O vidro trabalhado distorce o nascer do sol que me acorda. Desperto em uma memória muito viva. As cores da folhagem, do céu, das paredes e do sofá. Tudo está intacto. Queria poder trazer outras pessoas aqui. Não me recordo exatamente dos natais que passei neste lugar, mas jamais esqueço a melhor forma que a vida me acordou. O mundo preocupava menos é verdade, mesmo assim assim aquela natureza trazia uma paz inigualável. Já mudei tantas vezes minhas cama na busca deste raio magnífico, sem sucesso. Hoje quando a luz chega, meu corpo já está vagando há algumas horas. Talvez o importante é que o momento ainda é vivo.
Do outro lado da janela há um avarandado que cerca toda casa. Nos pilares de tijolos laranjas diversos ganchos para descansar as redes. O vidro do amanhecer, faz na verdade parte de uma porta, dessas que as casas tem para receber convidados sem passar pela cozinha. Jamais foi aberta. Mais adiante há um lago entre duas grandes árvores que costumávamos subir. Na esquerda o campo de futebol improvisado e na cerca os pinheiros enfileirados. A casa era um único silêncio. A sala da TV e os quartos ficavam no lado oposto das janelas. Um batente sem porta separava tudo da copa e da cozinha. Eu de olhos abertos, aguardava. Logo tinha o café em família, logo o quintal estava aberto e poderíamos todos se perder em mais um dia.
Não lembro se era natal, só sei que todo ano isto era meu presente, aquele que mais queria...a felicidade.
Ass: Danilo Mendonça Martinho