quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

“Não sei se é Natal” (26/12/2012)

O vidro trabalhado distorce o nascer do sol que me acorda. Desperto em uma memória muito viva. As cores da folhagem, do céu, das paredes e do sofá. Tudo está intacto. Queria poder trazer outras pessoas aqui. Não me recordo exatamente dos natais que passei neste lugar, mas jamais esqueço a melhor forma que a vida me acordou. O mundo preocupava menos é verdade, mesmo assim assim aquela natureza trazia uma paz inigualável. Já mudei tantas vezes minhas cama na busca deste raio magnífico, sem sucesso. Hoje quando a luz chega, meu corpo já está vagando há algumas horas. Talvez o importante é que o momento ainda é vivo. 

Do outro lado da janela há um avarandado que cerca toda casa. Nos pilares de tijolos laranjas diversos ganchos para descansar as redes. O vidro do amanhecer, faz na verdade parte de uma porta, dessas que as casas tem para receber convidados sem passar pela cozinha. Jamais foi aberta. Mais adiante há um lago entre duas grandes árvores que costumávamos subir. Na esquerda o campo de futebol improvisado e na cerca os pinheiros enfileirados. A casa era um único silêncio. A sala da TV e os quartos ficavam no lado oposto das janelas. Um batente sem porta separava tudo da copa e da cozinha. Eu de olhos abertos, aguardava. Logo tinha o café em família, logo o quintal estava aberto e poderíamos todos se perder em mais um dia. 

Não lembro se era natal, só sei que todo ano isto era meu presente, aquele que mais queria...a felicidade. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

“Terciário” (10/12/2012)

O mundo há de ter outro dono
Um que não nos assemelhe
Este lugar não tem nada de nosso
O poder é invenção humana
Para generalizar verdades particulares

A ideia é esvaziar o indivíduo
Fazer da vida descartável
Assim a consciência não cobra
Os olhos preferem não ver
O que o coração sente

Entristece as inúmeras faces da miséria
Mas o que mata não é a mão que estende
É o corpo desprovido de escrúpulos
Aqueles de posse da fábula do poder
Escolhem deixar o povo na sua escuridão

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

“Meu caro...” (05/12/2012)

Meu amigo, foi bom não te ver partir. Fica assim aquela ideia de um até logo que é muito mais verdadeira se tratando dos nossos corações. Nossas bobagens foram mais contidas, nossos segredos mais silenciosos, mas o que me alegra é esta mesa que continuamos todos a sentarem em volta. Não posso te prometer meus rumos nessa vida, mas posso prometer um abraço. Acho que isso nos manteve não aqui, mas em pé. Poderia aqui ser nostálgico em uma dose desmedida sobre as salvações de uma amizade, os lugares tão profundos onde fomos nos buscar, mas vamos abrir mão ao menos destes detalhes. Há um sorriso novo, é somos novos, acho que temos uma perspectiva sobre a vida que jamais imaginamos, sabíamos que chegaria, não pensei nesse quando. Fiquemos assim, sem quando. Alguns dizem que a vida nos mantém por perto, nós sabemos que parte de tudo é uma escolha. Espero nunca te ver partir. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

“Noticias de um romance” (26/11/2012)

O tempo passa, não há dúvidas quanto a isso. Se te prometi estar aqui, o fiz por uma esperança, não uma certeza. É a primeira vez que este tempo passa por meus olhos. Só hoje realmente sei os sabores da tua companhia, o caminho dos seus sonhos e onde a sua vida encontra a minha. Eu marquei um compromisso com tua alma para sempre voltarmos neste aqui. Hoje sei que ele jamais será o mesmo, que todo futuro é só uma ideia, no nosso caso, aquém da felicidade que sinto. 

Foi fácil, e não estou contando vantagem. É que o tempo passa rápido quando se ama e todo problema não se torna impossível quando um coração é recíproco. Há vários motivos para se cruzar o tempo. Primeiro existe o que se sente, segundo o que escolhemos, terceiro o que se acredita. Eu amo, eu quero que isso jamais acabe, eu acredito que é para vida toda. 

Gostaria de te contar que este aqui é maravilhoso. Consolida o que mais me completa. Tem cheiro de primavera com início de verão. Tem gosto de beijo. Tem ares de paixão. Sensações que fazem respirar ser a receita para a felicidade. Eu um dia imaginei e prometi este aqui. Você aceitou construí-lo comigo. Que o tempo continue a soprar nesta direção. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

“Estiagem”

Sinto saudade
Havia tempo do respirar profundo
Agora o mundo mal toca
Tudo chega com outro destino
Também partimos
Não há para onde voltar

A chuva que cai
Parece um grande silêncio
Nem a melancolia sabe o que dizer
Preciso lembrar que há vida
Mesmo que sem ela não exista o resto
É que o passado é apaixonante
O agora...escasso

A pena não é pelo verso
É pelo universo que não entra
A rotina fadada ao fracasso
Como se acordasse sem tempo
Como alma faltando espaço
No fim sentimento não se mede
Nem em um verso

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

“Com destino, sem direções” (07/11/2012)

Precisava de uma notícia de outrem
Olhos que pudessem testemunhar
A vida desta cor que só imagino
Se o passo fosse apenas passagem...
Não quero certezas, mas uma companhia
Mais do que um vislumbre do sonho
Quero verificar a existência do agora
Eu conheço este outro lugar
Ele ainda precisa de um endereço
Mas me mandasse um sinal de fumaça
Faria do meu aqui um lugar também
Seria então um pedaço do caminho
Uma perspectiva maravilhosa da felicidade.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

“Resolução de fim de ano” (06/11/2012)

Vida se divide? Não digo compartilhar, mas dividir, como um bolo, como férias, como dinheiro até. A diferença é que sabemos nestes casos o quanto temos e assim podemos ser justos. Para contar a vida precisamos de uma medida. Segundos, horas, dias, anos? Isso tudo mede o tempo, mas a vida se mede em tempo? Mesmo se esse fosse o caso, não há tempo determinado para nossa vida. Aliás, de ninguém, talvez das moscas que dizem sobreviver 48 horas, mesmo assim é arriscado afirmar algo desse tipo. Então se a vida não está dividida entre o ontem, o hoje e o amanhã, devemos ter a medida errada. 

Se fosse então os sentimentos que determinassem essa divisão. O primeiro amor, a primeira dor, as viagens inesquecíveis, as pessoas que partiram, o encontro com a nossa felicidade... Seria bom que fosse assim, dividiríamos a vida livre do tempo, pelas intensidades. Mas no mundo de hoje, efêmero e individualista, não posso garantir que certas alegrias cheguem a todos. Diante uma sociedade desigual seria menosprezo de minha parte desconsiderar as vidas que passam ao meu lado com suas particularidades tão belas, com dificuldades tão mais profundas. Cada vida conta. 

Estaria então a vida a medir o ser humano? Mas a vida é feita de unidade única, singular, exclusiva. Tem diferentes formas e tamanhos. É muito mais do que idosos adultos e crianças. São classificações que seguem sem dividir a vida. Não posso fazer ela esperar as festas de fim de ano para mudar as coisas. Ou que eu só encontre meu grande amor carnaval. Termina-se um ano e pensamos em tudo que queremos para nossa vida no próximo. Mas a vida não é um ano, nem precisa esperar. Eu então resolvi que divido a vida em tudo que ela é, e tudo que ela ainda pode ser. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

“Crer” (31/10/2012)

Não posso dizer que cheguei aqui ileso. Toda história tem dor, toda pele tem cicatrizes. As tristezas sim, definiram muitas das minhas escolhas, eu escolhi ser melhor. Aprendi onde plantar minhas raízes. Libertei meu coração às suas vontades. Tentei e voltei a tentar. Se a vida é feita de passos, o horizonte é feito de sonhos. Ser feliz demora, exige demais de nossas crenças, cria inúmeras expectativas, mas chega. São pedaços do quebra-cabeça que nos completa. Chuvas no momento certo, abraços que se alongam, lembranças que nos alcançam, amigos que nos cercam, verdades que nos guiam. A felicidade chega e a vida é mais fácil. 

Ainda falta para me completar, mas o que tenho por perto é o que faz todo resto possível. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

“Quilate” (15/10/2012)

O olhar que sai pela janela ainda é inocente
Sonha sem limites com a felicidade
Não importa quão calejada esteja a alma
Pensamos no mundo como lugar de todo possível
O que a gente deseja ainda não foi traído
Ninguém o deixou por uma vida melhor
Nenhuma briga separou o abraço
Querer é a nossa parte mais pura
Seja para nascer o veludo azul
Ou mesmo o pedido por lágrimas que acompanhem
A palavra é sincera quando almeja
Tudo nessa vida tem uma chance
O homem que sai pela porta...
Ainda pode ser inocente

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

“Natural” (13/10/2012)

A natureza respeita a chuva
Em silêncio os animais pastam
Os pássaros saem a caçar
Os insetos não dão sinal no meio do mato
Cachorros se aninham sob a copa das árvores
As flores seguem seu desabrochar
O papagaio engaiolado cochicha
As folhas passam recado pelo vento
Mas nada pára
Trabalhadores discretos
Fazem tudo atrás do véu branco
Deixando a chuva ter seu momento de paz

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

“Porto” (13/10/2012)

O arpoador de sonhos acordou sob um forte nevoeiro. Conta uma velha lenda que um marinheiro solitário achou o caminho de casa seguindo apenas um canto. Deve ser uma história inventada por algum romântico. Verdade ou não, toda vez que desce a neblina, as pessoas se debruçam nas janelas e sussurram canções que só seus queridos sabem. Todos querem garantir o desembarque dos seus abraços. O que seria de um cais sem saudade, tem desejo que fica para trás, muda de nome, desaparece no horizonte. Tem gente que nunca parte e acho que de certa forma se arrepende de ancorar a felicidade no primeiro sorriso. A vida é mar, cheia de possibilidades. Colocamos nossa humilde nau sem bússola, sem estrelas, apenas com uma alma em busca do que a faça todo. Não deixe de cantar na janela e guarde uma vaga nesse cais...o sonho ainda volta meu bem, o sonho ainda volta. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

“Não se deixe” (08/10/2012)

Que vida é essa
Ocupada pelo nada
A negligência ao desejo
Tudo permanece incompleto
Mas o sonho precisa acordar
O amanhã tem que nascer
Deixar-se para trás
É acreditar que existe limite
Nunca vi alma grande demais
A fuga não deve ser regra
Deixar de desenhar expectativas
Não evitará decepcionar-se
 Não confunda calma com esquivo
Permita-se cada dia
Permita-se cada amanhã
Crescer é questão de altura
Amadurecer é questão de grandeza

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

“Fada” (04/10/2012)

Os dentes que deixei debaixo do travesseiro deram lugar para um sorriso. Não há uma vez que o degradê do horizonte não me deslumbre. O cheiro da chuva preenche minha alma. O vento que bate suspira esperança. Os olhos que não desviam me dão alegria. Os abraços que me envolvem constroem um lar. A tristeza nas calçadas me revoltam. A negligência no poder me amargura. O sonho ainda me dá forças e a verdade proteção. O conformismo me deixa inquieto e a divergência me cria opinião. O outro pode ser companhia eterna. Ninguém precisa significar exclusão. O laço que une uma sociedade é compaixão. Respirar nos dá uma chance. O mundo nos dá uma escolha. A vida pode ser mágica. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

“Entre Corpos” (03/10/2012)

Há coisas que só digo para mim. Não que precisasse dizê-las, já que posso apenas pensar. É que falar formaliza as coisas de um jeito para poder organizá-las e então entender. Mas é provável que se me calasse, ainda sim me entenderia. O que digo para mim mesmo parece ser secreto, tem ares de sagrado. Desconsidera que qualquer um, mais disposto e atento, pode perceber o que não digo. Talvez muitos sem muito esforço conheçam o que chamo de segredo. Fico aqui a proteger palavras que são públicas, que podem encontrar um par. O que digo no meu silêncio, guardo para quem? O que são essas coisas que ninguém pode saber? Parece que são exatamente as coisas que nos diferenciam, tudo que nos é único, escondido em palavras ditas na solidão. Quem sabe todo diário exista para ser lido e que façam isso a tempo para descobrirem a pessoa maravilhosa que podemos ser. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

"Deserto de Alma" (01/10/2012)

A secura dos dias chega na alma
São os goles de água que não completam a vida
Os corpos que endurecem sem afeto
O coração que arranha forçando desejos

Não há tempo bom em um mundo vazio
Para preencher uma vida é preciso vontade
Sonho se inspira no ar, mas o que fica por dentro?
No que exatamente a gente se transforma?

Que volte por favor o sentimento
Há espaços demais entre as palavras
Construindo abismos entre as pessoas

Basta um dia de esperança
Um olhar levemente atento
E a alma deixará de ser silêncio

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

“O tanto que me completa” (28/09/2012)

Um tanto de mim pode ser dor
Contrair os desejos até sufocá-los
Um tanto de mim pode ser desespero
Agarrar-me ao dia como se fosse o último
Um tanto de mim pode ser saudade
O suspiro que preenche o vazio
Um tanto de mim pode ser ilusão
A princesa presa no moinho de vento
Um tanto de mim pode ser sonho
O reflexo do sorriso no outro
Um tanto de mim pode ser esperança
A alma que insiste em dar o passo
Um tanto de mim pode ser cansaço
O gosto amargo que não sai da boca
Um tanto de mim pode ser concreto
Fechar todas as portas e janelas
Um tanto de mim pode ser cruel
Viver indiferente perto de ti
Um tanto de mim pode ser lamento
Olhar para vida como se fosse passado
Um tanto de mim pode ser solidão
Contemplar o teto somente meu
Um tanto de mim pode ser sorriso
A alegria que não cabe em mim
Um tanto de mim pode ser indefinido
A chance de mudar de opinião
Um tanto de mim pode ser realidade
O chão que me impedirá de cair
Um tanto de mim vai ser omissão
Tudo aquilo que apenas sinto
Um tanto de mim pode desistir
Porque nada permanece igual
Um tanto de mim pode ser amanhã
Os encontros que esperam a hora certa
Um tanto de mim pode ser a chuva
O beijo velado no véu transparente
Um tanto de mim pode ser partida
Para que aprenda a abrir mão
Um tanto de mim tem de ser abraço
Para que o coração tenha abrigo
Um tanto de mim pode ser o suficiente
Deixar uma marca no mundo
Um tanto de mim pode ser plena felicidade
O fim de tarde bem acompanhado
Um tanto de mim sempre será paz
Enquanto permanecer fiel as minhas escolhas
Um tanto...

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

“Pertencer” (25/09/2012)

O corpo pode correr em círculos
Saborear o amargo mais de uma vez
Abraçar a dor no travesseiro
Respirar fundo sem escapar
O nosso corpo aguenta
A alma é o nosso limite
Lá a vida perde a cor
A vontade dissipa no ar
Toda alegria fica escassa
Todo passo vira abismo
A alma grita
O corpo pode ser indiferente
Conviver sem amizades
Silenciar sem sufocar
Atravessar o dia sem ser notado
O corpo pode vagar vazio
A alma precisa do que a complete
Pede um propósito para vida
Coloca um sonho no horizonte
Insiste na felicidade que não conhece
O corpo não sabe seu lugar
A alma tem endereço

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

“Não há regras” (25/09/2012)

Era um sinal de boa sorte
A chuva na manhã do encontro
Escolheu sua melhor roupa
Não tirou o sorriso nem no banho
Abriu a porta para esperança
O passo incerto e o resto do corpo coragem

A mesma chuva o outro não sonhou
Estragava seu penteado e planos
Pensou em não ir, saiu na última hora
Não conseguiu disfarçar a insatisfação
Abriu a porta do carro para partir
A mão certa lhe segurou e o resto do corpo se entregou

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

“O Coração e O Amor” (18/09/2012)

Há muito tempo atrás, aqui nessa mesma palavra, viviam muitas outras. Declarações, loucuras e tragédias. Nunca pareciam ser o bastante, partiam sem chegada, tinham uma pesada bagagem, creio que jamais foram livres. Eram alguns gritos, outros quase apenas pensamento, que rodeavam o mundo sem sucesso de lhe chamar a atenção. Pobre palavras frustradas, queriam apenas servir seu destino. Eram abismo sem resposta, não importa onde tentassem chegar. Até onde vai uma palavra? O mais fundo que já haviam ido era no mergulho de uma lágrima e desta conquista não podiam sorrir. Pois as palavras tinham um plano. 

Rima por rima desmontaram-se os versos e pelo silêncio perdiam a formalidade das métricas. Elas que já tinham pulado de precipícios, foram caladas sem motivo, desconsideradas como se fossem ilusão; Agora se retiravam, sem protestos ou vinganças, mas por escolha. Sabiam de alguma forma que não precisavam encontrar o caderno apenas nas tristezas, pois afinal tudo que vive respira, nem que seja um pouco, de alegria. Já passava da meia-noite quando o encontraram de braços abertos. Foi uma verdadeira festa. Cada palavra lançava um verso que rimava com felicidade e tinham para si, em suas certezas, que haviam encontrado seus propósitos, e assim descreviam vidas maravilhosas. E mesmo assim o Amor andava cabisbaixo. 

Sentia falta do Coração e todas suas loucuras, todas as suas emoções, até mesmo a tristeza tinha deixado saudade. Ele não se incomodava com o eterno sonho, ou com os desejos que não se completavam. Sentir era suficiente. Mas quem lhe daria ouvidos? As palavras estavam alegres, livres, falando de borboletas e nasceres do sol. Sem melancolias, entrelinhas, ou coisas do tipo. Eram claras, objetivas, uma só. Ninguém queria voltar. O Amor tinha consigo a esperança, que as outras palavras tinham deixado para trás. Esperança que essa felicidade também existia por lá. Mas não havia argumentos, foram anos de procura, agora elas queriam a vida. 

Foi no fim de um inverno, depois de muito falatório, avisos e das palavras se repetirem em suas histórias, que o Amor partiu. Levou consigo a esperança e mais nada, era só silêncio. O caminho era longo, mas ele não olhava para trás, seu destino era sentir e para isso não precisava das palavras. Depois de dias e noites com a esperança que não lhe deixava nem nas intempéries, ele ouviu e reconheceu de imediato aquele ritmo, quase que como uma música que o estava chamando. Abriu os braços, beijou o chão, fez juras e uma única promessa: de jamais voltar a partir. 

Hoje não há palavra que encontre o Amor e olha que muitas delas tentam. Todas sabem onde ele mora, lhe mandam recados, mas não saberiam descrever o seu caminho. Hoje o amor vive de olhares e esperança, e também dizem que volta e meia, a felicidade visita seu abrigo. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

“Contexto” (17/09/2012)

O que aqui escrevo está condenado
Retrógrado, antiquado, parcial
Censurado e perseguido
Pelas causas que não nasceram

A palavra está sujeita ao futuro
Contextos mudam significados
Interesses pedem pontos de vista
Não há meio termos, apenas lados

O consagrado pode se tornar grotesco
Como um dinheiro que perde valor
Uma interpretação que desfaz uma obra
Quem serão esses donos da verdade?

