terça-feira, 31 de outubro de 2017

“Crônico” (30/10/2017)

Me embrulha o estômago
Talvez sejam pedras no rim
Ou tumor na garganta

A palavra não sai
A vida está no meio do caminho
Entupindo as veias dentro de mim

Não há cura para indecisão
A escolha é curativo
Quantas gotas até a alma?

Falaram que o amargo é angústia
Todo resto vem da solidão
Passo mal como passa o tempo

A surdez é seletiva
Só ouve crítica
Distorce a visão

Até dói, mas é indiferença
Músculos voluntariamente parados
Inspira esperança, exala espera

Sentimento é sintoma
E o que ninguém quer aceitar
A vida é crônica

Ass: Danilo Mendonça Martinho

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

“Nuvens Escuras” (20/10/2017)

A tempestade é um bom sinal
Dá um novo sentido ao que temos
A nau bem construída
O guarda-chuva na mochila
A imperfeição que admitimos

Agora que o medo levanta ondas
Que as dúvidas inundaram certezas
Temos âncora, temos raiz, temos abraço
Em nós encontramos abrigo
No amor que dá sentido

Assoviarão muitos ventos
Vai balançar até enjoar
O plano pode vir a falhar
Mas terminaremos como cúmplices
Jamais deixaremos de tentar

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

“O três e o um” (17/10/2017)

O um que vem depois do zero não se compara com o nove que veio antes. Ao mesmo tempo o passado solidificado nesses números não te preparam para o abismo adiante. São bobagens de um escritor, são aflições humanas, são conceitos sociais, é a idade. A perspectiva da falta de conhecimento, falta de controle, distância do sonho. Meu suspiro é pouco, minha alma é profunda, por isso meu silêncio. As frestas entre esses números ainda precisam ser preenchidas. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

sábado, 21 de outubro de 2017

“Final de Filme”(16/10/2017)

A vida não é feita de finais felizes. Ela é uma contínua montanha-russa cheia de picos e vales. Sempre tem o depois do agora. E quando não tiver, ambos não farão diferença. Então depois dessa felicidade plena temos alguma dor, e tão importante quanto aproveitar cada segundo destes sorrisos, é lembrar que a tristeza não será eterna. 

Final feliz é coisa de filme. Já vi uma boa cota de filmes românticos. Alguns mais idealizados, alguns mais reais, outros extremamente crus. Em todos podemos identificar algo que passamos, principalmente nas tristezas, nas rejeições, no amargo das palavras. É impressionante como uma ficção pode nos representar tão bem, pode imitar a realidade nos seus detalhes mais íntimos, como se tivesse sido feito sob medida. As mágoas são mais abundantes e fáceis de encontrar reflexo. Só que pensando nisso, pensando em tudo que nos identificamos em um filme e como os escritores sempre trazem a realidade para o plano da imaginação, passo a acreditar que é possível. O fim é mais raro, mas não menos real. Se é possível uma dor de cinema, é possível um amor que vai além dos créditos finais. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

“Sóbrio” (04/10/2017)

