sexta-feira, 30 de julho de 2010

“Na última instância do dia” (10/07/2010)




Há uma fresta na janela
Por onde desliza a luz da lua
Abre suavemente meus olhos
Mostra-me uma estrela

Há uma fresta de vida
Nas folhas secas das árvores
No colorido céu poluído
Que me provoca o sorriso

Há um verso de poesia
Escondido na névoa densa
Sussurrando pelos meus lábios
Perdendo-se na escuridão

Há uma silenciosa verdade
Escapando pelas grades
Cansada de minha negligência
Deixou-me com a ilusão

Há um resquício de lembrança
A cada lento suspiro
Revelando mais eminentemente
Um outro dia se esgotando

Há um último minuto
Vazio de possibilidades
Resta-me apenas uma escolha
Abdicar-te

Ass: Danilo Mendonça Martinho

domingo, 25 de julho de 2010

“Nosso Tempo” (04/07/2010)




Nos encontramos em outro século
Exaustos desta realidade
Rindo das intempéries da vida
Lutando pela sobrevivência da alma
Planejando o que não temos certeza

No limite de tua razão
Teu olhar se perdia no infinito
Um âmago em fuga
Um corpo envolto no frio
Os passos presos a este concreto

Permaneci incapaz de uma boa palavra
Uma poesia diante teus olhos
Desviei por entre nossos assuntos
Distrai-te com algumas bobagens
Desistia das possibilidades

Dividimos uma caminhada
Alguns bons silêncios
Uma bela sobremesa
Algumas boas citações
Um despertencimento

No poema que segue construção
Registra-se mais uma vírgula
Um adeus envolto em um abraço
Na estrofe que ainda falta um verso

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 21 de julho de 2010

“Para voltar a sorrir” (04/07/2010)




Sigo por um caminho escuro
Uma noite de lua nova
Uma visita sem aviso
Uma surpresa em meu verso
Quero achar um sorriso perdido
Em um abraço incondicional
Em um segurar de mão
No horizonte desconhecido
Das escolhas certas
Os quartos que não visitei
Os braços que não se confundiram
O olhar misterioso
Fará desnecessária a palavra
No encontro eterno da alma
Livre dos medos e ansiedades
Saciado do mais profundo desejo
Embriagado pelo romance
Perdido de referências
De peito aberto e caneta na mão
Procurarei além do ponto final
A felicidade.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

domingo, 18 de julho de 2010

“Nota de Falecimento” (26/06/2010)




Não foi envenenamento
Não foi de overdose
Tiro certeiro ou bala perdida
Atropelamento na via principal
Assassinato ou suicídio

Não tinha depressão
Não sofria de loucura
Nem inimigos com que se preocupar
Sua família o amava
Havia amigos por toda parte

Foi na casa onde sempre morou
Sem alertar os vizinhos
No completo silêncio
Com a luz da lua pela janela
No chão de seu quarto

Morreu de sofrimento e desgosto
Incapaz de conviver com o espelho
Desiludido de todos os amanhãs
Despiu-se dos últimos princípios

Ass: Danilo Mendonça Martinho

sábado, 10 de julho de 2010

“Na sombra das palavras” (26/06/2010)




Sou um personagem sem rosto
Sou uma essência sem nome
Uma verdade inconveniente
Uma negligência unânime

Sou teu romance platônico
Sou tua admiração intelectual
Uma falsa aparência
Um ideal abandonado

Sou feito de sangue e lágrimas
Sou feito de versos e estrofes
Uma melancolia da tarde
Uma cicatriz do passado

Sou escritor do teu imaginário
Sou roteirista de teus sentimentos
Um diretor sem sucesso
Um protagonista sem papel

Sou dono de palavras comuns
Sou dono de conceitos absolutos
Um espírito de esperança
Um corpo em decadência

Sou mais ilusão que realidade
Sou mais parte do que todo
Um desejo inconsciente
Um sonho esquecido

Sou mais um poeta
Sou também real
Um coração que chora
Um âmago que sofre

Ass: Danilo Mendonça Martinho

domingo, 4 de julho de 2010

“Aflição” (23/06/2010)




Vejo-me morrendo nesta trégua
Esta luta velada por desejos
Palavras de paz que escondem a guerra
Por mais que tente desviar os olhares
Há um peso no ar que me rodeia
A verdade quer ganhar vida
O grito afoga minhas entranhas
As entrelinhas envenenam o sentimento
Nego a intensidade do meu ser
Recuso versos e estrofes
Tudo para não cruzar as fronteiras
Tudo para preservar o momento
Para onde ir depois daqui?
Será um sofrimento retroceder
Será um suicídio continuar
As tensões transbordam a razão
Enquanto jogamos com as possibilidades
O mundo segue sua trajetória
O que sobreviverá a este deserto
Se não uma alma desacreditada
Abandonada de todos seus princípios
E ainda longe de tudo que deseja
Esta batalha secreta que mantemos
Pode trazer a vitória de uma felicidade
Pode também, matar o romance antes do fim

Ass: Danilo Mendonça Martinho