Ninguém está aqui nesta escrivaninha
Como garanto que ninguém esteve lá
O passado não vai moldar o futuro
O poeta registra sua época
O homem constrói sua história

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

“Não Ainda” (15/09/2012)

A brisa ainda sopra entre os raios de Sol
O inverno permanece como pano de fundo
Insistente em reinar por toda sua época
Ele gela as madrugadas
Esconde o mundo na cerração enquanto puder
Raramente ainda consegue unir negras nuvens
Ele sabe que seu tempo é escasso
Mas não desiste em vivê-lo na plenitude
Pega desprevenidos os que olham, mas não abrem as janelas
O horizonte engana, ele ainda está aqui
Não é uma simples questão de nostalgia
É entender qual lugar pertencemos
O inverno não vai se importar de partir
Mas vai soprar esse vento gelado até lá
Todo mundo tem seu propósito na vida
Não há porque desistir antes do fim
Abri a porta e deixei a estação entrar
Contar para mim seus últimos segredos
Ainda há tempo de um abraço
Ainda existe melancolia no fim de tarde
Ainda sopra um vento virtuoso na alma
O inverno ainda há de convalescer os corações

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

“Manchete” (13/09/2012)

A palavra se precipitou
Entregou a verdade
Nas mãos da ilusão
Passou seca pela garganta
Desaguou em desespero
O sentimento mora perto

A tragédia é diária
Corpos alheios do contato
Ruas cheias de objetos
Mas nenhuma revolta
Tudo já virou paisagem
Desde a alegria até a miséria
A palavra também abriu mão

A fé no que é humano
Sobrevive ao jornal na TV
Ao tiroteio no cruzamento
À fome do concreto
À sede pelo poder
Até que a última voz se renda
E não exista mais porta para bater

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

“Um dia de cada vez” (10/09/2012)

Perdoa se o alvorecer parte
A felicidade é perene
Os caminhos que se desenham
Sempre voltam

A primavera pode ser a primeira
Mas os espinhos já feriram
O que vinga nesse jardim
É vida que desconsidera o tempo

O fim de tarde guarda a cor da memória
O mundo gira em nostalgia
O sonho recria o encontro
Acordar é sempre um novo desejo

Perdoa se a noite volta solitária
Não é preciso nenhuma aurora
O sentimento é a eminência
Do que já existe fora de si

Dorme com a certeza
O futuro é um lugar desconhecido
Mas para onde viajamos com a alma
Levamos quem a gente quiser

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

“O sorriso da palavra” (05/09/2012)

A palavra deixou de doer
Perdeu assim, sua companhia
A alegria figurou como desconhecida
Indigna de um comentário
Se fosse melancolia falando de felicidade
Reuniriam-se todos para aplaudir
Mas é apenas a verdade descrevendo realidades
O que é o amor se não derrama?
Nota pé de um jornal qualquer

Ninguém quer as palavras doces
O coração amargo não acredita
Mas compra tudo que é utopia
Cercando-se de um vazio
Como é difícil olhar em frente
Ouvir dizer que o sonho existe
E nem poder ver o teu desenho
Que triste fim à palavra sorriso
Descobrir-se solidão como o inimigo

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

“Amor é parte”

O mundo existe sem amor
A madrugada faz companhia
A penumbra suspira
O Sol se levanta
O horizonte colore
Os olhos resguardam
A alma ainda é profunda
A natureza respira
Entre cantos e sopros
A chuva vence o concreto
Alimenta vida
O passo segue em frente
O desejo continua doce
O abraço aconchega
A mão estende
O céu vira brigadeiro
O amigo da risada
Nada vem de graça
Tem patrão, tem horário
Sorvete na praça
Jogo de futebol
Tem pôr-do-sol
O cansaço do final
Um lar para voltar
O pensamento que se perde
A esperança ainda vive
Tem sonho, tem reza
As estrelas brilham
A felicidade é possível

Viver com amor
É uma escolha

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

“Refeição a meia-noite” (21/08/2012)

Sobre a mesa o silêncio
À meia luz de um pensamento
Na penumbra da palavra
A paz suspira

Entre paredes inertes
Reverbera a falta nos ouvidos
A chance de fuga essencial
Para os meandros do que é próprio

Sento-me neste cômodo
Sirvo-me de calma
Desfaço-me por pedaços
Sou apenas um despercebido

Raros seriam os indivíduos
Que ao jantarem sós
Enxergariam na solidão
A grandeza de ser nada

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

“Amanheceres” (14/08/2012)

A madrugada ainda não nos deixou os olhos, mas os pássaros cantam anunciando o dia. A aurora parece nos perseguir ao longe e ficamos espremidos entre a manhã e a noite. O tempo nos é tão escasso que escapa enquanto precipitamos nossas mãos até a janela. Um gesto ainda meio sonhado que ao término já encontra as nuvens brancas do seco inverno. Sábios são os pássaros. 

O humano acostumou-se a construir-se e viver sobre a natureza. Mas a conformidade não faz das coisas uma verdade. Não conheço flor que seja pano de fundo. Se pudesse dormiria de fronte ao horizonte para que o raiar viesse me lembrar da vida, e o encontro entre o sonho e a realidade não fosse tão súbito.

Penso que talvez se não invadisse a madrugada, o Sol me revelaria meus desejos e seria então só dar bom dia para a felicidade. Mas é provável que tudo permaneça na penumbra do amanhecer. Uma chance, como todo dia o é.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

“Endereço” (07/08/2012)

As paredes são de abraços
As janelas de memórias
Os armários guardam amores
Debaixo do travesseiro escondo desejos
Na cama deita a paz
A felicidade deita ao lado

O meu lar caminha junto
Basta fechar meus olhos
E me aconchego na melhor poltrona
Diante um horizonte improvável
Tudo se torna possível
Quando a vida passa por dentro

Peguei pedaços do caminho
Desenharei um imaginário
Erguido de palavras amigas
Coberto de sonhos
Quem sabe para onde voltar
Pode ir onde quiser

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

“Domingo a tarde” (20/08/2012)

Guardo sobre meus olhos uma esperança que você fique e amanhã bem cedo possa lhe separar os cabelos e beijar-te um bom dia silencioso quando sair para trabalhar. Deixarei a mesa posta e um verso para alegrar tua manhã. Se me faltar inspiração direi que te amo, e ele dispensa rimas. Falarei que ainda não aprendi a acordar anjos para me defender caso me cobre os carinhos matinais. Ah, como desejo lhe encontrar para o almoço, trocar palavras ou abraços nos dias mais difíceis. Imagino um futuro como se fosse agora e as rotinas fossem assim atemporais. Mas não fosse também, nossos mimos seriam outros e só me importa saber que ao final do dia encontrarei teus olhos e o amor que deixei contigo.

Hoje vivemos nestas beiradas de sonho com intensos dias que invariavelmente se acabam. A semana separa nossos corpos, mas nossos pedaços já foram trocados. É curto, as vezes insuficiente, mas acredito no amor como completo, que preenche uma hora da mesma forma que uma vida. Você é o norte de minha alma e com isso fico em paz com a distância. O sentimento que guardo na minha esperança é o mesmo que guardo contigo todo fim de domingo e você sempre traz de volta.

Nosso mundo ainda vai crescer um bocado até que nossos dias se cruzem como um só. O segredo que descobri é que domingos acabam, já nossa vida juntos continua. Logo a esperança desembarca nestas nossas beiradas de sonho...

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

“Gestos” (01/08/2012)

O olhar procura pela alma
Beijo é apaixonado
Abraço é incondicional
Falar para defender o sentir
O pensar arquiteta o sonho
Abrir o peito por inteiro
Estender a mão pela chance
Contrair o estômago na incerteza
Suspirar pelas tristezas
Respirar pela vida
Chorar sem restrições
Caminhar pelo encontro
Viver para se completar

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

“Para as Tardes Vazias” (31/07/2012)


Me faz companhia nas tardes frias, um amanhã. O sol vence o horizonte como que num carinho nos cabelos e levanta os olhos com uma brisa. A estrela solitária que brilha intensamente e sombreia o amor que dorme ao meu lado. A felicidade me preenche como o ar que respiro, mas ao contrário dele, não me deixa. A casa tem tons avermelhados como de uma memória viva. São os tons da alegria. Levanto-me para preparar o café e de longe observo no quarto dos fundos a criança que dormiu mais uma vez com os pés para fora das cobertas. Um filho é completar uma vida. Descer as escadas com estes amores repousando em paz é a certeza de um lar. Compro o pão fresco, enfeito a mesa. Logo os passos correndo da criança vão avançar sobre o corpo da mãe, ambos vão se matar de rir. E eu que por tantas vezes ouvi de longe pessoas se divertindo e me senti mal, distante, à parte; Desta vez vou chorar sem me conter, pelo maior presente que poderia ter nesse mundo. De olhos marejados beijarei minha esposa, abraçarei meu filho e nada me faltará.

