segunda-feira, 31 de outubro de 2011

“Fato Consumado” (13/10/2011)

Duas almas na incerteza do amanhã
A beira da impossibilidade do “nós”
Tatearam as saliências de seus corpos
Salivaram desejos por toda pele
Descobriram os limites do prazer
Para abandonar todos os pudores
Mergulhados na satisfação mundana
A simplicidade da nudez
O primitivo instinto de querer mais
Abstinência do tempo pelo eterno
As marcas dos arranhões nas costas
A paixão maior que a razão
Saciar a chama até o último fôlego
Traíram as certezas do futuro
Ao consumar a vida com o agora

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

“Nunca pensei” (06/10/2011)

Um dia o espelho vence
Revoga a ideia de si
Um olhar sem parcialidade
Que nos julga comuns
A construção só de ideais
Não sobrevive a realidade
As diferenças nos desprevinem
A distância, mera ilusão
Somos todos nossos nuncas
Os mesmos erros dos nossos pais
A face do nosso inimigo
Um dia reflete em nós
É chocante nos ver réus
Vítimas da própria consciência
Não precipite acusações
Ninguém é inocente
Desmoronada nossa imagem
Revela-se apenas o humano
A parte que ninguém imaginava

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

“Por trás do pano” (04/10/2011)

Não é teu olhar perdido no infinito
Nem o contraste em preto e branco
Não é teu jeito discreto de andar
Nem o mundo que esvazias sem notar
Não é tua pele, teu sexo
Não é a imagem que construo de você
Nem a essência que deixa ao passar por mim

Perturba-me são teus lábios cerrados
O medo envolto neste selo já umedecido
Brinca de desenhá-los com o dedo
Belisca-os em repreensão ao desejo
Mas jamais eles partem
Seja falta de aprendizado ou esquecimento
Teu sorriso não valeria ao menos um ensaio?

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

“Véspera de Primavera” (22/09/2011)

Estamos todos contra o parapeito
Esperando a madrugada se dissipar
Abrimos mão das esperanças e medos
Tudo por um amanhã

Poderemos preencher nossa alma de novos aromas
Poderemos preencher nosso coração de novos sabores
O sol entrará por todas as frestas
Acharemos um espaço para sermos

Acreditamos cegamente em nós
Nessa chama que mantemos viva
Nesse sorriso que manteremos aberto
Na vida que sempre floresce

Estamos todos aqui reunidos
A espera do desabrochar da primeira rosa
Ela será nossa prova definitiva
A felicidade, sempre volta a ser possível.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

“Um ensaio sobre o amargo” (21/09/2011)

O telefone já não toca. São as sutilezas do silêncio que esvaziam aos poucos a presença. Não dá para negar o suspiro de liberdade, sentimentos também pesam. Descobri recentemente as fissuras em meus princípios. Não me angustia minha decisão, nem seus motivos. Mas abandonei uma relação, não foi sem feridas. Em uma inocência acreditei que jamais criaria uma mágoa, uma tão bem acabada, tão marcante, tão longe de minhas verdades. Inocências crescem. Não sinto falta de nada neste quarto, não porque esqueci, mas na verdade nunca coube. Não olho para isso como falha, desperdício, penso que assim é a vida. No mais apenas me incomoda que a única alternativa ao amor seja a dor. As cicatrizes são mais necessárias do que digo e imagino. É, não há alternativa quando se admite que não se ama. Por isso nesta penumbra de fim de dia sobra este gole seco, cheio de realidade, esperança, dores, pesares, verdade e duramente sincero. Prefiro esta dose aos paliativos humanos.

Um brinde.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

“Anti-herói” (14/09/2011)

Rasgam mais algumas palavras
Sentimentos largados no chão
Toda voz parece embargar
Mais infâmias sobre o amor
O coração anda sofrendo
Facilitaram as distâncias
Subiram-se paredes de concreto
O tempo virou efêmero

Olho ao redor nas entrelinhas
Há tantos porta-vozes do sentir
Tanta alma em carne viva
O amor escapa pelas entranhas
Invade toda prosa
Vira arma na mão do rancor
Razões de uma emoção
A verdade de um passado
Dissipada no presente

Somos o século do absoluto
Uma geração cheia de certezas
Que definiu o amor
Decidiu tudo que é justo
Sabe apontar o dedo na cara
Desaprendeu a olhar no espelho
Reflexos do que negamos

O amor sofre em nós
Mas jamais foi nosso
Não faça dele um mártir
Vítima das nossas expectativas
Como tudo que aqui nasce
Ele tenta...e também falha
Nobre é admitir-se vil

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

"Trilogia"

“Amor de Praia”

Ah, se todo amor fosse assim a beira-mar
Molhasse os pés, sem arrastar na correnteza
Subisse a maré, sem afogar as esperanças
Refletisse o céu, sem roubar as estrelas
Ah, se todo amor beirasse meu mar.

“Amor de Campo”

Ah, se todo amor deitasse em uma varanda
Esticasse a vida na rede e um sonho na paisagem
Adiasse o segundo para fazer valer o minuto
Fosse como a brisa: um carinho sem levar
Ah, se todo amor dormisse na minha varanda

“Amor de Cidade”

Ah, se todo amor coubesse em um olhar
Uma presença que dispensasse a palavra
Uma verdade que não precisasse de provas
Um encontro que não terminasse efêmero
Ah, se todo amor não fosse apenas meu olhar

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

“Solidão Paulistana” (08/09/2011)

Como a raiz vence o concreto?
As ruas são frias
As almas são vacantes
Os olhares distantes
As verdades obscuras
Os passos escusos
E a palavra um abismo

Tudo por aqui passa
A multidão é vazio
Os abraços casuais
Um céu sem estrelas
Um chão sem sonhos
Inúmeras luzes acesas
Mas nenhum convite para entrar

Somos apenas cicatrizes do asfalto
Rachaduras que ainda respiram
Edifícios de corações
Poluição de sentimentos
Trânsito de silêncios
Becos de esperança
Que o corpo não seja vão

É desta terra inóspita
Onde a rosa crava o espinho
Desabrocha sua vida
Cria raízes na cidade
Acredita no seu lado bom
Nesta solidão...
Encontra companhia.

Ass: Danilo Mendonça Martinho