Tenho medo das minhas esperanças. Elas me machucaram demais por diversas vezes. Boa parte, sem dúvida, dependeu do amor, mas não foi só isso. O meu ceticismo vem do cansaço. Foi muito sorriso em vão, foi muita fé na certeza que se dissolveu. Teve céu e inferno separado por segundos. Teve silêncio, teve não, teve jogos com requintes de maldade. Sem falar na maior parte da esperança, a espera. Parece que ela me deixou aqui e toda vez que me sugerem seguir é por uma janela e não uma porta. Só assisto passar. São sonhos lindos, com tempo até mesmo imperfeitos, mas que encantam, comovem, enchem o coração e me preocupam. Passaram muitas chances e não sai do lugar. Não teve brecha pela qual não tenha tentado escapar, chegando sempre mais perto e mesmo assim longe demais. Engraçado como o doce enjoa e o amargo acostuma. Lágrimas, suspiros, indiferença. Tudo só adia e a gente insiste quase sem vontade, apenas por saber que não existe outra maneira de chegar. Não tinha ideia do tamanho dessa pedra do caminho. Até que ontem me abriram mais duas janelas, me preparei no automático, então uma alegria me abraçou comemorando a oportunidade e eu, mesmo sem espelho, vi e senti minha face plana, sem destaques, sem relevos. Uma expressão que poderia se confundir com nervosismo, cautela, mas que eu sabia que era ausência dela, era o sonho inundado pela razão. Gostei, foi o que pensei. Gostei da ausência da ansiedade e do mar de imagens invadindo a mente. Teve um susto, mas fez sentido, porque agora seria diferente? Recuso outra ferida, recuso acreditar antes do fim. Posso me enganar, pois me colocar indiferente é a esperança que agindo de forma oposta as coisas possam dar certo. Mas faço isso também pela fatiga, pelo limite do espírito de quebrar. Não tinha percebido esse desgosto, só que não posso negar que o sinto necessário. Quando me sobem ideias eu fecho a cara. Espanto a esperança e a dor que pode acompanhar. Não me nego tentar, só que vou precisar muito mais para voltar a sorrir. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

“Insolúvel”(14/09/2017)

Eu adoraria dizer que sim
Que encontrei solução
Que me trouxe paz

Meu olhos podem contar mais
Minhas memórias são felizes
A expectativa foi errada

A gente esquece de ser
No meio desse negócio de procurar
A gente não sente o sabor
Sem se deixar levar

Eu sou um traçador de planos
Em uma vida sem programação
Na cidade onde chove e faz Sol

Queria um mero propósito
Queria me dar sentido
Queria uma bússola de sonhos

As escolhas vivem na liberdade
Além dos limites desenhados
A verdade reside no inconsciente
Na espera que possa aceitá-la

A vida não é só reagir
A vida não é só planejar
É um agora misturado com depois

É preciso dividir céu e maré
Manter o desejo em vista
Sem tirar o olho do que pode chegar

Eu não posso dizer que sim
Mas posso apontar o começo
Cada um tem um caminho para sair
O meu é o verso

Ass: Danilo Mendonça Martinho

terça-feira, 17 de outubro de 2017

“Perdão” (06/08/2017)

Saiba meu amor que estou perdido quando teus olhos não encontram os meus, cabisbaixo em minhas próprias frustrações. Se tem algo que pode mudar é me dar mais teu colo e teu carinho, o eterno abrigo que protege meus sonhos adiados. Não me imagino possível longe do nosso lar, preciso de alguém que acredita em mim, que me aceita nas imperfeições, que me leva adiante. Estou tão longe de saber ao certo o que quero para minha vida, mas você meu bem, é o caminho. Eu que tanto prezo pelas palavras devo tomar cuidado para não esquecê-las em silêncio ou afiá-las na língua. Não me deixe fazer duvidar, você já é tudo que preciso. O choro é só um reequilíbrio, a vontade de ser melhor. Saiba meu amor que o que mais prezo são esses nós, os que construímos juntos, essa corda que não escapa. Meu começo e meu fim são teus braços. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

“Fadiga” (06/07/2018)

Algumas vezes cansa
Dá vontade de não querer
Deixar a correnteza levar
Usar a mente para esquecer
Decidir que tudo tanto faz
Ser comum a ponto de se perder
Largar o corpo no sofá
Se imaginar nos heróis da TV
Deixar a louça para amanhã
Ficar de pijama até feder
Pedir comida para entregar
Dormir quando te lembram o que fazer
Sentir o coração amargurar
Assistir o amor se desfazer
No infinito de um tempo não se preocupar
A liberdade de não reconhecer

Será que inertes o suficiente
Diminuídos e encolhidos
No escuro de um quarto
Escapamos de algo?
Estaremos protegidos de quê?

É que algumas vezes, simplesmente cansa

Ass: Danilo Mendonça Martinho