aceitar toda negação, não resistir aos desvios do caminho. Me incomoda, aos poucos, tirarem a vida de nossas mãos. A única coisa por direito que nos faz humanos: a escolha. Sofro ao imaginar que vamos nos acostumar com a miséria de nossas almas e a violência contra nossos corpos; que vamos abaixar a cabeça diante as intempéries do futuro; e simplesmente abandonar nossos sonhos, pelos erros de um passado que não é nosso. Nego assistir a vida passar, nego ser engolido pelo que chamam de “destino”. Somos maiores do que isso, somos livres!

Quando a realidade já não te surpreende, algo em ti já morreu.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

“Coração Nublado” (11/01/2011)

2011 não passou um dia sem ti
Te sinto mesmo sem estar
Tento muitas vezes te ouvir
Mas permanece suspirando
O que já não é mais lamento

Quero o sorriso de nós dois
Aquele que mistura sonho e desejo
A liberdade de braços abertos
Como se pudesse me levar
Esquecer o que não posso sentir

Só hoje reparei na tua presença
Estava ignorando teu presságio
Respirei teu cheiro na escuridão
Era tua existência dentro de mim
Algo que jamais me pertenceu

O que somos se não essências
Breves imaginações incompletas
Sujeitas a interpretações
Nesta humanidade parcial
Já fizemos nossa escolha

Mergulho na tua verdade
Me afogue ou me leve
Abro-te todo dia a porta
Mas continua a entrar tempestade
Até que essa paixão me transborde

Aos poucos você cessa
Sem certeza que irá voltar
Vejo tua saudade no relâmpago
A primeira gota de nostalgia
E teu porquê chove em mistério.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

“Precipício” (27/12/2010)

Esse telefone que não toca
Esse ponteiro que não mexe
Essa solidão intacta

Escondo-me nas vísceras
Não quero ceder as ilusões
Atirar-me em indiferenças

Toda espera é uma prova
Todo romance é um risco
Toda esperança um fardo

Meu tempo me engana
Minhas noções te confundem
Minhas verdades mentem

Penso agora em limites
Como se pudesse enquadrar
Como se pudesse esquecer

Resumi a um talvez
Uma indevida felicidade
Sem data e hora marcada

Estou em silêncio
Esperando que o teu me diga
Como iremos calar

Estamos à beira de nós.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Reveillon de uma alma" (02/01/2010)

Olhei no céu profundo de seus olhos
Encontrei os reflexos de um romance
Nossos corpos finalmente entregues
A vida ganhava novos contornos
A noite explodia de cores e desejos
Escondíamos o nosso na escuridão
Tateavamos o breu de nossas almas
Traduzíamos nosso universo em sensações
Resumidos a uma única paixão

Não importa o quanto me chamem
Continuo a dormir aquela noite
Teu gosto impregnado na minha boca
A vívida memória de tua sombra
Atormenta-me a idéia de perder-te
O dia veio nascer embora bossa recusa
Lutamos sem armas contra a partida
Deixamos ao coração uma promessa
No horizonte restou uma estrela
Perdida para sempre em teu olhar

Ass: Danilo Mendonça Martinho