Um homem com um sonho, não é um homem só.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

“Escola” (30/07/2012)

O nosso espelho envelhece
O sonho já não dorme
As paredes agora falam
A alma tranca a porta

Quando a dor arranha a pele
É preciso que sempre chova
Somos muitas coisas antes da cicatriz
Somos irreconhecíveis depois dela

O amor vai suspirar lá fora
A felicidade esmaecer na lembrança
O olhar adotar o silêncio
Viremos a velar a palavra

Num mundo desprovido de cor
O sorriso se confunde na paisagem
Como acreditar no horizonte
Sem diferenciar a tristeza da alegria

O sonho é como o vento
Não se vê, mas se sente
As vezes fica sem soprar
Mas ele sempre volta

É preciso se reeducar a chance
O coração as vezes azeda
Mas jamais estraga
A vida é sempre possível

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

“Gosto de Você” (24/07/2012)

Gosto de você pressionada contra meu peito
Sob a jurisdição do meu carinho
Aqui te ouço inspirando nosso amor
E expirando tua saudade
Sinto-me abraçando o mundo
As duas pontas dele terminam em você

Todo ano voltaremos aquele verão
Quando pedi pelo teu coração
Lembro dos dias que não esteve aqui
Mas tua presença preenche passado, presente e futuro
Quando não se deita ao meu lado
Deita-se nos meus sonhos

Farei os preparativos para que fique
Plantarei os sentimentos no jardim
A minha certeza é que estaremos juntos
E assim não precisaremos ser eternos
O corpo e ideais mudarão
As almas permanecerão um lar

Gosto de você aqui
Aconchegada sobre nosso romance

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 30 de julho de 2012

“Auto condenação” (19/07/2012)

O horizonte se fecha
O vento espalha o frio
O galho seco se quebra
Nada vale o meu lamento

As paredes me cercam
A cama me recolhe
A vida me esquece
Foram minhas escolhas

Sou pedaço arrancado
Sou carta fora do baralho
Sou alma sem lar
Meus amores derreteram

O que criei no espelho?
O que reflete lá fora?
O que sobrará da ideia do “eu”?
Respiro no auge da exaustão

Arranco suas raízes
Despejo seus versos
Dispo-me dos quereres
Pedindo para que me salvem

Se me resta ser culpado
Que o dia gentil me arraste
Farei meu apelo no amanhã
A última instância da esperança


Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 23 de julho de 2012

“Ensaio sobre a esperança” (17/07/2012)

O ser humano vive a andar sobre fronteiras. Ele e o próximo, o sonho e a realidade, a escolha e a desistência, a vida e a morte. Mesmo assim ele segue, ignorando os perigos dos seus passos. O humano segue mesmo que ninguém tenha lhe prometido algo. Uma vontade interna que absorve os obstáculos, que olha em frente com uma certeza inexistente até para si próprio. A mente jamais será uma alienada, sei que não. A verdade é que a efemeridade desta passagem os fazem agarrar ao menor fio de esperança.

Eis o diferencial humano. Este espaço na alma dedicado as coisas que não são. A espera eterna de realização, plenitude e equilíbrio. A total irrelevância do possível. A força de acreditar em uma ideia. Não importa se a maré sobe e o afoga, ou mesmo que tudo seque. A chance basta.

A esperança não é um sonho, nem uma verdade. Não é um lugar para se chegar. Ninguém a espera. Ela não se completa, apenas mantém vivo. O homem só precisa de uma busca.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 19 de julho de 2012

“Tangência” (16/07/2012)

No final do que é lúcido
Reside uma verdade
Calada pela razão
Quando se represa sentimentos
Não se rompe fronteiras

Na beira somos o real
O risco incalculável
Um pulso de um coração
Precipício abaixo não há escolhas
Seremos apenas emoção

No limite de nós
Só existe incerteza
O sonho que não chega
O amor que não se deita
A chance do mundo passar
Sem ao menos te tocar


Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 16 de julho de 2012

“Preferências” (13/07/2012)

Tem gente que gosta de gesto
Evita dizer adeus
Cala com um beijo
Completa com o abraço
Traz flores e chocolates
Torna sagrado segurar-te a mão
Não olha para trás
Acaricia o rosto e foge com os dedos
Fecha os olhos e leva o sorriso
Uma alma profunda
Que não sabe pedir para ficar

Tem gente que gosta da palavra
Faz serenata na janela
Manda poesias por cartas
E sentimentalidades ao pé do ouvido
Faz de você todo vocabulário
Entrega seu bom dia e boa noite
Fala mais que pensa
Tem mais desculpas que verdades
Conhece as letras que doem
Sabe contar uma ilusão
Faz tudo soar como adeus
Uma alma imensa
Que não sabe voltar atrás

Não há muita diferença
Uns dizem eu te amo
Outros tem um silêncio que te arrasta

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 12 de julho de 2012

“Clemência” (10/07/2012)

Deitou-se à sombra da palavra
Silenciado pela noite precoce
Um corpo saciado pela vontade
De alma vendida a ilusão

Era fácil confundir as fuças
Como mentiras e verdades
Repetiu-se como mantra a injúria
Terminou como reza a lamentação

Foi o último respiro de esperança
Calado ao pé da macieira
Pecando em troca de vida
O poeta e a rima

Desistiu pela primeira vez
Caia a última máscara
Sem verso para vestir a realidade
Apagou-se também o horizonte

A noite dormirá em paz
Mas para onde irão os desejos?
O mundo acordará em breve
Sem um único suspiro de amor

Durma de olhos abertos
Rasgue seus últimos escritos
Pinte mais um romance
Para que a lembrança nos leve em frente

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 9 de julho de 2012

“Abraço de Adeus” (09/07/2012)

Tardes frias não são em vão
O mundo sente
Contorce, espreme...chove
Marcas da partida
Fica o humano sem a essência
Espalhada como confete em lembranças
O vento sopra para levar
Alguém encontrou sua paz
Nós teremos que reencontrar a nossa

Tardes frias se despedem
Pois tudo merece um adeus
Toda lágrima precisa escorrer
Os destinos e seus encontros
O coração agasalhado de abraços
A certeza do insubstituível
Doerão como o Amor
A vida não pulsa por apenas um

Eu vivi madrugadas inconcebíveis
Amanheci em um gelado dia de outono
Conforme se dissipava a presença
Descobri o quanto existia em mim
Ponderei sobre a estação fora de época
Não saberia imaginar algo melhor
A última lição foi sentir com o mundo
Sorrir pela vida...mesmo quando se vai

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 5 de julho de 2012

“Ímpares” (04/07/2012)

Completar-se é apenas uma peça do quebra-cabeças neste mundo. Construímos nosso lar, preenchemos seu vazio. Mas do outro lado da janela do trem, na plataforma dos sentidos opostos seguem os desencontros. Almas que seguram mãos sem saber porque. Rostos que não se tocam, pessoas que se conformam. Não canso de ver desembarcar desilusões, trocando lugar com a solidão. A espera pelo sonho. Constante, cruel, fria, rotineira. Corpos recostados pelo tempo, olhos perdidos no fim do túnel. Há tanto sentimentos aguardando pelo encontro errado. Gostaria de vê-los embarcar sem destino, livres de dúvida. Mas essa liberdade é utopia. Eu parti, mas na procura de me reencontrar. Todos queremos um par.

Em algum nível o mundo sempre permanece aos pedaços.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 2 de julho de 2012

“Modernidades” (27/06/2012)

Atrás da poluição nasce o dia
Árvores secas, pés descalços
As paredes frias do quarto
O mofo no espelho, o rosto conformado
A realidade atrás da porta
Um cumprimento funcional
Laços efêmeros, presença vazia
Todos alheios a própria existência
Ignoráveis verdades, corações fechados
O caminho para casa é longo
Existe distância maior do que do desejo?
Enterrado no sofá, a chuva se dispersa
Aprisionado ao âncora
Lembrança do perigo lá fora
A tranca por dentro, o medo do próximo
O muro de arame farpado
Corpos desesperadamente evacuados
Almas a procura de abrigo
A terra dividida sem espaço
O travesseiro é de pedra
O sonho não é de graça
Se rezam, dispensam palavras
Nem o ar aqui transita
Concreto não respira

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 25 de junho de 2012

“Portos e Tempestades” (22/06/2012)

Despencam os raios sobre a vida
Tudo parece tão longe
Nosso passado se mistura na chuva
É sentir sem lembrar
Eu sei o quanto doeu
Só não sei descrever seu lugar

Certas coisas viram paisagem
Presas numa parede inerte
O mundo agora só passa
Desde quando ancoramos nossos pés
Hoje a maré só traz
Aprendeu o caminho de casa

Não voltarei a navegar sozinho
O norte será nosso
Enfrentaremos o futuro revolto
Descobriremos outras felicidades
Abraçaremos o amanhã incerto
Faremos do coração morada da alma
Não voltarei a soltar tua mão

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 21 de junho de 2012

“Ensaio sobre o romance” (20/06/2012)

Tudo para voltar ao mesmo velho canto do travesseiro, com a mesma tempestade caindo lá fora. A alegria reserva o mesmo leito da infelicidade, dorme ao lado da tristeza e acorda no frio de um inverno. Por todos os passos de nossas dores, ela existiu. Nos encolhemos vezes demais, e ela é dessas que se alcança.

Tudo começa quando se abre os olhos, cansado de seu inchaço e vermelhidão. Resolvemos olhar para o mundo nem que seja sem cor, nem que apenas sobre rancor. O olhar é um lugar de intempéries. Reside nele nossa intenção, já de muito frustrada, acolhida pelo medo. Em segundo plano tudo que queremos ignorar, como se pudesse impedir a beleza de uma flor. A vida te encara. No fundo dos olhos dela, como se fosse teu primeiro encontro, alguém olha de volta.

É quando abrem-se os braços. A esperança de prontidão que vence por pouco nossas resalvas. Mas o humano guarda essa vontade de se completar na vida. Mesmo que seja um vulto, mesmo que passe sem notar-te, mesmo que a estadia seja breve, mesmo que no fim a mão volte vazia...Não há como não estender-se a chance de que aquele próximo, seja seu único.

É quando se abrem os sorrisos. Seja um instante, seja a eternidade. Sabemos que nesse gesto tudo ficará bem, independente da palavra, da presença ou mesmo do amanhã. Basta este sorriso a cada novo encontro e tudo nesse mundo tem ao menos o sonho de ser feliz. Basta estar de olhos abertos.

O amor verdadeiro te faz chorar. Afinal a felicidade que finalmente preencheu aquele vazio, é digna de uma lágrima no velho travesseiro.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 18 de junho de 2012

“Volta e meia” (06/06/2012)


Faz tempo que não visito as palavras que condensam as dores em gotas de chuva. Tem me passado em silêncio a melancolia. Como se o amor pudesse realmente sobrepor a todo resto. Mas os céus ainda choram e as folhas ainda despencam. O concreto pode até não invadir a chama, mas revoga inúmeros abraços. Essa vida dói e contrai nosso âmago seja felicidade, sejam as tristezas. Ela está aqui para te fazer sentir sem meios termos. Nada menor que seu melhor te fará sobreviver aos invernos. Sem o amargo não se reconhece o doce e esse caminho poderá lhe parecer, mais de uma vez, o errado. Apenas faça da escolha algo teu. É provável que o outono venha despetalar teus amores. Uma raiz falsa só trará mais dores para arrancá-la. Meu conselho aos olhares que contemplam a vida escorrer melancolicamente pelo mundo gelado, é: plante bem esta tua solidão e , com um pouco de sorte, não haverá espinhos na primavera.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 14 de junho de 2012

“O segredo da Areia” (04/06/2012)

Sussurrou-se
Como se fosse sagrado
Seguiu-se ao pé do ouvido
O sonho de um poeta

Desenhas-te na areia
Grandes acontecimentos
Postos sobre um soneto
Metricamente dramatizados

A maré tudo levou
Mas a rima ainda ecoava
Repetia a si as palavras
Caminhando para aldeia

Ao despertar os olhos
Era seguido aos milhares
Balbuciavam os mesmos lamentos
Exaltavam as mesmas glórias

Ó poeta do mar
Deixaste teus sonhos na areia
Eis a onda que levou-o
Para que todos pudessem sonhá-lo

O que mais quero eu
Do que uma reza
Se minha felicidade é procissão
Seu lugar é nas ideias

Os versos ficaram sem nome
A verdade sem papel
Uns lembravam de um conto
Outros ainda buscam os sonhos

Sussurrou-se....


Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 11 de junho de 2012

“Vai e Vem” (02/06/2012)

Coloquei-te em um frasco
Atirei ao mar
Veio então ancorar-te
Na areia do meu cais

Trilhaste o caminho para casa
No calçado trinta e três
Deixaste teu cheiro na varanda
E o café pronto ao pé da cama

Embrulhei-te no travesseiro
Para nunca mais te perder
Amanheceste um romance
Possível de se viver

Lembro-te ainda pequenina
Sonho flutuando na imensidão
Voltaste para minha alegria
Estrela guia desta canção

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 4 de junho de 2012

“Aqui” (02/06/2012)

O aqui é este lugar na beira da madrugada onde o sono não me importa. Quando imaginaria deixar o sonho em segundo plano? Já chorei nesse travesseiro, passei uma tarde muda ao pé da cama. Dormi em desespero por uma resposta, lamentei a distância, acordei vestindo o inimigo. Mais ninguém entrou neste quarto, só essências e contornos das vozes e corpos que impregnaram na alma os cheiros apenas para depois evaporar. Não houve poema, nem lembrança que se agarrasse as paredes. A realidade cansou de substituir a imaginação sem êxito. Flores murcharam e palavras envelheceram. Não posso negar a esses cantos que cheguei sim a desistir. Agarrado as grades da janela profanei. Silenciei todos meus pedidos. Dentro de mim moram cicatrizes e as mais puras verdades. O cru e nu. A face sem intérprete e o sentimento sem voz. Tudo nesse lugar já sorriu, tudo nesse lugar já sofreu, sem que ninguém jamais soubesse. Onde a vida mora, quase ninguém visita. Quantas vezes acabei só...

É por causa deste aqui que valorizo o corpo que por hora dorme ao meu lado. Mudaste meu reflexo no espelho, levaste as dores das paredes. Entrou sem invadir, abraçou sem ameaçar, amaste em reciprocidade...decidiste ficar. Agradeço a cada canto deste quarto, sorrio a cada novo momento marcado. Nem sabes com tudo que convives, mas você destoa e dá novas cores a todo resto. O passado sustenta nossa verdade. A realidade fortalece o nosso amor. Onde a minha vida mora, você também vive.


Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 28 de maio de 2012

“Subterrâneo” (28/05/2012)


Aqui a vida passa
Não carrega nem leva
Passa
Comboios de destino
Sugados de vontade
Ausente no espaço
Presença não é só corpo
Murmúrios de lamentação
Mas nenhuma voz se levanta
Passivos do que os guiam
A luz não ilumina o horizonte
Todos satisfeitos com esse agora
Histórias nos reflexos dos vidros
Namoros de olhos desencontrados
A investigação sobre o outro
A surpresa de ser, também, observado
Cabeças a meia altura
Fogem do resto como de si
Ombros arqueados pelo tempo
O verdadeiro cansaço te acorda
Venceu teus sonhos
Como é difícil nascer nesse concreto
Mas se não há alma que tente
A vida passa sem desembarcar

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 24 de maio de 2012

“Confiança” (20/05/2012)


A manhã nasce
O sol deita sobre nosso rosto
E antes que os olhos precipitem
A mente imagina
Na efemeridade do segundo
Somos somente esperança
Desfeita a fantasia
Somos o cru do que tocamos

Um dia insisti
Voltei a fechar os olhos
Abri os braços e caminhei
Mas o mundo tinha se perdido
Os passos eram incertos
A alma não podia partir

Presos a realidade
Os corações ficam inertes
Os sonhos suspensos
Se coubesse nossa vida
Naquele milésimo de promessa

Pois foi em um desaviso
Que meu corpo recostou no próximo
Ancorou-se pelos dedos
E se viu livre para acreditar
Desenhou universos inteiros
E ao abrir os olhos
O sorriso ainda estava lá

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 21 de maio de 2012

“No limite da mágoa” (17/05/2012)


Pereceu hoje pela manhã a última gota de lágrima. Seca contra o vidro. Sua marca virá a esmaecer em tons de bege ao lado de outras memórias. Sujeiras que se limpam como o canto de um olho. O corpo que foi levado na maré da tristeza repousa sobre a areia, devolvido a mercê dos próprios passos. O sol não o acorda, o vento não o incomoda, a chuva lhe é indiferente. O sentimento perdido aleijou-lhe de vontade. Assim diariamente nega o horizonte que nasce. Ninguém é cego de paixão, apenas depois dela. Pela janela passaram prazeres, atrás da porta do quarto ficaram os desejos e a casa permaneceu fechada. Guardado no fundo da cama o humano por trás da vida.

Tudo que se sente está do outro lado. Fechando os olhos para o mundo, passam também as alegrias.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 17 de maio de 2012

“Expirando-se” (14/05/2012)


A carapuça serviu
Como máscara de baile
Acostumou-se com a fantasia
As paixões que ardem
Os contos que acordam
Veste-se esse sorriso barato
Despe da realidade vigente
As verdades e a razão
O lógico e o possível
O só se tornou todo
Como se não pudesse ser mais nada
Abandonou a si no espelho
Saia com a roupa de outro
Abria jornais os quais não lia
Dormia sobre sonhos desconhecidos
Passos sem caminho
Mandava cartas para si
Nunca chegaram
Mudou-se de alma
A existência lhe ficou vacante
A insensatez é humana
Que ao sentir abdica do “eu”
Mesmo fazendo parte do “nós”

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 14 de maio de 2012

“Despetalando Nuvens” (07/05/2011)


Rasgam entre as sombras do outono sorrisos amornados. Invejam aqueles que passam perenes sem proposta de destino. O inverno será uma prova, mas não o fim dos solitários. O sentimento é o tronco da árvore que por hora se desfaz, resistindo ao vento, encolhendo-se diante o mundo. Ninguém duvida que se manterá viva. Pois os rostos sem felicidade guardam na alma forças inconscientes. Essas se farão presentes quando faltar o abraço. A verdade é que contamos muitos invernos até começar a contar primaveras. A vida é um céu entre nuvens. As vezes plena, outras ausente. Quando olho para estes sorrisos a meia luz, passo a pertencer a uma esperança de que muito em breve eles amanhecerão plenos. 

Deixe o outono passar. Deixe o inverno ser. Os nasceres ainda hão de nos levar até as flores.


Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 10 de maio de 2012

“Sentimento Inerte” (03/05/2012)

Faz frio
Ainda não é madrugada
O que seremos noite adentro...
As estrelas são escassas
O concreto deixa tudo mais preso
Entre paredes escondemos a face
Deixamos para trás vazios
O vento gelado sopra
Sussurros de uma solidão
Não haverá cobertor que a cubra
Mas a alma sobreviverá ao inverno

Há um lugar em nós
Guarda um sentimento improvável
O desenho de nossa felicidade
O abraço mais profundo
Um sorriso para toda brecha
Vive no corpo uma chama
Seja ainda sonho ou realidade
Que faz do mundo aconchego
Todos plantamos amor a vida
Que engrandece quando nos encolhemos.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 7 de maio de 2012

“Virada no Tempo” (28/04/2012)


Tem dias que são assim. Enrolamos o corpo no cobertor, escolhemos o melhor lugar em frente a janela e deixamos chover. A vida ganha outra perspectiva no prisma das gotas que irremediavelmente tentam se agarrar no vidro. Eu prefiro recostar contra o parapeito, ficar à beira de tudo, sabendo que não farei nada. Podemos ser apenas retrato. Esses dias de frio deixam tudo na ponta do nariz. Um íntimo que te faz acreditar no resto, um aconchego que te traz paz. O asfalto se veste de natureza refletindo as árvores das calçadas. Tudo respira, se aproxima, aperta-se, como se fossemos só inteiros. Gosto de pensar assim. Largar esse papel de peça. O viver é tão moldável quanto os sonhos, a diferença é que um deles está nas nossas mãos. Ao olhar para fora o que está por dentro, ficamos mais possíveis. É encolhido na existência que descobrimos o total de nosso ser. É assustador, tanto que o dia deságua sem nem percebemos. Precisamos de um tempo para olhar para dentro e assumir os nossos sonhos. De tempos em tempos crescemos, enrolados no mesmo velho cobertor.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 3 de maio de 2012

“Imperfeições” (25/04/2012)

Vivemos a procurar os nuances de um amor, as suas delicadezas idealizadas que o fará nosso e único. Pois cabelos encaracolados todo mundo tem, mas só o seu cai pro lado direito, arrepia de pertinho e me deslumbra andando na rua. Olhos bonitos todo mundo tem, mas amendoados recheados de chocolate e grandes para caber uma alma, só você. Teu sorriso é centralizado, discreto, tímido e sincero, meio que pede mais. O rosto tem outras miudezas como lábios finos e o nariz todo perfeitinho. Tua nuca tem um rabo de cabelos lisos como de bebês. Já teus braços levam as mãos firmes de dedos compridos com um dedão um pouco desviado. A silhueta não é igual das outras. Tem um corpo proporcional, vistoso que você sabe valorizar. Tuas pernas arrepiam e teus pés são pequenos como de um anjo. Abraço todo mundo tem, mas só o seu me fez ficar. 

Talvez não ser o outro, seja o melhor que possamos ser. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 30 de abril de 2012

“Norte” (25/04/2012)


Somos rascunhos
Traços a procura de continuação
Não há borracha no caminho
Temos que assumir toda imperfeição
Peças aparentemente sem encaixe
Mas desvios são necessários
A vida não se completa em um círculo
Começa em serra sinuosa
Termina em planícies extensas
É tudo uma questão de rumo
Nascemos sem, vivemos com
Sejamos além do horizonte


Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 23 de abril de 2012

“As Marcas” (19/04/2012)

Quando só sobrarem meus pés para partir
Terei aberto mão de todo sonho
Deixarei para trás partes que não descobri
Não terei guardado um desejo para depois
Direi que esgotou-se o sentimento
Mas sem motivos do que me tomou partido
A felicidade sempre conta com o amanhã
Terei abandonado a ela também
Serei apenas eu descalço contra as pedras da estrada
O resto de mim estará em outrem
Corpos que abrigaram abraços
No fundo de almas, totalmente perdido
Inexistente da realidade que me cerca
Caminharei demais até outro que me faça vivo
Nada é longe quando desfeito de destino
Reconstruirei a ideia de mim
Aos moldes de algum paradoxo
Desaparecerei, irreconhecível aos pares
Forjarei o fim de tudo
Depois de se sentir pleno
É a única forma de se sentir livre novamente
Eu prometo jamais olhar para trás
Não serei leviano de deixar esperanças
Agora, tudo que amei, jamais irá partir

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 19 de abril de 2012

“Paradoxos Existenciais” (18/04/2012)

Sou palavra
Entrelinha em fuga
Um subjetivo traço
Em um horizonte contínuo

Serei fiel ao verso
Mesmo que a ti tudo esconda
A verdade jazerá aqui
Impublicável e exposta

Posso ser um imaginário
Pura construção
A ficção também existe
Basta vestir a fantasia

Como ser humano
Passível de um fim
Livre nas escolhas
Incapaz de dizer o bom ou ruim

No futuro não sei
A consciência é viver
O passo não vai tão longe
O sonho faz o que quer

Indeterminado sujeito
Oculto minhas intenções
Postergo meu respirar
Num pretérito de palavras

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 16 de abril de 2012

“As antigas primaveras” (16/04/2012)


Tonia, Odete e Virgínia eram muito amigas. Meio fora de época exibiam seus azuis, brancos e grenás em grandes coroas nos cabelos armados e volumosos em um demodê quase que ultrajante. Os perfumes fortes eu conseguia sentir da minha janela toda vez que passavam. Mas também não posso negar a graciosidade de suas maneiras e como enfeitam o chão onde se encontram. Passa o vento e elas delicadamente balançam seus braços colocando tudo de volta ao seu lugar. Tomavam sorrisos desatentos, olhares apaixonados. Ah, quantos sonhadores estiveram sob suas vistas, elas até sussurravam alguns conselhos. Teimosas sem dúvida, coisas da idade, ninguém sabe bem ao certo quanto tempo vivem ali. Não sei quando comecei a observá-las, mas elas falam da vida muito antes de mim. Fofocam feito passarinhos que cantam entre os galhos, quando ouço algum chiado, já sei que as três velhas amigas se encontraram no jardim.

Um dia desses as encontrei desavisadas espalhando flores pelo chão da praça, já faz tempo que passou a primavera, mesmo assim, por capricho talvez, forraram o chão de pétalas coloridas: azuis, brancas, e grenás. Foi uma alegria especial a um casal de namorados que deitados se divertiam ao despetalar mal-me-queres agora que já não os importava mais. Um velha senhora alcançou uma flor azul turquesa e pôs em seus cabelos abrindo um sorriso que parecia vir de muito tempo no passado. Um poeta, em dúvida e conflito, se deparava entre as dores das flores tiradas de seus lares, e os amores conquistados pelos buquês. Assim eram estas velhas amigas que mudavam qualquer rotina com seus enfeites. Chegaram até um dia a competir para ver quem tinha o mais bonito, mas há muito tempo aprenderam a dividir o mesmo espaço. Agora depois de velhas, resolveram brincar com alguns distraídos que passam sem saber onde estão, achando que talvez ainda possa ser verão. Divirto-me, toda vez que abro a janela e ao vê-las dançar entre os ventos vendo minha atenção aos seus trejeitos e espero em silêncio a travessura, coisas de velhas malucas, coisas de crianças eternas.

Hoje abri minha janela para o canteiro da praça recortado pelas avenidas. Foi só isso que avistei. As formosas madames de outro dia que imperavam em pleno outono estavam irreconhecíveis. Galhos secos, tronco curvado, e o chão aparecendo a terra. A poesia de minha vista tinha se desfeito durante a noite. Mas sorri. Não é a primeira vez que isso acontece, e elas sempre me entregam em segredo que voltam. Elas sempre voltam e eu fico aqui a espiar.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 12 de abril de 2012

“Além”(11/04/2012)

É fato que nos deixaremos
O corpo é morada transitória
Os sentimentos dissiparão
O amor uma fotografia
A amizade uma carta amarelada
A terra guardará as lágrimas
O sorriso levarei comigo
A história confundirá nossos nomes
Filhos de uma época
Como é difícil vencer nosso tempo
O agora é algo incurável
Quem falou em eternidade
Criou uma palavra não um significado
O mundo revogará o “nosso”
Objetos, espaço e sentimentos
Tudo padecerá em uma memória fraca
Na cadeira de balanço de um idoso bisneto
Tenho sorte de ter encontrado tudo aqui
Ao alcance do olhar de sonhos
Me importa o teu abraço
Quero é reler suas cartas
Quero viajar aos domingos
Marcar no corpo a felicidade
Pois a palavra já parte sem mim
Um verso para depois da vida
Não me fará diferença

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 9 de abril de 2012

“Uma Lenda” (05/04/2012)

Há muito tempo atrás existiu um sonho. Era de uma vida que deixava de ser só. Uma troca de um mundo por uma única companhia. Nesta existência se completavam os corpos, as almas, as palavras. Neste lugar havia espaço para se construir de tudo, até mesmo um futuro. Era uma imensidão preenchida com uma natureza sem fim. Existiam limites irrelevantes e regras ignoradas pelo olhar destes dois que figuravam distantes do comum. Tudo era diferente de dentro daquele jardim que criavam. O sol uma alegria e a chuva uma bênção, o vento uma necessidade e o frio um alívio, o sorriso espontâneo e o choro inevitável. Não existiam pormenores. Tudo era franco, aberto e possível. Nunca construíram uma rua sem saída se quer. Viviam uma continuidade sem esperanças de eternidade. O fim sempre fez parte. Mesmo assim o amanhã jamais invadiu o hoje e cada passo foi escolhido ao seu tempo. Encheram de cores sua história, fizeram do tesouro um invisível. Guardaram no outro toda força, toda paciência, todo carinho, sentimento por sentimento que os faziam crescer. A confiança que o próximo não seria vão mesmo se decidisse partir. As intensidades eram ausentes de propósito, atitudes realmente livres. Como poucos podiam ser plenamente, pois na presença jamais poderiam ser pela metade. Não era uma mão completando a outra, eram dois inteiros que em si encontraram e decidiram compartilhar o mesmo pedacinho de vida.

Este sonho acordou nos lábios de um contador de histórias. Ganhou diferentes versões pelos locais onde passava a procura da realidade. O conto alimentava os pés dos ouvidos e sua existência se tornou tão crível quanto seu imaginário. O homem não descansou enquanto não terminou de percorrer o mundo atrás daquela utopia. Em diferentes línguas sussurravam essas entrelinhas. Cada pessoa levou consigo um pedaço e construiu seu próprio sentimento. A fala reinventava a vida um dia imaginada. Então em uma noite deitou-se ao lado de cada alma este sonho coletivo. Amanhecia pela primeira vez o amor e ninguém jamais esqueceu.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 2 de abril de 2012

"Ser ou não ser" (30/03/2012)

Se um dia descobrir que não amo
Terei construído um jardim de inverno
Uma beleza presa em uma redoma
Verei a chuva escorrer no vidro
Incapaz de distinguir das lágrimas
Onde plantei a felicidade?
Prometa que mesmo sem o toque
A rosa seguirá seu curso
A dor é um sentimento que também nasce
O provável é que essa não tenha fim
Cultivarei ela como o amor
Preservando a parte viva de mim
Todo resto terá partido
No mesmo olhar que se fechou
Atrás da porta deixarei a lembrança
Partindo sem nada que não me pertença
O que se vive a dois jamais caberá em um
Um armário vazio de sentimentos
Um espelho vazio de sentido
Descobrirei o lado oco da alma
Sem amor não existirei em mim

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 29 de março de 2012

"Um dia" (27/03/2012)

Que saudade do profundo deste céu
Levando os pensamentos para longe daqui
O desenho de nuvens esparsas
Sobre esta realidade acinzentada
A janela do trem chorava
Outras vezes se abria
Sobre o mesmo caminho passava
Sem desvios ou rimas
O corpo andava estático
Por impulso do mundo
Em uma espera infundada
Fechava os olhos na saída do túnel

Entre os prédios rachados
Os carros sem rumo
As luzes apagadas
Os corações vazios
Olhava o horizonte
Achava um sorriso

A esperança é o improvável sentimento
Da felicidade que ainda não existe

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 26 de março de 2012

“Nossos Comuns” (22/03/2007)

O Outono chegou
Me trouxe os braços teus
Aconchego azul do céu
Abraços no edredom
Vento que sopra as folhas
Palavra que nos leva adiante
Um sol a meia força
Um beijo no banco da praça
Uma noite estrelada
Outro desejo de eternidade

Sempre nos chegam estações
Nem sempre companhia

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 22 de março de 2012

"Leito" (16/03/2012)

Fecha os olhos e a janela
Vem ver o Sol nascer
A meia luz de um coração
Que espera por você
Não corre não
Amor não precisa de hora
Apenas um abraço e uma canção
Façamos de cada aurora
Um novo alvorecer
Se ponha nas minhas costas
Madrugue nos meus lábios
Dance seu corpo nas notas
Que derrubam teu silêncio casto
Deflagre o interior do sonho
E lembre que no caminho da realidade
Vais me encontrar risonho
Na alvorada dos teus olhos

Hoje dorme tranquila a felicidade
Sob uma garoa de outono

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 19 de março de 2012

“Novo compasso” (15/03/2012)

Fecho a janela com um sorriso
A felicidade ficou dentro
Já tenho quatro cantos de mágoa
Precisava pendurar essa alegria
Há romance em todas as prateleiras
Agora a vida saiu do armário
Estou vestindo sonhos renovados
Sento na cadeira sem imaginações
A realidade encosta nos desejos
Meu suspiro preenche esperanças
O tudo também é aqui
Confessei tanto nessas paredes
Preciso contar as boas notícias
Assim quando me voltar ao íntimo
Também encontrarei minha paz
Quando ser feliz é possível
É sempre possível voltar a sê-lo

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 15 de março de 2012

“O primeiro eu” (12/03/2012)

Juro que foi aqui
Entre essas mesmas grades
Enxerguei a vida
Respirava um ar de chuva
Sonhos suspiravam no asfalto
E ao céu rogava minhas aflições
Abracei inúmeros silêncios
Havia alguma paz na imensidão
Ali ancorei-me
Coisas que jamais me deixaram
Não eram verdades imutáveis
Não eram princípios conservados
Foram caminhos que escolhi
Destinos que voltei a mudar
Partindo dos sinais daquelas noites
Adiando o fechar da janela

Aquele parapeito não é tão longe daqui
Não penso que sobrevivi
Apenas me criei

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 12 de março de 2012

“Sereno” (06/03/2012)

A palavra pode precipitar
Morar nos desejos
Esquecer-se do corpo
Querer sem conquistar
Posso em toda inocência
Propor o que é do amanhã

A palavra pode ser tardia
Deixar a vida virar a esquina
Esperar o sonho acordar
Decidir depois do outro
Posso na inexperiência
Ver o agora partir

A palavra pode ser silêncio
O olhar de bom dia na cama
O sorriso na plataforma do trem
A mão que se entrelaça na madrugada
Posso com o passar do tempo
Não amanhecer longe daqui

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 8 de março de 2012

“Antiga morada da paz” (28/02/2012)

Conheço muitas terras distantes, fictícias ou não, onde vagam corpos inóspitos. Lugares que passei procurando vida, que me juntei aos outros, que fugi de tudo. Há lugares, assim como o mar, aparentemente homogêneos, mas cheios de imensidão submersa. Caminhei, por muitas vezes, sem ser o único, o primeiro ou o último. Todos partimos para longe quando crescem nossas inocências, quando uma primeira parte de nós não pode mais acreditar. Vivi a esmo entre sonhos e passos. Acima de tudo, o incerto ficou companheiro e o resto virou uma tentativa de voltar. Não é fácil. Não posso dizer exatamente que sofri. Abracei solidões. Apaziguei dores. Acho que todo corpo encontra lugar nesse mundo, sozinho. Só depois de estabelecermos o “eu”, podemos pensar no “nós”. Foi em terras distantes que amadureci, em amores longes dos meus, em sonhos efêmeros, em sentimentos em construção. Só assim pude de encontrar completo. O mais surpreendente foi nos encontrar. Voltei.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 5 de março de 2012

“Tangência” (27/02/2012)

Estavam todos ali
Num canto de vida
Espremidos na sombra da fuga
Igualaram diferenças
Apertaram seus silêncios
Jogaram os olhos no horizonte
Uma esperança fortuita
Um destino paliativo
O outro voltaria a incomodar
Sua brevidade era aliada
Mesmo assim preferiam-se estranhos
O que há de tão desesperador
Na palavra que alcança o outro?
Nossas faces são os avessos da alma
Espantalho de tudo que é curioso
Escapam todas as peculiaridades
Vistas a olho nu do espaço
Distorcidas na ponta de nosso ego
O mundo é turvo para confianças
Assim permanecemos intactos
Trocando o mal da espera ao sol
Pelo mal da espera amontoados
Somos capazes de nos espremer
Num pedacinho de vida
E não tocá-la

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

“Filtro” (26/02/2012)

Respiro
Insistência poética
Acreditamos na inspiração
Que o ar condensa sentimentos
Que a vida pode escapar em um suspiro

Inspiro
Na busca do não dito
A palavra que veste silêncio
Um amor nas penumbras dos olhos
Um querer nos contornos dos sorrisos

Expiro
Abro mão
O real se completa na liberdade
A posse não cabe no abraço
O dever seca os lábios dos beijos

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

“Filosofia” (18/02/2012)

Poderia voltar a desenhar todo universo
Seria incapaz de dizer o que mudou
Uma parte de mim tomou vida
Mas ninguém consegue lembrar da tua ausência
Nem mesmo as fotografias lhe ignoraram
Só meu olhar te desviava
Levou-me a ti com calma
Deixou em paz tudo que não foi
Girou a moeda e aprendi a deixar partir
Sobrou-me a liberdade de caminhar só
Não sei exatamente quantos
Nenhum deles foi simples
Até que um dia acordou comigo
No canto da boca, discreto
Agora não sei o que nasceu primeiro
O sorriso no meu rosto
Ou você no meu coração
Os dois parecem uma parte eterna de mim

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

“Sentimentos Nômades” (14/02/2012)

Faz tempo que os pássaros voltaram do sul
Retomaram o canto entre as árvores
Penso no que encontram por lá
Mas hoje, quem repara no caminho?
A vida parece ser um lugar comum
Pano de fundo de rotinas
Ainda sim há frestas entre as folhas
Sei que ali as asas suspiram
Lembrando de um mundo com sonho de voar
Acredito que tudo perderá em breve a cor
Pois existem olhos que insistem em reparar
Se voltaremos a percorrer distâncias
Há o que buscar no horizonte
Se a manhã volta a nos acordar
Talvez seja o acaso superestimado
Façamos um rumo com propósito
Há mais do que calor em outro lugar

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

“Sensações a segunda vista” (08/02/2012)

Na penumbra da madrugada
Abraço uma dor incomum
Recostada no meu peito
Entrelaço meus dedos no labirinto
Sinto a pele que passa para alma
Perco a possibilidade da razão
Um sonho invadido
O olhar a recortar o inseparável
Penso até onde carregarei
Mas abro mão do tempo
Ela libertou meu pensamento
Dissipou meus quereres
Uniu tudo em um único lugar
O corpo que me envolve
Repousa contra o meu
O melhor peso que já senti
De uma paixão real


Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

“Solidão Pública” (01/02/2012)

As portas ainda fecham
Penso no que ainda é segredo
As fronteiras são pros outros?
Nos muros somos paradoxos
Seguros de tudo que não nos toca
Incertos de tudo que se poderia sentir

Essas trancas sem chave
Castidades aos corações
Nosso pedaço ainda livre
Que palavras só vivem em diários?
Quais cartas não podem ter destino?
Que almas deixam de respirar?

