segunda-feira, 25 de agosto de 2014

“Indiferença Urbana” (12/08/2014)

Garoinha fina que não enche represa
Prédios acinzentados que tem coração
Cidade da multidão vazia
Sinto que chora sem colo que te acolha

É mais frio dentro do que fora
O asfalto cobre mas não esquenta
A cortina branca abre e o Sol é fraco
As pessoas te ignoram

Você vela solitária tuas tragédias
A natureza entende o que o humano falha
E no fundo da madrugada gelada
O corpo tem uma ideia, mas não a alma

Se desfazerá em migalhas de concreto
Enxurradas espalharão os seus lixos
Fumaça entupirá suas veias
Enfartaremos em algum horário de pico

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

“Enquanto não chego” (07/08/2014)

Dorme agora meu bem
Teu amor já está em casa
No pé do teu ouvido
Sussurrando o amor que não lhe cabe
Se você pudesse ouvir entenderia
O espaço que você preenche em mim
Você é todo meu futuro

Já passa da meia-noite meu bem
Por hora a torneira da pia pinga
Meu pai ronca em seu quarto
Meus olhos pesam nesta folha de papel
As marcas da espera
Por um amanhã mais próximo de nós
É como se estivesse no meu passado
Vivendo o que já não sou

Você faz falta meu bem
Porque faz festa
Faz colo, faz cafuné
Faz felicidade e torta de limão
Faz eu dar risada e me faz sonhar
Faz de mim alguém melhor
Faz tanto que fazer falta faz parte
Você nunca me deixa
É pedaço que a alma absorveu

Sonha meu bem
Que não demoro e te encontro
Sei o que queremos
Sei que acordaremos neste dia
Sei que será breve pelo tempo
Sei que será longo pelo sentimento
Mas por enquanto dorme
Que eu zelo um pouco mais
O sentimento que chamamos de lar

Ass: Danilo Mendonça Martinho

terça-feira, 12 de agosto de 2014

“Trabalho” (06/08/2014)

Como é difícil não reconhecer um rosto
Nem estou falando de um amigo
Alguém que não te olhe torto
Alguém que tenha um sorriso sincero
Um porto onde exista algum espaço para ser livre
Um olhar que não saiba seu sobrenome,
Mas esteja disposto a escutar
A obrigação, o desafio, o crescimento,
Não surtem efeito diante o mal estar da alma
Eles resistem por um bem que desconhecem
O que fazer quando só sobra espaço para sobreviver?
Não quero mais favores
Chega de estar nos comentários alheios
Ser peso, ser pedaço, ser carregado
Prefiro ser apenas só

O olhar sem confiança
A companhia sem laços
O fim do dia que tudo leva,
Sem nada para esperar do amanhã
É um deserto de sentimentos
Onde qualquer verdade revelada já gera arrependimento
Andar eternamente no limite entre ser e parecer
Talvez a falha seja minha,
Não saber viver só o burocrático
O profissional sem o humano

Queria contar qualquer bobagem
Queria contar que não estou conseguindo ser completo aqui
Me desculpar por ser ingrato diante a chance
Mas também poder ser livre de sentir
Encontrar um jeito de respirar que não seja pela palavra
Encontrar vida mesmo que não seja no outro.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

“Nicotina poética” (29/07/2014)

Eu trago palavras, mas não há doses recomendáveis de sentimentos, nem estudos que comprovem qualquer nocividade ao corpo. Só se sabe que age direto no coração, quando não no subconsciente da alma. Palavras se espalham rapidamente e logo ficam até mesmo no silêncio, palavras de vida e de morte. Palavras tendem aos extremos e não medem consequências. Talvez fosse natural esperar a consciência no seu uso, só que bem sabemos que seu uso é indiscriminado, sem regras ou fiscalização. O limite é quem fala mais alto, mais forte, ou até mesmo fere. 

A primeira palavra é doce, mas é quando ela amarga que te conquista. O gosto do talvez, do porque, do amanhã, do ainda pode ser. Perdidos neste emaranhado completamos a lacuna entre a realidade e o sonho. A forma mais fácil de se iludir é com aquilo que nós próprios criamos. Sabemos todos os detalhes necessários para tornar algo crível. E na frente do espelho, debaixo do travesseiro, no telefone com o amigo, repetimos as mesmas palavras, todos os dias em um ciclo que só pode ser vício. 

Aceitar seu problemas pode ser o primeiro passo para resolvê-lo, mas não nesse caso. Saber não te cala. Há um vocabulário inteiro com o qual podemos fazer mudanças sem alterar o significado. O sub é o mais consciente de nós. Mesmo que se liberte, o poder de controle sobre a palavra será seu caminho sem volta. Manipular teu próprio desejo, plantar ideias inquietantes nos dos outros, dizer não apenas por dizer. Viciado na palavra e em todos os seus silêncios. É embriagante e confesso....eu trago palavras todos os dias. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho