sábado, 31 de dezembro de 2011

“Ilusão ou crença” (29/12/2011)

Faz tempo que quero lhe falar: a palavra que me serve nem sempre me veste. Ela constrói um universo, é um signo intraduzível. Só porque falamos a mesma língua não quer dizer que possamos nos entender. Os contornos são de sentimentos, mas há algo de infinito, de inconsciente, que o verso não carrega. Fotografo um amor de ninguém, descrevo uma lágrima de uma janela qualquer, simulo uma chuva apenas pelo cheiro.

A palavra engana. Embriaga nossa sede pelo poder. Somos soberbos aproveitando-se do fato que não existe quem nos conteste. Eu faço discursos sobre a vida e o amor. Eu faço verso sobre o fim da tarde e rimo com as estrelas. Eu acho que sei, como você também acha. Nossa palavra não é uma certeza, não determina uma verdade se quer. Sua força é repetir-se até não lembrarmos que há alternativas além dela. Nossa fala é a construção de nossas ilusões. Somos particulares e parciais ao olhar o mundo. Dizendo coisas de um amor que desconhecemos o significado; de uma vida que não sabemos o destino; de um humano meramente idealizado. Quem somos nós para dizer alguma coisa?

Somos ninguém. Ainda sim, os únicos capazes de construir qualquer coisa baseado em algo que um dia tenha acreditado. Como a felicidade.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

“Segredo” (15/12/2011)

O sentimento não é um limite
Não posso esboçar tua face
Não saberia descrever sua alma
Pois você pode ser tudo
Tenho medo de construir este Tu
Há muitas palavras em silêncio
Posso seguir linhas sem rima
Na tradução imperfeita do olhar
Tenho que insistir enxergar-te
Você não dá dicas como o vento
Visto palavras tão aleatórias
Nem sempre aportam em outros corpos
O que navega por ti, tem destino?
Minha chance é que seja alma
Um coração há de guardar teus segredos
O sorriso revelará sua morada
Poderei finalmente ser verso
A palavra que nunca disse
Penso apenas se de posse do sonho
Resolverei então calar-me

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

“A emoção chegou primeiro” (04/12/2011)

Em nenhum momento pensei em nós. Não perguntei a ninguém o que achavam, não calculei o que fazer. Foi só uma breve coragem de lhe buscar. Antes que todos meus passados chegassem e antes que meus medos racionalizassem, e ainda antes de me convencer de que não era capaz, que tantas vezes me foi negada a chance... Eu acreditei no coração que pulsava pela curiosidade de ser feliz. Meu abraço completou-se em outro corpo e abdicou de todo resto. Meu pensamento invadido pela presença constante alimentava minha alma e dava força ao meu passo. A direção foi ficando óbvia dentro de outro olhar. Não tinha como duvidar do que sentia, aliás, é tudo que tenho. Foi quando te ofereci compartilhar uma vida e todas as razões que surgiam em nossas palavras foram se desfazendo na nossa frente, eu soube o que meu âmago sempre soube, o quanto te quero.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

“Ensaio sobre o improvável” (03/12/2011)

A vida é um encontro insensato. Somos tantos, perenes, distraídos, algumas vezes desesperados. Temos diversas línguas e outras tantas linguagens. Almas que carregam imensidões de sentido e um pulsar único que dá ritmo ao passo. O encontro é exatamente quando tudo desacelera, quando finalmente há um chão debaixo dos teus pés, e o tempo vira um pouco mais nosso. Eis então toda nossa improbabilidade, nossa fórmula sem resultado, a soma mais complexa da humanidade. Como juntar dois?

Foi quando a vida me acordou envolvido em um abraço, inebriado pela essência na minha pele. Ao olhar para trás é impossível determinar um quando, é como se o agora tivesse sempre existido. Poderia dar outras voltas no mundo e não voltaria aqui. Tem dias que são brechas inteiras de um universo onde com sorte podemos levar. Assim, contra todas as chances, nos encontramos, e encontrar a vida é raro.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

“Espere” (01/12/2011)

Quando a tristeza bater
Quando a alegria chegar
Quando a dor contrair
Quando o sorriso não conter
Quando o adeus falar
Quando o abraço envolver
Quando o fim sentenciar
Quando a mão abrir
Quando a distância impor
Quando o beijo salientar
Quando o rosto virar
Quando as flores nascerem
Quando a foto desbotar
Quando a alma sentir
Quando o corpo esfriar
Quando a palavra declarar
Quando o olhar desistir

Quando amar...
Não será melhor do que nenhum de nós

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

“Um inteiro de amor” (25/11/2011)

Seguro meu terço
Junto minhas mãos
Ainda sinto teu cheiro
Que agora se espalha pelo cobertor
Teu beijo deu ritmo ao meu coração
Teu carinho aconchegou minha alma
Tornas-te meu amanhã improvável
Assim me devolveu a chance
Construí-lo próximo da felicidade.

Não estou aqui para promessas ou pedidos
É nossa essência que vai assumir a possibilidade
O romance é nosso leme
Quero ir de encontro ao que sinto
Este gosto por quere-te
Todo resto fica bem simples

Concedida a graça do nosso encontro
Resumo essa prece
A um sorriso.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

“Benção...” (23/11/2011)

Fazia dias que caminhava entre nuvens. Não pedi nada para hoje, não esperava muito, no máximo minha alma livre. Ao abrir a janela eis que não há uma nuvem no céu. Um azul inocente, de algum dia puro do passado. Era impossível não sorrir diante a benção do Sol. Se alguns dias atrás, foi entre as gotas que tentei te alcançar, hoje são os raios dele que vão envolver nossos desejos. Pareceu tão apropriado, um sinal de boa sorte para o futuro. Sorri pela chance. Vamos desenhar nosso querer e, quem sabe, ele não se complete...

Ass: Danilo Mendonça Martinho