segunda-feira, 30 de julho de 2012

“Auto condenação” (19/07/2012)

O horizonte se fecha
O vento espalha o frio
O galho seco se quebra
Nada vale o meu lamento

As paredes me cercam
A cama me recolhe
A vida me esquece
Foram minhas escolhas

Sou pedaço arrancado
Sou carta fora do baralho
Sou alma sem lar
Meus amores derreteram

O que criei no espelho?
O que reflete lá fora?
O que sobrará da ideia do “eu”?
Respiro no auge da exaustão

Arranco suas raízes
Despejo seus versos
Dispo-me dos quereres
Pedindo para que me salvem

Se me resta ser culpado
Que o dia gentil me arraste
Farei meu apelo no amanhã
A última instância da esperança


Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 23 de julho de 2012

“Ensaio sobre a esperança” (17/07/2012)

O ser humano vive a andar sobre fronteiras. Ele e o próximo, o sonho e a realidade, a escolha e a desistência, a vida e a morte. Mesmo assim ele segue, ignorando os perigos dos seus passos. O humano segue mesmo que ninguém tenha lhe prometido algo. Uma vontade interna que absorve os obstáculos, que olha em frente com uma certeza inexistente até para si próprio. A mente jamais será uma alienada, sei que não. A verdade é que a efemeridade desta passagem os fazem agarrar ao menor fio de esperança.

Eis o diferencial humano. Este espaço na alma dedicado as coisas que não são. A espera eterna de realização, plenitude e equilíbrio. A total irrelevância do possível. A força de acreditar em uma ideia. Não importa se a maré sobe e o afoga, ou mesmo que tudo seque. A chance basta.

A esperança não é um sonho, nem uma verdade. Não é um lugar para se chegar. Ninguém a espera. Ela não se completa, apenas mantém vivo. O homem só precisa de uma busca.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 19 de julho de 2012

“Tangência” (16/07/2012)

No final do que é lúcido
Reside uma verdade
Calada pela razão
Quando se represa sentimentos
Não se rompe fronteiras

Na beira somos o real
O risco incalculável
Um pulso de um coração
Precipício abaixo não há escolhas
Seremos apenas emoção

No limite de nós
Só existe incerteza
O sonho que não chega
O amor que não se deita
A chance do mundo passar
Sem ao menos te tocar


Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 16 de julho de 2012

“Preferências” (13/07/2012)

Tem gente que gosta de gesto
Evita dizer adeus
Cala com um beijo
Completa com o abraço
Traz flores e chocolates
Torna sagrado segurar-te a mão
Não olha para trás
Acaricia o rosto e foge com os dedos
Fecha os olhos e leva o sorriso
Uma alma profunda
Que não sabe pedir para ficar

Tem gente que gosta da palavra
Faz serenata na janela
Manda poesias por cartas
E sentimentalidades ao pé do ouvido
Faz de você todo vocabulário
Entrega seu bom dia e boa noite
Fala mais que pensa
Tem mais desculpas que verdades
Conhece as letras que doem
Sabe contar uma ilusão
Faz tudo soar como adeus
Uma alma imensa
Que não sabe voltar atrás

Não há muita diferença
Uns dizem eu te amo
Outros tem um silêncio que te arrasta

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 12 de julho de 2012

“Clemência” (10/07/2012)

Deitou-se à sombra da palavra
Silenciado pela noite precoce
Um corpo saciado pela vontade
De alma vendida a ilusão

Era fácil confundir as fuças
Como mentiras e verdades
Repetiu-se como mantra a injúria
Terminou como reza a lamentação

Foi o último respiro de esperança
Calado ao pé da macieira
Pecando em troca de vida
O poeta e a rima

Desistiu pela primeira vez
Caia a última máscara
Sem verso para vestir a realidade
Apagou-se também o horizonte

A noite dormirá em paz
Mas para onde irão os desejos?
O mundo acordará em breve
Sem um único suspiro de amor

Durma de olhos abertos
Rasgue seus últimos escritos
Pinte mais um romance
Para que a lembrança nos leve em frente

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 9 de julho de 2012

“Abraço de Adeus” (09/07/2012)

Tardes frias não são em vão
O mundo sente
Contorce, espreme...chove
Marcas da partida
Fica o humano sem a essência
Espalhada como confete em lembranças
O vento sopra para levar
Alguém encontrou sua paz
Nós teremos que reencontrar a nossa

Tardes frias se despedem
Pois tudo merece um adeus
Toda lágrima precisa escorrer
Os destinos e seus encontros
O coração agasalhado de abraços
A certeza do insubstituível
Doerão como o Amor
A vida não pulsa por apenas um

Eu vivi madrugadas inconcebíveis
Amanheci em um gelado dia de outono
Conforme se dissipava a presença
Descobri o quanto existia em mim
Ponderei sobre a estação fora de época
Não saberia imaginar algo melhor
A última lição foi sentir com o mundo
Sorrir pela vida...mesmo quando se vai

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 5 de julho de 2012

“Ímpares” (04/07/2012)

Completar-se é apenas uma peça do quebra-cabeças neste mundo. Construímos nosso lar, preenchemos seu vazio. Mas do outro lado da janela do trem, na plataforma dos sentidos opostos seguem os desencontros. Almas que seguram mãos sem saber porque. Rostos que não se tocam, pessoas que se conformam. Não canso de ver desembarcar desilusões, trocando lugar com a solidão. A espera pelo sonho. Constante, cruel, fria, rotineira. Corpos recostados pelo tempo, olhos perdidos no fim do túnel. Há tanto sentimentos aguardando pelo encontro errado. Gostaria de vê-los embarcar sem destino, livres de dúvida. Mas essa liberdade é utopia. Eu parti, mas na procura de me reencontrar. Todos queremos um par.

Em algum nível o mundo sempre permanece aos pedaços.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 2 de julho de 2012

“Modernidades” (27/06/2012)

Atrás da poluição nasce o dia
Árvores secas, pés descalços
As paredes frias do quarto
O mofo no espelho, o rosto conformado
A realidade atrás da porta
Um cumprimento funcional
Laços efêmeros, presença vazia
Todos alheios a própria existência
Ignoráveis verdades, corações fechados
O caminho para casa é longo
Existe distância maior do que do desejo?
Enterrado no sofá, a chuva se dispersa
Aprisionado ao âncora
Lembrança do perigo lá fora
A tranca por dentro, o medo do próximo
O muro de arame farpado
Corpos desesperadamente evacuados
Almas a procura de abrigo
A terra dividida sem espaço
O travesseiro é de pedra
O sonho não é de graça
Se rezam, dispensam palavras
Nem o ar aqui transita
Concreto não respira

Ass: Danilo Mendonça Martinho