quinta-feira, 29 de setembro de 2011

“Pleonasmo Vicioso” (06/09/2011)

Vivo nesse abismo
A beira de tantos corpos
Nos desencontramos
Busco um sinal do recíproco
Uma verdade no âmago
A utopia de ver além do corpo
Os outros buscam rotas de fuga
Ninguém quer ser sincero
Nem mesmo no silêncio
Somos almas labirinto
Presos em nossas seguranças
Sinto-me andando entre vazios

Não há coração que não pulse
Não há vida que não grite
Não há corpo que não reaja
Enjoa-me essas máscaras
O mundo raso nos condena
Incapazes de encontrar
Um olhar que veja

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

“Desejo Solitário” (29/08/2011)


Talvez seja coisa de paulistano admirar-se com uma estrela. Aqui elas são mais solitárias, distantes uma da outra, como se morassem no mesmo lugar, mas não conversassem. Nesse silêncio, nenhuma precipita em desejo. Há muito para se vencer nessa cidade antes da queda. É preciso contar com a sorte de uma noite que anteceda um dia escaldante, destes sem nenhuma nuvem no céu. Mesmo assim é preciso que a noite se mantenha comedida com umidade para dispersar nossos rastros de poluição. Ainda assim a estrela, antes de qualquer cadência, depende do humano. Todos sabemos o que é depender do humano. Um olhar sem pressa, sem medo, urgência, dúvidas, preocupações. Um olhar que se não essencialmente livre, que por um momento se perca nos céus. Um olhar quente de alimentar almas, e distante, capaz de ver através dos rastros de nossa solidão. Talvez seja demais por um desejo. Talvez sejam estrelas de menos para este céu. Penso também que talvez não exista humano livre.

Temo por você estrela, que venha a ser apenas decadente.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

“Telha de Amianto” (16/08/2011)

Eu lembro quando a chuva vinha ensurdecer meu universo. Estava sempre a imaginar no meu quintal entre os soldados e as corridas disputadas entre os vales e montanhas das caixas sobre o balcão embaixo da janela da cozinha. Era tudo revestido de um azulejo laranja que não escondia sua idade. Foi entre essas mesmas caixas que encontrei um de meus cágados que fugiu enquanto limpava o aquário. Nessa época meu mundo já tinha diminuído e os sonhos já não podiam correr livres, faltava-me espaço no box do chuveiro, na escrivaninha. Fiquei exposto aos olhares que esperavam deixar para trás minha infância. Mas corri outras vezes naquele quintal, mais vezes do que posso me lembrar. Fiz guerras, joguei bola, lamento não ter deitado mais vezes naquele chão. No quartinho dos fundos tinha uma mesa de botão. Tinha também uma saída lateral para o corredor que recordo sempre em tons avermelhados, desses finais de dia engraçados de primavera. Era um calor debaixo daquelas telhas, mas quando chovia era mágico. Isolava todo som, toda vida. As gotas e aquele barulho sempre me confortaram. Mas que problemas tinha? Lá fui criança. Eu lembro do contra-luz na janela da cozinha que fazia de tudo sombra enquanto a chuva insistia lá fora.

Hoje meu quintal é ao ar livre e não consigo decidir se é melhor assim.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

“Acidente Geográfico” (15/08/2011)

Os passos são possíveis
Reais como apertar tua mão
Destrinchar as mexas dos teus olhos
Amaciar as maçãs
Carregar a lágrima
Admirar tua imensidão
Envolver um bater de coração
Sufocar todo medo
Versear em falso
Hesito ao pé do ouvido
O abismo é a palavra.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Post Especial Final

Caros leitores, este é o último post especial em virtude do lançamento do meu livro "Poeta da Colina - Um Romântico no Século XXI" . Publiquei aqui alguns poemas do livro que lerei em Sarau no próximo dia 22/09.

Quero agradecer a paciência desta overdose de divulgação, e entender este momento importante dentro da minha proposta como escritor. Mais do que poder assinar os livros, mais que poder recitar os poemas, o importante é este carinho e visitações que vocês sempre me concedem, com ou sem livros. Muito Obrigado, espero sempre poder contar com esta companhia.

Abaixo então segue um último poema que recitarei no evento. Quem ainda pretende ir, sugiro que compre o livro até quarta-feira para dar tempo de chegar com folga em sua casa. Lembrando das 18h30 às 20h, dia 22/09, no Sebo Praia dos Livros, Avenida Bernardino de Campos, 331.

O link do livro está aqui na barra lateral.

Obrigado mais uma vez.

“Livrai-me” (05/10/2007)

Preciso agora ocupar-te
Serão palavras breves
Algum tipo de adeus
Não sinta-se traído
Pelas promessas antes feitas
Elas criaram uma casa de vidraça
Um lugar sem movimento
Onde não cabe nem um grito
Entenda-me, por favor!
Preciso gritar mais alto
Preciso quebrar as janelas
Percorrer os caminhos da solidão
Chegar na realidade do olhar
Abafar os pensamentos
Perdoa-me então papel
Ficarei bem mais em paz
Fala que ouve-me bem
Que sabes o porquê
Divida comigo essas lástimas
Essas injustas palavras
Contigo já dividi tantos amores
Deixa-me agora este espaço
Dê-me toda essa distância
Preciso de tua eternidade poética
Pra poder esquecer-me no momento
Queria ausências sentidas
Mas desta vez só desapareço-me
Cansei do ódio, da ignorância
Ou da pior plena consciência
A verdade domina-me
De maneira desesperadora
É real, simplesmente real
Não cabem desejos nem sonhos
São apenas poucas palavras
Elas precisam ganhar corpo
Um relapso de coragem
Resta-me então só você
Sei que encontrarei tudo por aqui
Em alguma linha você me guarda
Em um verso sincero qualquer
Entrelinha, entrelaçado, permeado
Memória, concreto e ilusão
Efêmero, eterno, igual
Entranhas, âmagos e afins
Tudo aquilo que te faz fim!
Tudo aquilo que te faz começo!

