quinta-feira, 29 de agosto de 2013

“Aparências”

Parecer pode ser muita coisa
Imagens sem controle
Uma frase sem pensar
Uma palavra sem contexto
Até gestos despretensiosos
Há um código secreto
Que liga símbolos e significados
Que é individual

Logo é fácil parecer
Eu não vou te impedir
O que sou não é momento
Mas pode ser tudo que temos
Então dê o seu melhor
Crie suas verdades
É provável que se iluda
Mas é possível que me conheça

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

“O invisível”

Há muito menos destino
E muito mais ações
Dando as cartas nessa vida
Mas não posso ignorar
Os impulsos da alma

Caminhar se torna tão banal
A paisagem quase nem afeta
Nem mesmo as transgressões
Tantas vezes queria levantar a voz
Motivos não nos faltam
Mas a palavra sim

Há remorso em certos silêncios
A frase nunca dita fica
Enraizada se repete
A vontade cega de ter mais uma chance
Responder à altura
A troco de quê?

Do mesmo jeito que calo
Outras vezes falei
Algumas exatamente o que queria
Não há diferenças
A revolta é a mesma
Há uma dose do desconhecido

A palavra hesitou
Salvou minha vida
A fraca resposta
Serviu de aviso
E as vezes a verdade nua
Se fez necessária

Algo sobrepõe nossos atos
É raro, mas acontece
Talvez demore a consciência
Devemos muito a este “improvável”
Consequência é mais que retrucar
É tudo que se leva para alma

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

“Acuso”

Eu sinto que meu sonhar é extremamente perigoso. Sonhar não é acreditar, ele lhe dá o futuro como certo. A conquista pode se afastar da realidade em mais maneiras que a palavra pode se tornar silêncio. Aqui, do outro lado do sonho frustrado, nosso coração até se une com a razão para enxergar além da dor. O motivo da queda pode parecer obscuro, mas geralmente remete ao espírito com que entrou na batalha. É difícil dizer, mas os ceticismos me levaram mais longe, o cru, o inegável, os olhos sempre abertos. Não nego o sorriso que vem com o idealizado mundo de amanhã, mas que não passe disso. O vício da esperança pode se tornar uma expectativa real demais. Incapaz de permanecer no agora, fiquei desarmado na luta. Todo mundo sente o golpe. Nada é insignificante para alma. Não posso olhar para o lado, fui eu. Desvirtuei a fé, o desejo e a realidade sem encontrar saída e a última me trouxe de volta em uma única palavra. E o mesmo sonho te faz se sentir pouco, ínfimo, aquém. É perigoso sonhar longe do travesseiro. Colocar sentimentos antes dos fatos. Todo sentimento pode virar dor. Fui ridículo ao imaginar acima, melhor do que a chance, e essa me fechou a porta. Pois agora é meu sonho que vai aguardar, a realidade é feita de pedras sobre pedras e eu ainda tenho muito o que levantar aqui dentro.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

“A última estação” (25/07/2013)

Que frio é esse que chega até os ossos. Logo eu que me armei contra as injúrias, levantei muralhas contra as mágoas, usei as palavras como escudo da alma serei acometido pela precariedade do corpo? Estarei a mercê de um bruto inverno que desconsidera minha existência e vem sobrepor o mundo com outro destino, outra realidade? E todo caminho para enobrecer a vida, todos cavalheirismos, toda educação, conquistas, imagem social, onde ficarão se não apenas isoladas neste sótão olhando pela janela em dúvida se pedem ajuda ou perdão. Se o tempo é assim escasso que valor poderia inserir neste contexto que ainda valesse a procura. Divago talvez tarde demais para fazer qualquer bem, mas sempre há tempo de revoltar-se. Já que de nada adiantou manter o espírito puro da tradicional selvageria dos sentimentos humanos, quero antes de tudo e do mais nada, renunciar-me. Há muito adio tal decisão, mas não mais preciso desta ilusão construída pelo seu olhar, muito menos de ideais que não me pertencem. Terminarei neste canto de cômodo como aqui cheguei, desnudo de princípios, de planos e de certezas. Sou natural como a estação que me bate a porta, com ciclo de vida, habitat e alimentação definida. Tudo que já pensei desconsidera essa minha essência. Fazer, construir, falar, rir, são passatempos capazes de nos distrair de nosso propósito. Não deixei filho algum, não perpetuarei nome, nem espécie. Agora me vejo indeciso se algumas dessas duas coisas me entristece. Todo animal tem um bando, todo bando tem seu inútil, por que não sê-lo? Inverno canalha me pondo contra a parede, vamos, apague minha lareira, encha de neve a minha porta, minha loucura está aposta para que possa levar tudo menos quem sou, a você não devo nada além do corpo, aos outros nem mesmo isso. Então vamos ficar neste acordo de cavalheiros, você leva o corpo que restou, sem custo, e eles levam tudo aquilo que já não sou, abdiquei ser, e me deixam a olhar o sol, a chuva e a neve nesta janela que escolhi para eternidade. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho