segunda-feira, 28 de março de 2016

“Mapa” (10/03/2016)

Minha esposa estava com dificuldade
De encontrar o endereço do céu
Sugeri a ela que ligasse para felicidade
Também pegasse emprestado aquela receita de mel
A vida pode ser uma fantasia vestida de realidade

Fiquei imaginando o GPS recalculando a rota
Pedindo para voltar duas vidas passadas
São 10 anos até o próximo caminho de volta
E a vida toda congestionada

Ela me disse que é para lá de São Mateus
Se tem santo no nome deve estar perto
Meu amor me jure por deus
Chegando por lá me vai garantir um teto
Que fique tudo pronto para aquele adeus

Não vai ter jeito
Vamos ter que pedir por direção
Alguém me disse para seguir dentro do peito
Foi a paz que me encontrou no coração

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 21 de março de 2016

“Os olhos gentis” (04/03/2016)

O olhar gentil levantou e esfregou-se o máximo que pode para enxergar o dia. Embora tarde permanecia escuro, era uma grande chuva cinzenta que o acordava. Então o olhar gentil estendeu a mão, sentiu seu gosto, sentiu seu cheiro, recebeu a chuva de braços abertos como fosse um dia de Sol. Com paciência ferveram a água e um pouco perdido no tempo assistiram a bolacha se desfazer em mil pedaços no fundo da xícara. Os olhos gentis não trataram nada naquela da manhã como um desastre, era muito cedo para desistir, e no fundo do chá encontraram a possibilidade do novo, do improvável e deram um gole na esperança. Saíram de casa sem o sufixo e ficaram na espera......do sonho, do amigo, do abraço, do desejo, da mudança, da vontade, do destino e do ônibus. Tudo que se espera demora um pouco mais e os carros começaram a jogar água para calçada. Com os pés molhados o olhar gentil titubeou, mas escondia preocupações mais profundas e não havia espaço para rancores. Deu sinal, a vida parou, subiu e seguiu. Toda vez que se caminha pode ser para qualquer lugar, mas invariavelmente só partimos com lugar certo, que com muita sorte pode coincidir com o que queremos. O solhos gentis pairavam sobre aquele mesmo lugar que viram milhares de vezes antes sem jamais pesar a rotina, a nostalgia de tudo que já não era, a alegria esmaecida em paredes sem cor, memórias de um corredor vazio, um agora tão inerte quanto o passado. Não fosse a lágrima iluminar o caminho, desfocar e colorir a realidade, os olhos gentis não teriam seguido mais nenhum passo. Encontrou um sorriso para abrir a porta, cumprimentar os amigos e até mesmo acreditar que poderia ser diferente. Como antes o cansaço se abateu sobre o olhar gentil, corpo e alma entraram em um acordo, e ele por um momento se fechou imaginando ser a última vez que deixava aquilo para trás. Na volta para casa observou inúmeras vidas na falsa percepção de felicidade. Tudo por aqui somente parece até realmente abrir os olhos. Por isso aquele par era gentil com a ilusão, era melhor enquanto durasse. Na casa vazia, no silêncio da mente, o olhar guardou um último esforço, no fundo do espelho enxergou a chama, gravou na memória e descansou. Consigo a certeza de que o sonho poderia acordá-lo novamente. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 14 de março de 2016

“A distância deste agora” (17/02/2016)

Há mais tempo do que realmente possa lembrar me perguntaram sobre um depois que ainda me é distante.A imagem que escolhi estava esquecida, não saberia dizer a última vez que pensei nela, mas está intacta. O mesmo sabor, os mesmos tons de felicidade. Quando eu lhe contar vai te parecer uma das coisas mais comuns do mundo. Agora disso eu me lembro bem, foi impossível achar uma foto que representasse este momento. O desejo era mais real do que a verdade. 

Quando a vida cansar do tempo e eu aceitar minha passagem por aqui, penso em uma paz soprando contra o rosto em um final de tarde azul cristal. Uma varanda branca de uma casa, uma cadeira de balanço feita com madeira escura e costas vazadas em um desenho igual à do sítio de minha avó. Lá descansarei meus pensamentos, observando o chão costurar o horizonte como as histórias que conhecem seu fim. Com os olhos cheios de lembrança me sobraria no ar uma sensação plena de dever cumprido e a felicidade seria minha redenção. 

Não achei imagem.
Não sei cheguei lá.
Mas o que importa?

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 7 de março de 2016

“O bocado de tristeza” (17/02/2016)

Ando às avessas com a vontade. Nada me conquista como o ócio e penso se é tudo que sou. Seria mais fácil aceitar o natural do que imaginar lutar em ser uma esperança ou ideal. Como quero evitar a culpa vou me sentar neste canto, vou suspirar, fazer da melancolia meu encontro já que felicidade não dá para disfarçar. Peço, pois curiosamente o silêncio não nos revela, qualquer coisa que pode ser confundida com algo bom. Eu já estive no melhor de mim, em menos dúvidas, mais coragem, mais fé.....não sei explicar, mas é como eu tivesse mais sentido. Não me leve para sua tristeza, pois não o sou. Estou apenas perdido, talvez a ilusão tenha sido ter direção. Viver é navegar entre estrelas apagadas e bússola quebrada na escuridão. Sem essa bobagem de ir contra a corrente, a gente precisa de vento na vela, vergonha na cara, destino no coração. Na ausência dos três eu espero, quem sabe noutra maré eu me levo, por enquanto serve qualquer lugar. Hoje é tudo que sou. Enganar-se é o primeiro passo para se perder. Sentir tem que ser o tempo todo, até o fim. Chora espelho, desaba corpo, entrega consciente, vocês não precisam mais tentar. Liberdade é não esconder. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho