segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

"Sexta Passada" (20/01/2012)

Sexta-feira minha amiga
Acordaste-me num século distante
Onde os cavalheiros e damas
Cortejavam-se por cartas
Sou uma noticia que tarda
Ainda a vencer a estrada
Meu papel a esmaecer nas intempéries
A palavra a resistir pelo destino
Quantos passos ainda nessa eternidade?
Em que vale tu me escondes?
O sol voltou a se por longe
Acreditei em você em última instância
Conceder-me-ia o encontro anunciado
Mas me fará desbravar-te inteira
Empunharei minha espada por ti
De você sexta arcaica
Espero que me leve de volta
Aos braços que jamais de partiram

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

“Cangote” (19/01/2012)

Faço morada junto aos cabelos mais rentes
Respiro pele sem essências artificiais
Aqui meu corpo encontrou encaixe
Na cabeceira dos teus sonhos
Vejo as colinas até teus lábios
A planície até teus seios
Mapeio teus jeitos no olhar
Sinto todas as suas expressões
Minha mão corre suave
Envolve a cintura e descansa
A posse se entrelaça nos dedos
A alma liberta-se no amor
Aninho-me nesta penumbra
Enquanto ainda não somos amanhã
Moro em um pedaço do eterno

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

“Duas Unidades” (18/01/2012)

Eu criei um sentimento dentro de mim. Destes que a gente não cria para si. Alimenta, dá carinho, idealiza nos mínimos detalhes. É fato que o tamanho é apenas uma estimativa, é preciso colocá-lo no mundo e ver até onde. Acreditamos e esta é a primeira semente. A dúvida é sempre se acreditaremos sozinhos. Tem planta que só germina a dois. Guardado dentro de mim estava isto que ainda não tinha sentido. Alegre, completo, recíproco, sincero, disposto. Era raro demais meu querer, confesso. Mesmo assim não somos nada sem nossas escolhas. Passei por ilusões, sentimentos que não voltaram, até mesmo forcei-me a acreditar que seria possível ter, sem ver ou tocar. Tudo me venceu. Permanecia comigo a chance e nada mais. Caminhei por muitas outras almas e algo além do que a palavra traduz me chamou para perto de quem hoje rega a mesma roseira que eu. Diferente de tudo que poderia esperar, a semente vingou e cresceu por lugares ainda mais profundos, e o melhor, não nasceu só em mim.

São complicados estes sentimentos que se cria para os outros, que se enfeita e veste a espera que em alguém também sirva. Tudo baseado numa concepção, sem garantias da realidade. Sim, pode ser vão, podemos ter que recomeçar, é um desejo ao acaso, uma tentativa que nem sempre cicatriza. Insistimos por nós, e tudo que criamos é por si, um pedaço que seja. Há muitos horizontes para nascer até a estação certa. Não me peça por certezas, tudo pode vingar nesta vida com as condições favoráveis.

Eu senti, e seguia ouvindo o que sentia, até que um dia me disseste: “gosto tanto quanto”. Foi a primeira vez que tive a noção do tamanho do amor por mim. Não sei o que pode dar certo, basta-me a medida do coração.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

“Sintomas do Amor” (17/01/2012)

A brisa é de ar quente na nuca
O horizonte recorta uma silhueta
Dedos deslizam como gelo na pele
Um aninha-se no peito
Outro encontra abrigo nos cabelos

A manhã que brilha em outro corpo
A proximidade embaralha a vista
O rosto que reflete na vida
Um abraço que completa
Um beijo que não quer acabar

O sonho que não acorda
As cartas que encontram destino
O olhar que não se desvia
Um corpo que deita na cama
Outro que deita ao lado

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

“Ensaio sobre o perdão”

Dote dos grandes
Dom dos raros
Humanidade em gestos
Teu coração cabe?

Aprender a ser dor
Tirar o pedaço que não é teu
Fazer paz de feridas
Viver do retalho
Dar abrigo as sobras
Será que satisfaz?

Diante teu opressor
Apagada a ilusão do sonho
Servido o cru dos corpos
Abre-se mão do querer?
Ou dissipa-se o interesse?

Penso que perdôo
Pelas virtudes que vencem
Mas não posso fechar os olhos
A tudo que não me importa
A culpa e o rancor
São laços de união
E a ausência do perdão
O que te mantém no aqui

Ass: Danilo Mendonça Martinho

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

“Amor Desengano” (07/01/2012)

São as flores no jardim
Os contornos do sonho
A entrelinha da poesia
O desejo inconsciente
A imagem idealizada
Uma esperança no horizonte
Um desencontro constante
Tem cheiro da brisa do mar
Monta um cavalo alado
Deixa presentes na varanda
Confunde-se com o vento
Levanta a saia
Preenche a alma
Põe teus pés no chão
Cega-se por tua beleza
Declara ao pé da porta
Discursa ao pé do ouvido
Releva teus medos
Conhece todo seu gosto
Surpreende todos os dias
Enfeita teu caminho
Adorna teus cabelos
Não solta tua mão
Abraça sem amanhã
Não pede nada mais
Basta-se no olhar
Vive do sorriso
Projeta tudo para o infinito
É uma construção abstrata
O amor...são várias ilusões
Antes de ser realidade.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

“Paixonite” (03/01/2012)

Há um poema dentro de mim. Destes de marejar os olhos, de sentir orgulho. Só pode ser um poema de amor. Detalhando os caminhos pelas cicatrizes e encontrando algo desacreditado, um sonho sem visitas, tua verdade mais bem protegida. O poema mistura versos e prosa despreocupado de rimas e intenso na escolha das palavras. Sim, falará dos beijos molhados e dos corpos livres. Mas também vai lembrar da primeira carta guardada no criado mudo, próximo da nossa fé. Vai lembrar do olhar debaixo da chuva. Provavelmente descreverá a beleza de um ponto de vista totalmente parcial. Ele carrega a minha palavra mais preciosa e um ponto final elegante. Completa os sentidos que deixei pelo caminho, refaz meus passos por tudo que aprendi, abre os braços para tudo que não sei. Será uma composição que não saberei reproduzir, única, de forma bruta e deverá permanecer em palavra. Um poema que sussurra, mas não quer sair. Está a espreita de um raiar de Sol mais adequado. Ele é muito natural, mistura estrelas e flores com sentimentos. Quase tem cheiro. É um horizonte preenchido, uma paz conquistada, uma rima com o “você”.

Estou perdidamente apaixonado por tudo que ainda é silêncio.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

“Omissão” (03/01/2012)

Você é minha palavra em silêncio
Não conheço significado
Foge toda vez que tento
Temo que nunca volte
Mesmo assim me rodeia
Não quer virar esquecimento
O mundo jamais te assustou
Muito menos os julgamentos
A liberdade te prende
O que fará longe do coração?
Sabe muito bem teu propósito
Descobriu, talvez cedo demais
Nasceste amor...
Nada te calará

Ass: Danilo Mendonça Martinho