quinta-feira, 25 de julho de 2013

“Dois”

O sol nasce por trás de outro corpo
O sorriso ainda é um resquício do ontem
A memória de ter deitado ao seu lado

O cheiro da casa se mistura
Um pão na chapa outro mergulhado no leite
As nossas desavenças são assim em detalhes

Meus quadros enfeitam a sala
Teus livros ganham a prateleira
Nós construímos este lar

É a escolha do programa de TV
Pensar no que fazer para janta
Rotinas que precisam da companhia certa

O silêncio que não desespera
O colo que sempre conforta
Somos portos de nossas almas

Tudo que faz disso mundano
Tudo que faz disso único
É tudo que quero para sempre

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 18 de julho de 2013

“Intransigente”

Não há apelo ao coração
Argumento, conselho, aviso
O próprio corpo desiste
Olhos cansados de lágrimas
A razão mergulhada na emoção
Ninguém pede, mas todos querem
E ele ama sem restrições

Sentir é natural
A questão são as possibilidades
Intensidade, desejo, caráter
Tudo precisa se encontrar
Ou ao menos a disposição para mudar
Todos tem seus limites
Quem pertence as suas fronteiras?

Ninguém precisa de pressa
Certezas são altamente voláteis
O orgulho é uma armadilha
É preciso saber abrir mão
Reconhecer um sorriso aberto
E não discutir com o coração

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 11 de julho de 2013

“Ensaio sobre o silêncio”

Há um grande desrespeito pelo silêncio. Por certas pessoas não passa nem um respiro. Existem presenças que só se justificam com a fala, não nego. Mas até estes pequenos incômodos merecem seu espaço. Uma conversa é tão boa quanto um suspiro. Fazemos do silêncio um estranho como se não bastasse uma companhia, olhares, sorrisos ou mesmo nada disso. O simples acaso de dois conhecidos que seguem para o mesmo destino ou dividem uma refeição. Sinto falta, sinto-me perturbado pelas constantes interrupções deste momento de reflexão. Até eu mesmo me vejo influenciado por essa tendência, que companhia precisa de palavras. Fujo do olhar, mexo a mão, olho para os céus como se precisasse urgentemente fugir dali. O que está ao nosso lado é assim tão diferente, tão amedrontador? Fico a pensar o que será que fez de nossa alma assim tão assustada. Somos tão precários, tão imaturos. Incapazes de lidar com o silêncio, imagina cuidar de um mundo. O mais breve som da natureza ou respiro da vida passa simplesmente despercebido. Há tanto ao nosso redor para conhecer, tanto, que qualquer dia desses você deveria não falar e ouvir também. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 4 de julho de 2013

“Descalço”

É difícil andar a pé. Tem concreto, tem terra, tem cascalho, tem espinho. A ferida sempre aberta de quem insiste que o melhor passo ainda é o próximo. Ser feliz é completar-se a cada dia. Mas para isso é preciso deixar o rastro. As marcas de uma sobrevivência muitas vezes questionável. Em busca de um horizonte muitas vezes utópico. Não vejo ninguém diminuir a velocidade, nem mesmo desviar do caminho. Todos querem suas promessas. O sentimento nasce de uma forma tão natural que é impossível demovê-lo por fora. Tudo que nasce dentro, lá perece, ao seu próprio momento. A razão é apenas um conselho. É admirável o ser humano, mais do que pela sua capacidade de pensar, mas pela escolha de abandono do mesmo. Sofre e sorri. Apanha e abre os braços. Magoa e ama. A alma tem bem menos extremos do que parece. Na convergência de ser um, a mistura nunca sai igual. Só permanece o desejo, o sonho, este gosto de vida que todos queremos encontrar. Vamos longe, vamos fundo até o dia de não precisar mais voltar. O enfim descanso para nossos pés. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho