Faz tempo que quero lhe falar: a palavra que me serve nem sempre me veste. Ela constrói um universo, é um signo intraduzível. Só porque falamos a mesma língua não quer dizer que possamos nos entender. Os contornos são de sentimentos, mas há algo de infinito, de inconsciente, que o verso não carrega. Fotografo um amor de ninguém, descrevo uma lágrima de uma janela qualquer, simulo uma chuva apenas pelo cheiro.
A palavra engana. Embriaga nossa sede pelo poder. Somos soberbos aproveitando-se do fato que não existe quem nos conteste. Eu faço discursos sobre a vida e o amor. Eu faço verso sobre o fim da tarde e rimo com as estrelas. Eu acho que sei, como você também acha. Nossa palavra não é uma certeza, não determina uma verdade se quer. Sua força é repetir-se até não lembrarmos que há alternativas além dela. Nossa fala é a construção de nossas ilusões. Somos particulares e parciais ao olhar o mundo. Dizendo coisas de um amor que desconhecemos o significado; de uma vida que não sabemos o destino; de um humano meramente idealizado. Quem somos nós para dizer alguma coisa?
Somos ninguém. Ainda sim, os únicos capazes de construir qualquer coisa baseado em algo que um dia tenha acreditado. Como a felicidade.
Ass: Danilo Mendonça Martinho