quarta-feira, 30 de outubro de 2013

“O dilema de um bom dia”

A senhora que me disse bom dia o fez por costume, por educação, simpatia, tradição. Mas creio que na verdade o fez por ser natural, por acreditar ser a maneira correta de agir. O dia ainda era penumbra e chovia, ela estava acompanhada de uma ajudante e uma bengala, certamente gostaria de dispensar uma das duas, e disse bom dia a dois jovens desconhecidos que aguardavam algo no caminho, que tenho a impressão que refizera mais vezes que eu. Acenou e sorriu àqueles que frequentavam sua vila que hoje só é assim no nome, tudo é cidade concreta e são muitos os desconhecidos para que um bom dia seja distribuído sem critério. Mas à ela valia. O mundo podia tomar o rumo que fosse, era seu lar, seu caminho. Não desviou-se, não hesitou, não parou para admirar. A senhora era lúcida de seu destino e pura em suas intenções de desejar um belo dia aos outros. Ela não queria meu nome, nem atenção, talvez nem mesmo minha resposta. Admirei sua atitude e claro que pairou sobre minha cabeça a dúvida: Será que ela está certa nessa sociedade contemporânea? Será que a modernidade na verdade nos atrasou? Deu-me vontade de ter liberdade para um bom dia sem obrigação. Pareceu-me mais saudável o jeito daquela senhora sorridente para o mundo, e ele para ela. Receptiva ao perceber os que a rodeiam não como amigos, nem mesmo conhecidos, mas semelhantes. Somos, não é mesmo? Fiquei feliz com aquela perspectiva, aquela lembrança e não precisarei de armas, nem pedras, nem discursos, nem política. Minha revolução será um bom dia até que todos percebam que somos um só. 

À senhora que me disse bom dia....disse bom dia, sem alterar minha espera, virar meu rosto, ou repelir sua presença. O fiz naturalmente, reconhecendo-nos como parte do todo. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

“Preserve seus sonhos”

Nossos desejos mudam
Se transformam, crescem,
Se desviam
Mas que permaneçam nossos
Até mesmo secretos

Os atos mudam com cada verdade
Com cada conhecimento
Com cada informação
As vezes nem precisa ser verdadeira

O mundo é complicado lá fora
Causas são vencidas por interesses
Vontades são vencidas pela rotina
Sonhos são massacrados pela necessidade do dinheiro

Mas sua vontade de ser feliz
Pode mover o mundo em uma nova direção
Sejam quais forem seus planos, se forem justos,
Eles merecem uma chance
Os sonhos serão a diferença entre sobreviver e viver.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

“A força desconhecida”

Eu mais do que ninguém tenho que tomar cuidado com as palavras. Sei que são armas, instrumentos, mensageiras, poços de possibilidades e interpretações. Ardilosamente dúbia a palavra pode lhe entregar por inteiro, ou pode carregar uma mentira a pessoas suficientes para ser irreversível. A palavra entra em qualquer alma, basta ser a certa. Somos rodeados por essas entrelinhas de desejos e verdades. Alguém aplicado o suficiente, atento, curioso e dedicado não deixará nada passar como comum e para estas seremos sempre um livro aberto. A nossa sorte ou azar é que essas pessoas são raras. Não acho que é preciso esconder sentimentos. Mas sei que tenho muitos planos que precisam ser maduros o suficiente para sobreviver neste mundo. Universo de vaidades, de olhares que tanto prestam atenção a ponto de atrapalhar nossos passos. Há muita força contrária, até mesmo dos que querem ajudar. Um sonho precisa ser forte, um desejo precisa ser completo, uma vontade precisa ir até o fim. Por isso há muito segredo em nossas palavras, é preciso olhar a quem. O conhecimento superficial do mundo moderno transforma todo nosso redor em uma frágil conexão de pessoas, de agenda escusa e própria. Mesmo sabendo disso o perigo ainda reside, pois há muitos os quais não definimos lado, nem opinião. Há certas coisas que devem permanecer no menor círculo de pessoas possíveis. As vezes é preciso se manter trivial. O coração precisa de segurança para falar, caso contrário faça de cada batida um silêncio, de cada pulso um olhar. Não entregue os pontos antes do necessário, antes de saber do que se fala. A conversa geralmente ajuda, mas não necessariamente porque te ouvem ou te aconselham, mas sim porque você se ouve, porque você alivia o peito. E já que é preciso falar, faça a quem te dê mais que ouvidos, faça a quem entenda. Seja breve nas palavras, a força do seu sonho está no inesperado, no desconhecido, no único, no que é só seu. Para qualquer outra pessoa escolhida sem a devida cautela, seu desejo será apenas uma informação privilegiada. Tome cuidado com a palavra. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

“Deixe Estar” (05/10/2013)

A vida precisa de uma fresta
Construa você suas muralhas
Vista suas armaduras
Ou aprisione as palavras

O coração precisa de uma migalha
O abraço que rejeita
O sorriso indireto
Até mesmo a promessa falsa

A alma precisa de um respiro
A lágrima que escapa a multidão
A verdade omissa
Declarar-se sem ser interrompido

Nos dias que são dor
Deixo minha janela aberta
Por lá tudo escapa
Enxergo um pedaço do horizonte
Misturam-se todos meus suspiros

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

“Permanente”

Sinto falta da vontade
Será que ela sempre me faltou?
Hoje o mundo está de portas abertas
E os braços são curtos para alcançar

Sonho muito mais que já sonhei
Quero muito mais do que já quis
Em algum lugar sei que posso
Mas a cobrança lembra e machuca

Pensamos que é tudo para amanhã
Mas na verdade é tudo para vida
É preciso passar pelo meio do caminho
Mesmo sabendo que podemos mais

Ass: Danilo Mendonça Martinho