Arrombei todas as fechaduras
Nem o vento me agrediu
Como se o mundo tivesse espaço
Descobri que a multidão é outro esconderijo
Despi-me das dores e cicatrizes
Entendi que por aqui, a vida só passa

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

“Rotina” (31/01/2012)

Pensei acordar sob os mesmos céus ao enquadrar todas as manhãs o horizonte da minha janela. Olhei nuvens, tons de azul e pingos de chuva. Do outro lado tudo me pareceu estático, prédios, árvores, pessoas...principalmente pessoas. Assim desenhava meus dias, nos moldes ultrapassados do ontem, de cores cada vez mais desbotadas. Não há nostalgia que aguente. Não há espelho que não mofe encarando o mesmo rosto perdido, de olhos fundos sem quereres. Uma vida de paisagem para um corpo figurativo. Sem cena, sem ato, sem mão que se estenda. As portas já não se fechavam, não tinham o que deixar para trás, não havia surpresa, nem alguém para chegar. Pelas ruas vacantes, vagava, nesta aliteração que tenho certeza que também repito, e se nem o verso é livre como poderá ser o amanhã? Todo mundo quer este agora, vive-lo plenamente mesmo sem os controles dos segundos. Pois o que fazem os que querem tudo que está além do aqui? Beirando o desejo não há glória, bonitos são apenas os sacrifícios. Eu, crente da rotina, não pude pular, ao imaginar que minha escolha já estava marcada em algum passo de um tempo remoto. Ao verificar as marcas percebi que nenhuma era igual a outra, e que esta prisão do tempo, era minha ilusão.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

“Apesar” (26/01/2012)

Impressiona-me os pesares da vida
Ancoramos em todo cansaço
Carregamos a mágoa na carteira
Nos tornamos sempre sobreviventes
Um olhar além da lágrima
Um sorriso depois da palavra
Um verso a ignorar o ponto final
Inadvertidamente somos um corpo que insiste
Abraçados a motivos frágeis
Acreditando que não nos sobrará apenas
Mas seguimos a excluir nossos pedaços
Sentimentos de nossa história
Ignorando que também nos fazem parte
Carregamos este fardo à toa
Não podemos viver com ressalvas
A liberdade é, apesar de nada.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

"Sexta Passada" (20/01/2012)

Sexta-feira minha amiga
Acordaste-me num século distante
Onde os cavalheiros e damas
Cortejavam-se por cartas
Sou uma noticia que tarda
Ainda a vencer a estrada
Meu papel a esmaecer nas intempéries
A palavra a resistir pelo destino
Quantos passos ainda nessa eternidade?
Em que vale tu me escondes?
O sol voltou a se por longe
Acreditei em você em última instância
Conceder-me-ia o encontro anunciado
Mas me fará desbravar-te inteira
Empunharei minha espada por ti
De você sexta arcaica
Espero que me leve de volta
Aos braços que jamais de partiram

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

“Cangote” (19/01/2012)

Faço morada junto aos cabelos mais rentes
Respiro pele sem essências artificiais
Aqui meu corpo encontrou encaixe
Na cabeceira dos teus sonhos
Vejo as colinas até teus lábios
A planície até teus seios
Mapeio teus jeitos no olhar
Sinto todas as suas expressões
Minha mão corre suave
Envolve a cintura e descansa
A posse se entrelaça nos dedos
A alma liberta-se no amor
Aninho-me nesta penumbra
Enquanto ainda não somos amanhã
Moro em um pedaço do eterno

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

“Duas Unidades” (18/01/2012)

Eu criei um sentimento dentro de mim. Destes que a gente não cria para si. Alimenta, dá carinho, idealiza nos mínimos detalhes. É fato que o tamanho é apenas uma estimativa, é preciso colocá-lo no mundo e ver até onde. Acreditamos e esta é a primeira semente. A dúvida é sempre se acreditaremos sozinhos. Tem planta que só germina a dois. Guardado dentro de mim estava isto que ainda não tinha sentido. Alegre, completo, recíproco, sincero, disposto. Era raro demais meu querer, confesso. Mesmo assim não somos nada sem nossas escolhas. Passei por ilusões, sentimentos que não voltaram, até mesmo forcei-me a acreditar que seria possível ter, sem ver ou tocar. Tudo me venceu. Permanecia comigo a chance e nada mais. Caminhei por muitas outras almas e algo além do que a palavra traduz me chamou para perto de quem hoje rega a mesma roseira que eu. Diferente de tudo que poderia esperar, a semente vingou e cresceu por lugares ainda mais profundos, e o melhor, não nasceu só em mim.

São complicados estes sentimentos que se cria para os outros, que se enfeita e veste a espera que em alguém também sirva. Tudo baseado numa concepção, sem garantias da realidade. Sim, pode ser vão, podemos ter que recomeçar, é um desejo ao acaso, uma tentativa que nem sempre cicatriza. Insistimos por nós, e tudo que criamos é por si, um pedaço que seja. Há muitos horizontes para nascer até a estação certa. Não me peça por certezas, tudo pode vingar nesta vida com as condições favoráveis.

Eu senti, e seguia ouvindo o que sentia, até que um dia me disseste: “gosto tanto quanto”. Foi a primeira vez que tive a noção do tamanho do amor por mim. Não sei o que pode dar certo, basta-me a medida do coração.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

“Sintomas do Amor” (17/01/2012)

A brisa é de ar quente na nuca
O horizonte recorta uma silhueta
Dedos deslizam como gelo na pele
Um aninha-se no peito
Outro encontra abrigo nos cabelos

A manhã que brilha em outro corpo
A proximidade embaralha a vista
O rosto que reflete na vida
Um abraço que completa
Um beijo que não quer acabar

O sonho que não acorda
As cartas que encontram destino
O olhar que não se desvia
Um corpo que deita na cama
Outro que deita ao lado

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

“Ensaio sobre o perdão”

Dote dos grandes
Dom dos raros
Humanidade em gestos
Teu coração cabe?

Aprender a ser dor
Tirar o pedaço que não é teu
Fazer paz de feridas
Viver do retalho
Dar abrigo as sobras
Será que satisfaz?

Diante teu opressor
Apagada a ilusão do sonho
Servido o cru dos corpos
Abre-se mão do querer?
Ou dissipa-se o interesse?

Penso que perdôo
Pelas virtudes que vencem
Mas não posso fechar os olhos
A tudo que não me importa
A culpa e o rancor
São laços de união
E a ausência do perdão
O que te mantém no aqui

Ass: Danilo Mendonça Martinho

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

“Amor Desengano” (07/01/2012)

São as flores no jardim
Os contornos do sonho
A entrelinha da poesia
O desejo inconsciente
A imagem idealizada
Uma esperança no horizonte
Um desencontro constante
Tem cheiro da brisa do mar
Monta um cavalo alado
Deixa presentes na varanda
Confunde-se com o vento
Levanta a saia
Preenche a alma
Põe teus pés no chão
Cega-se por tua beleza
Declara ao pé da porta
Discursa ao pé do ouvido
Releva teus medos
Conhece todo seu gosto
Surpreende todos os dias
Enfeita teu caminho
Adorna teus cabelos
Não solta tua mão
Abraça sem amanhã
Não pede nada mais
Basta-se no olhar
Vive do sorriso
Projeta tudo para o infinito
É uma construção abstrata
O amor...são várias ilusões
Antes de ser realidade.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

“Paixonite” (03/01/2012)

Há um poema dentro de mim. Destes de marejar os olhos, de sentir orgulho. Só pode ser um poema de amor. Detalhando os caminhos pelas cicatrizes e encontrando algo desacreditado, um sonho sem visitas, tua verdade mais bem protegida. O poema mistura versos e prosa despreocupado de rimas e intenso na escolha das palavras. Sim, falará dos beijos molhados e dos corpos livres. Mas também vai lembrar da primeira carta guardada no criado mudo, próximo da nossa fé. Vai lembrar do olhar debaixo da chuva. Provavelmente descreverá a beleza de um ponto de vista totalmente parcial. Ele carrega a minha palavra mais preciosa e um ponto final elegante. Completa os sentidos que deixei pelo caminho, refaz meus passos por tudo que aprendi, abre os braços para tudo que não sei. Será uma composição que não saberei reproduzir, única, de forma bruta e deverá permanecer em palavra. Um poema que sussurra, mas não quer sair. Está a espreita de um raiar de Sol mais adequado. Ele é muito natural, mistura estrelas e flores com sentimentos. Quase tem cheiro. É um horizonte preenchido, uma paz conquistada, uma rima com o “você”.

Estou perdidamente apaixonado por tudo que ainda é silêncio.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

“Omissão” (03/01/2012)

Você é minha palavra em silêncio
Não conheço significado
Foge toda vez que tento
Temo que nunca volte
Mesmo assim me rodeia
Não quer virar esquecimento
O mundo jamais te assustou
Muito menos os julgamentos
A liberdade te prende
O que fará longe do coração?
Sabe muito bem teu propósito
Descobriu, talvez cedo demais
Nasceste amor...
Nada te calará

Ass: Danilo Mendonça Martinho