quinta-feira, 2 de junho de 2011

“Esquecer” (01/03/2011)

Já me faltam alguns rostos. Também não posso garantir os momentos. Meu medo é essa certeza de que é possível esquecer. Até mesmo o que hoje é dor custa-me deixar partir. Não há nada nessa vida que se possa agarrar. Caminha-se junto e esta é nossa impressão do “para sempre”. Há tanto que queremos para nós, que as vezes o que nos escapa nem é por maldade. Algumas vezes a risada dá lugar para um beijo, e este para um abraço. Gastamos também muito espaço com os lamentos, mas é fato que são necessários. De pensar que os primeiros anos de vida a gente nem guarda e que da infância ficam memórias que não entendemos por que. Quem autorizou essas trocas, não deveria ser uma escolha minha? É verdade que não se deve viver no passado, mas perdemos tanto o olhar nesse horizonte que mal sobra tempo para lembrar. Nesse meio tempo são tantos sorrisos que se perdem, tantos corações que se distanciam. Tenho medo de acabar com um passado assim: frio, vazio, sem saber reconhecer o que foi meu. Ao mesmo tempo não consigo afastar a consciência de que algo me escapará e que não terei controle do que. Fotografo e guardo momentos. Mas diante do meu quadro não me chegam imagens, apenas essências. Fotos trazem sentimentos e sensações. A imagem é só passagem. Nos colocaram nesse mundo sem manual, sem validade, sem garantias. Tanto o bom quanto o ruim pode me faltar. Diferentes estímulos remetem a momentos aleatórios. E no fim podemos ser uma história que ninguém vai saber contar. Este é nosso risco.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

6 comentários:

  1. É interessante a tua opinião sobre certos assuntos. Diferente e bem colocada. Argumentada. Apesar de eu não concordar. Porém, é bom saber o que outros pensam a respeito, pois, sendo assim, continuo com a certeza sobre o que eu penso.

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  2. Talvez por isso a arte seja uma maneira de mantermo-nos vivos, sermos parte de algo que ficará mesmo após nossa passagem.
    Abraço de paz.

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  3. Recordações nos trazem aqui, agora.

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  4. Por isso temos o dom de eternizar o que vale à pena e esquecer o que não vale, para trazer a melhor fotografia: emoldurada por lembranças, sensações e sentimentos que fazem parte e são parte de nós.

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  5. Esquecer as vezes é benção, outras maldição, depende da importância que daremos ao registro.

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  6. Não há nada nessa vida que se possa agarrar.

    certamente!


    Tudo é lembrança e como dói ser assim não é? Manifesto desapego mas vez enquando flutuo em lembranças que causam um sofrer danado! Choro, durmo, acordo e esqueço. Pra depois lembrar e etc e tal...


    Um beijo!

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