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

“O Amor que Desconheço” (01/04/2007)

Passo pelo amor da minha vida todos os dias
Ela fica para trás na busca por chegar lá
Lá onde nenhuma promessa me foi garantida
Lá onde os sonhos também não estão
Lá onde encontrarei o puro e real
Ali na próxima rua, virando a esquina
O incerto, o dúbio, o abstrato

Todos os dias meu amor espera na porta da igreja
Eu estou com meu smoking, mas nunca chego
Saio para outras festas, danço com outros pares
Encontro sorrisos em outros abraços e pernas
Tenho mil namoradas e nenhum amor
Termino aqui mesmo por este chão
Frio, concreto e intransponível

Meu amor, todos os dias, me compra flores
E eu sempre insensível as deixo secar
Eu não passo por nosso apartamento
A geladeira está vazia, falta carinho e atenção
Uma foto de uma chuva que pegamos
Uma cama desfeita guardando memórias
Paixão, voracidade e ilusão

O amor da minha vida gasta horas ao telefone
Fico com som de ocupado em vez de sua voz
Quando vai me ligar é no momento que não estou
Eu, por mania, não retorno minhas ligações
Ela não gosta de insistir e se repetir nas mesmas
Eu e ela somos totais desencontros
Despreocupados, desavisados, distraídos

Eu faço constantes juras ao meu amor
Falando a verdade, ela nunca me ouviu
Nunca parou para ler minhas poesias
Teria inúmeros motivos para odiá-la
Mas por apenas um motivo não o faço
Estou naquele momento de ficar
Atordoado, escuso e complicado

Meu amor insiste em me desmentir
Conta aos amigos que está sozinha
Mas não posso culpá-la por isso
Todas minhas cartas ficaram em gavetas
Todas minhas palavras ficaram entre paredes
Assim nós dois permanecemos
Alheios, estranhos, distantes

Ass: Danilo Mendonça Martinho

Você pode ouvir este poema no próximo dia 22 de Setembro na "Noite de Autógrafos+ Sarau" do livro "Poeta da Colina - Um Romântico no Século XXI". Para ganhar o seu autógrafo basta levar o seu exemplar. (Compre aqui)

Conto com vocês.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

“Se puder...” (30/10/2007)


Esquece-me mente, em um breve momento de piedade
Sei sofrerei as conseqüências, só que mais tarde
Poupai meus passos deste peso a toa
Se existe em mim, como grita tão alto?
Se existe em mim, por que simplesmente não te calo?

Esquece-me hoje, e se possível amanhã também
Sua possibilidade diária me assusta
Insistindo nas minhas contrariedades
Por que não sussurra e me põe a dormir?
Por que não se senta, e apenas descreve meus sonhos?

Lembra-me mente, em um breve momento de saudade
Permita-me um leve vôo de liberdade
Pouco importará o que se faz real
Queime minhas asas se for tolo o suficiente
Queime minhas asas se eu ousar mais

Lembra-me hoje, só posso agora
No momento que me enxergo fora da razão
Aproveita que esqueci de proteger o coração
É impreterível que me tome pelos braços mais uma vez
É impreterível que não me deixe escapar para sempre

Ass: Danilo Mendonça Martinho

Você pode ouvir este poema no próximo dia 22 de Setembro na "Noite de Autógrafos+ Sarau" do livro "Poeta da Colina - Um Romântico no Século XXI". Para ganhar o seu autógrafo basta levar o seu exemplar.

Conto com vocês.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

“Quebre meu Silêncio” (16/07/2007)


A Madrugada já bate na porta
Só agora percebo que chove lá fora
Uma paz passageira me toma
Um pensamento fugaz me trai

Por que veio até mim nobre chuva?
Veio transbordar meus sonhos, ou
Veio apenas criar as mudas no jardim?

Um cheiro toma meus sentidos
É asfalto, é terra, é um pouco de alma
As janelas, as telhas, as casas, o corpo

Seus presságios não pareceram de sorte
Suas gotas me pareceram incertas
Promete-me companhia nas complicadas palavras?

Ficaria olhando chover por horas
Queria tua cadência em meu coração
Queria tua claridade em minha mente
Queria tua simplicidade em meus atos

Fique enquanto puder chuva minha
Envolva-me em qualquer delírio
Sussurra-me qualquer barbárie

Ass: Danilo Mendonça Martinho

Você pode ouvir este poema no próximo dia 22 de Setembro na "Noite de Autógrafos+ Sarau" do livro "Poeta da Colina - Um Romântico no Século XXI".

Você também pode ler este e outros poemas adquirindo o livro em todo Brasil, no link acima. O site disponibiliza venda por boleto, cartões e transferência. E a encomenda chega em média em 3 dias úteis.

Conto com o prestígio de vocês, muito obrigado!