sábado, 29 de novembro de 2014

“Acomodação de Alma” (21/10/2014)

Recosto minha cabeça na parede enquanto espero
Perco meu olhar de tudo que acontece em minha volta
Deixo escapar sem remorso os minutos que faltam no dia
Lá se vai mais um passageiro que quase não se conta
Há uma impressão de estagnação neste agora
Talvez seja a falta dentro de si de um sonho concreto
Só que é normal passar por lugares não familiares
Locais onde aprendemos, mas jamais ficamos
O corpo tem sentimento, e sentimento tem lar
Todos nós sabemos quando estamos em casa
Tudo para mim neste momento é extremamente normal
O suspiro que alivia a insatisfação que faz parte
A esperança de que a mudança esteja sempre na próxima esquina
A compreensão que a vida tem um tempo, geralmente, bem certo
Por um milésimo de segundo o metrô cruza a ponte
O olhar desconexo cabisbaixo vê a chuva refletida no asfalto
O coração voluntário reage e me escapa um sorriso
Uma certeza sem razão que tudo vai ficar bem

Ass: Danilo Mendonça Martinho

domingo, 23 de novembro de 2014

“Porto” (20/10/2014)

Foi como chegar de uma viagem sem precisar partir. Descarregar nossas roupas, nossas coisas e nossa vida. Tons de felicidade que não conhecia. Não era simplesmente o sorriso, nem era o abraço, era algo mais interno, completo e pleno, um encontro com o futuro, a sensação de viver um sonho, de ser feliz sem nenhum esforço. Estávamos em casa, pela primeira vez. A noite não era a mesma, as luzes ligadas davam um tom de permanência e ouvia o chuveiro ligado do sofá, via a cidade no horizonte e ajeitava nossos pertences, arrumamos a cama e na penumbra da sala olhava pela janela todos meus próximos dias. Faz alguns dias que não me sinto bem, que desenvolvo um pouco de frustração e melancolia, que a realidade me fatiga e me arrasto, o alívio me era raro. Mas quando chegamos meu coração se encheu de esperança, viu todos motivos para seguir. Guardei na minha alma o lugar que poderei fechar os olhos e lembrar toda vez que precisar fugir. Amor, somos um lar.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

domingo, 16 de novembro de 2014

“Notícias de um passado” (17/10/2014)

Foi em uma viagem sem propósitos e com uma noite mal dormida que se encontrou preso no banheiro. Do lado de fora sabia que já se resguardava acordada a mulher de qual a razão queria distância, mas que o corpo e suas necessidades afloradas pela manhã lhe atacariam sem forças para evitar. Por um mero instante esperou e conscientemente deu descarga nos seus pudores e teve primeiro a certeza de ter chamado atenção, para depois sair cheio de libido e encarnar os sonhos que nem eram seus. Seria uma escolha de um caso de uma noite que provavelmente não afetaria em nada teu agora, mas foi evidenciado claramente a marca de uma vida naqueles lençóis, uma dobra, uma fenda, uma decisão profunda, uma construção de caráter, um tornar-se, uma mudança. 

Nesse mesmo lugar, tempos depois, alguém vulnerável, disposta a deixar, por um instante, seus princípios, gostos e vontades. Pronta para ser sugestionada a aceitar a ideia de que o diferente era a saída para seus pensamentos ligados a quem não estava ao seu lado. A proposta de experimentar uma alternativa para ser feliz. Deixar tomar seu corpo meio apagado pela tristeza e quem sabe poder se esquecer enquanto o outro pudesse se enganar. Num acordo velado de almas que precisam, e até uma mentira serve para sobreviver. Um dia a verdade estaria ali como a única coisa que sobraria, uma dor que talvez até não fosse tão grande já que não houve entrega, mas, ainda assim, uma dor suficiente de envergonhar olhar na cara. Aqui não saberia dizer o tempo que isso duraria, mentiras tendem a ser altamente autossuficientes, encontrando palavras e meios de seguir de uma forma cômoda e imperceptível. Essa lembrança tem contornos mais fortes de mudança, e talvez uma que te levasse para sempre longe desta agora tão mais real, tão mais verdadeiro, tão mais completo. A verdade é que mesmo com todo este potencial, aquilo jamais pareceu uma opção. 

Há muitos outros momentos por aqui. A garota que comentava com amiga, e nunca teve a coragem de perguntar o que era. Aquela pergunta inconveniente no ônibus vazio. As pessoas que te acuaram e as quais você nunca prestou atenção. No fim deste tempo sempre beira uma única coisa, consciente ou não, emoção ou razão, tudo foi sempre uma escolha, e escolhas são o puro resultado do que somos, ou éramos. As notícias que te trago jamais poderiam fazer parte de quem você é. Siga em paz, pois tudo aqui já está. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

domingo, 9 de novembro de 2014

“Até o fim” (28/09/2014)

Me sobrou um último pedacinho de papel. Espero que seja o suficiente para nós dois. Estou espremido no canto da cama, sua marca está ao meu lado e sua fotografia me sorri, em breve seremos eu e você, sem precisar fechar os olhos. Me avisaram o quanto pode ser difícil e não acredito que estaremos a salvo das dificuldades. Só digo que não importa, quero viver tudo ao seu lado, das coisas que completam nossa vida aos sentimentos encolhidos em uma sobra de caderno. Nunca sei o que dizer quando um deles acaba, mas toda brecha de palavras é bom preencher com amor. A noite logo me vence. Acho que vou aproveitar para dormir no pé da cama porque de vez em quando é bom. Tem muito mais silêncio nessas madrugadas que não durmo, muito espaço para sonhar. Precisaremos de tempo, eu e você, para ocupar todos aqueles cômodos com nossos planos. No fim ainda sempre cabe e até sobra o suficiente para não conseguirmos parar. Pensei que neste retalho colocaria um amor do tamanho do mundo, mas descobri que somos extremamente simples. Um abraço, um olhar e um sorriso. Um pedacinho de chão sem dono. Um velho bloquinho com a última folha em branco. Não precisamos muito para explicar nosso encontro. A verdade sobre o nosso amor e outros por aí, é que sempre foi assim. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

domingo, 2 de novembro de 2014

“Antigas ilusões” (17/10/2014)

Já não me importa o sentido que vai seguir o trem
Teu rosto recostado contra o vidro será desconhecido
Meu destino tem outros caminhos agora
Onde a descoberta já não está do lado de fora
Belezas me passarão os olhos como paisagem
Abraços e beijos me são apenas lembranças
Meu coração sabe, pela primeira vez, para onde voltar
A felicidade só precisa de uma vez
Será por dentro de nossas almas que construiremos
Nossos olhos, corpos e gestos fizeram sua parte
Seremos agora um para o outro
Há tanto espaço quando se juntam vidas
Setenta e dois metros quadrados de sonhos
E cinco janelas para o horizonte
Pelo menos aqui não preciso de mais nada
Quem diria que quando pegava outro vagão
Diferente das mulheres que me chamavam atenção
Sempre estava no lugar certo

Ass: Danilo Mendonça Martinho