segunda-feira, 25 de junho de 2012

“Portos e Tempestades” (22/06/2012)

Despencam os raios sobre a vida
Tudo parece tão longe
Nosso passado se mistura na chuva
É sentir sem lembrar
Eu sei o quanto doeu
Só não sei descrever seu lugar

Certas coisas viram paisagem
Presas numa parede inerte
O mundo agora só passa
Desde quando ancoramos nossos pés
Hoje a maré só traz
Aprendeu o caminho de casa

Não voltarei a navegar sozinho
O norte será nosso
Enfrentaremos o futuro revolto
Descobriremos outras felicidades
Abraçaremos o amanhã incerto
Faremos do coração morada da alma
Não voltarei a soltar tua mão

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 21 de junho de 2012

“Ensaio sobre o romance” (20/06/2012)

Tudo para voltar ao mesmo velho canto do travesseiro, com a mesma tempestade caindo lá fora. A alegria reserva o mesmo leito da infelicidade, dorme ao lado da tristeza e acorda no frio de um inverno. Por todos os passos de nossas dores, ela existiu. Nos encolhemos vezes demais, e ela é dessas que se alcança.

Tudo começa quando se abre os olhos, cansado de seu inchaço e vermelhidão. Resolvemos olhar para o mundo nem que seja sem cor, nem que apenas sobre rancor. O olhar é um lugar de intempéries. Reside nele nossa intenção, já de muito frustrada, acolhida pelo medo. Em segundo plano tudo que queremos ignorar, como se pudesse impedir a beleza de uma flor. A vida te encara. No fundo dos olhos dela, como se fosse teu primeiro encontro, alguém olha de volta.

É quando abrem-se os braços. A esperança de prontidão que vence por pouco nossas resalvas. Mas o humano guarda essa vontade de se completar na vida. Mesmo que seja um vulto, mesmo que passe sem notar-te, mesmo que a estadia seja breve, mesmo que no fim a mão volte vazia...Não há como não estender-se a chance de que aquele próximo, seja seu único.

É quando se abrem os sorrisos. Seja um instante, seja a eternidade. Sabemos que nesse gesto tudo ficará bem, independente da palavra, da presença ou mesmo do amanhã. Basta este sorriso a cada novo encontro e tudo nesse mundo tem ao menos o sonho de ser feliz. Basta estar de olhos abertos.

O amor verdadeiro te faz chorar. Afinal a felicidade que finalmente preencheu aquele vazio, é digna de uma lágrima no velho travesseiro.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 18 de junho de 2012

“Volta e meia” (06/06/2012)


Faz tempo que não visito as palavras que condensam as dores em gotas de chuva. Tem me passado em silêncio a melancolia. Como se o amor pudesse realmente sobrepor a todo resto. Mas os céus ainda choram e as folhas ainda despencam. O concreto pode até não invadir a chama, mas revoga inúmeros abraços. Essa vida dói e contrai nosso âmago seja felicidade, sejam as tristezas. Ela está aqui para te fazer sentir sem meios termos. Nada menor que seu melhor te fará sobreviver aos invernos. Sem o amargo não se reconhece o doce e esse caminho poderá lhe parecer, mais de uma vez, o errado. Apenas faça da escolha algo teu. É provável que o outono venha despetalar teus amores. Uma raiz falsa só trará mais dores para arrancá-la. Meu conselho aos olhares que contemplam a vida escorrer melancolicamente pelo mundo gelado, é: plante bem esta tua solidão e , com um pouco de sorte, não haverá espinhos na primavera.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 14 de junho de 2012

“O segredo da Areia” (04/06/2012)

Sussurrou-se
Como se fosse sagrado
Seguiu-se ao pé do ouvido
O sonho de um poeta

Desenhas-te na areia
Grandes acontecimentos
Postos sobre um soneto
Metricamente dramatizados

A maré tudo levou
Mas a rima ainda ecoava
Repetia a si as palavras
Caminhando para aldeia

Ao despertar os olhos
Era seguido aos milhares
Balbuciavam os mesmos lamentos
Exaltavam as mesmas glórias

Ó poeta do mar
Deixaste teus sonhos na areia
Eis a onda que levou-o
Para que todos pudessem sonhá-lo

O que mais quero eu
Do que uma reza
Se minha felicidade é procissão
Seu lugar é nas ideias

Os versos ficaram sem nome
A verdade sem papel
Uns lembravam de um conto
Outros ainda buscam os sonhos

Sussurrou-se....


Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 11 de junho de 2012

“Vai e Vem” (02/06/2012)

Coloquei-te em um frasco
Atirei ao mar
Veio então ancorar-te
Na areia do meu cais

Trilhaste o caminho para casa
No calçado trinta e três
Deixaste teu cheiro na varanda
E o café pronto ao pé da cama

Embrulhei-te no travesseiro
Para nunca mais te perder
Amanheceste um romance
Possível de se viver

Lembro-te ainda pequenina
Sonho flutuando na imensidão
Voltaste para minha alegria
Estrela guia desta canção

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 4 de junho de 2012

“Aqui” (02/06/2012)

O aqui é este lugar na beira da madrugada onde o sono não me importa. Quando imaginaria deixar o sonho em segundo plano? Já chorei nesse travesseiro, passei uma tarde muda ao pé da cama. Dormi em desespero por uma resposta, lamentei a distância, acordei vestindo o inimigo. Mais ninguém entrou neste quarto, só essências e contornos das vozes e corpos que impregnaram na alma os cheiros apenas para depois evaporar. Não houve poema, nem lembrança que se agarrasse as paredes. A realidade cansou de substituir a imaginação sem êxito. Flores murcharam e palavras envelheceram. Não posso negar a esses cantos que cheguei sim a desistir. Agarrado as grades da janela profanei. Silenciei todos meus pedidos. Dentro de mim moram cicatrizes e as mais puras verdades. O cru e nu. A face sem intérprete e o sentimento sem voz. Tudo nesse lugar já sorriu, tudo nesse lugar já sofreu, sem que ninguém jamais soubesse. Onde a vida mora, quase ninguém visita. Quantas vezes acabei só...

É por causa deste aqui que valorizo o corpo que por hora dorme ao meu lado. Mudaste meu reflexo no espelho, levaste as dores das paredes. Entrou sem invadir, abraçou sem ameaçar, amaste em reciprocidade...decidiste ficar. Agradeço a cada canto deste quarto, sorrio a cada novo momento marcado. Nem sabes com tudo que convives, mas você destoa e dá novas cores a todo resto. O passado sustenta nossa verdade. A realidade fortalece o nosso amor. Onde a minha vida mora, você também vive.


Ass: Danilo Mendonça Martinho