segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

“Filtro” (26/02/2012)

Respiro
Insistência poética
Acreditamos na inspiração
Que o ar condensa sentimentos
Que a vida pode escapar em um suspiro

Inspiro
Na busca do não dito
A palavra que veste silêncio
Um amor nas penumbras dos olhos
Um querer nos contornos dos sorrisos

Expiro
Abro mão
O real se completa na liberdade
A posse não cabe no abraço
O dever seca os lábios dos beijos

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

“Filosofia” (18/02/2012)

Poderia voltar a desenhar todo universo
Seria incapaz de dizer o que mudou
Uma parte de mim tomou vida
Mas ninguém consegue lembrar da tua ausência
Nem mesmo as fotografias lhe ignoraram
Só meu olhar te desviava
Levou-me a ti com calma
Deixou em paz tudo que não foi
Girou a moeda e aprendi a deixar partir
Sobrou-me a liberdade de caminhar só
Não sei exatamente quantos
Nenhum deles foi simples
Até que um dia acordou comigo
No canto da boca, discreto
Agora não sei o que nasceu primeiro
O sorriso no meu rosto
Ou você no meu coração
Os dois parecem uma parte eterna de mim

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

“Sentimentos Nômades” (14/02/2012)

Faz tempo que os pássaros voltaram do sul
Retomaram o canto entre as árvores
Penso no que encontram por lá
Mas hoje, quem repara no caminho?
A vida parece ser um lugar comum
Pano de fundo de rotinas
Ainda sim há frestas entre as folhas
Sei que ali as asas suspiram
Lembrando de um mundo com sonho de voar
Acredito que tudo perderá em breve a cor
Pois existem olhos que insistem em reparar
Se voltaremos a percorrer distâncias
Há o que buscar no horizonte
Se a manhã volta a nos acordar
Talvez seja o acaso superestimado
Façamos um rumo com propósito
Há mais do que calor em outro lugar

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

“Sensações a segunda vista” (08/02/2012)

Na penumbra da madrugada
Abraço uma dor incomum
Recostada no meu peito
Entrelaço meus dedos no labirinto
Sinto a pele que passa para alma
Perco a possibilidade da razão
Um sonho invadido
O olhar a recortar o inseparável
Penso até onde carregarei
Mas abro mão do tempo
Ela libertou meu pensamento
Dissipou meus quereres
Uniu tudo em um único lugar
O corpo que me envolve
Repousa contra o meu
O melhor peso que já senti
De uma paixão real


Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

“Solidão Pública” (01/02/2012)

As portas ainda fecham
Penso no que ainda é segredo
As fronteiras são pros outros?
Nos muros somos paradoxos
Seguros de tudo que não nos toca
Incertos de tudo que se poderia sentir

Essas trancas sem chave
Castidades aos corações
Nosso pedaço ainda livre
Que palavras só vivem em diários?
Quais cartas não podem ter destino?
Que almas deixam de respirar?

Arrombei todas as fechaduras
Nem o vento me agrediu
Como se o mundo tivesse espaço
Descobri que a multidão é outro esconderijo
Despi-me das dores e cicatrizes
Entendi que por aqui, a vida só passa

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

“Rotina” (31/01/2012)

Pensei acordar sob os mesmos céus ao enquadrar todas as manhãs o horizonte da minha janela. Olhei nuvens, tons de azul e pingos de chuva. Do outro lado tudo me pareceu estático, prédios, árvores, pessoas...principalmente pessoas. Assim desenhava meus dias, nos moldes ultrapassados do ontem, de cores cada vez mais desbotadas. Não há nostalgia que aguente. Não há espelho que não mofe encarando o mesmo rosto perdido, de olhos fundos sem quereres. Uma vida de paisagem para um corpo figurativo. Sem cena, sem ato, sem mão que se estenda. As portas já não se fechavam, não tinham o que deixar para trás, não havia surpresa, nem alguém para chegar. Pelas ruas vacantes, vagava, nesta aliteração que tenho certeza que também repito, e se nem o verso é livre como poderá ser o amanhã? Todo mundo quer este agora, vive-lo plenamente mesmo sem os controles dos segundos. Pois o que fazem os que querem tudo que está além do aqui? Beirando o desejo não há glória, bonitos são apenas os sacrifícios. Eu, crente da rotina, não pude pular, ao imaginar que minha escolha já estava marcada em algum passo de um tempo remoto. Ao verificar as marcas percebi que nenhuma era igual a outra, e que esta prisão do tempo, era minha ilusão.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

“Apesar” (26/01/2012)

Impressiona-me os pesares da vida
Ancoramos em todo cansaço
Carregamos a mágoa na carteira
Nos tornamos sempre sobreviventes
Um olhar além da lágrima
Um sorriso depois da palavra
Um verso a ignorar o ponto final
Inadvertidamente somos um corpo que insiste
Abraçados a motivos frágeis
Acreditando que não nos sobrará apenas
Mas seguimos a excluir nossos pedaços
Sentimentos de nossa história
Ignorando que também nos fazem parte
Carregamos este fardo à toa
Não podemos viver com ressalvas
A liberdade é, apesar de nada.

Ass: Danilo Mendonça Martinho