quinta-feira, 28 de julho de 2011

“Existência” (03/07/2011)

Não sei quando cheguei
Muito menos se escolhi
A lembrança é um fragmento
A infância uma escuridão
A consciência começou tarde
Ainda não sei quem sou
Como humano uma máquina
Como razão uma essência
Para onde ir?
O viver não é coerente
As ações são aleatórias
Não há respostas
Apenas uma única perspectiva
Mutante, amarga e esperançosa
Preciso agir enquanto não volto
O que me trouxe me levará
Não saberei como
Nem fará diferença
O ser é somente um agora
Todos viremos a dexistir

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 25 de julho de 2011

“Seremos fim” (18/07/2011)

Eternamente. O que não morre? O que não passa? O que não se desfaz? O que permanece? Por que devo acreditar naquilo que não sou? Querem fazer de cada ato nosso um martírio, como se tudo fosse para sempre e o caminho imutável. Não quero olhar para vida com todo esse peso de tudo que já fiz. Mudei tanto, acreditei em outros sonhos. É fato que nossas decisões por vezes ferem, que jamais serão sem conseqüências, mas nunca me propus a ser perfeito e deixarei muitas coisas ainda pelo caminho. Só não me venha com cobranças, disse e fiz tudo da melhor maneira que conhecia. Fui sincero e isso pode ser muito complicado. Doei-me até não poder mais. Agora me chegam consciências me acusando de ser eternamente responsável pelo sentimento que abri mão. É soberba pensar que temos algum controle sobre o sentir alheio, ou mesmo imaginar que seremos inesquecíveis a tal ponto. Somos responsáveis pelo que sentimos e nos amedronta tanto isso que mantemos situações por comodidade, por culpa. Por acreditar ser eternamente responsável pelo próximo abdicamos nossa felicidade e tiramos também a do outro. Quem ganha nessa eternidade?

Somos finitos como tudo que nasce de nós.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 21 de julho de 2011

“Consciente” (17/07/2011)

Ainda não sei o que aconteceu. As palavras nunca foram tão leves, o desapego tão real. Mesmo falando de meu âmago não parecia machucar. Senti perturbar a outra consciência, desestabilizar uma emoção, mas vejo que nem me importei. Falei as palavras contidas no peito, não procurei eufemismos e vi na verdade o único caminho. Pela primeira vez estive resolvido e absoluto. Parece que amadurecer tem suas vantagens. Jamais desistirei das paixões, mas que não me cobrem também. A certeza do que não será também abre horizontes. Desprovido de tudo aquilo que não havia dito o passo já é mais certo, o talvez não desvia a direção. Um sorriso volta a clamar independência. Não abandonei a palavra. O você mudou.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 18 de julho de 2011

“Rotação” (17/07/2011)

Quando voltar aqui
Não fará diferença
Tudo que nos leva
Jamais há de retornar
O mundo é feito de nuances
Nem sempre visíveis
Mas nada escapa do sentimento
Cada vez que se olha para alma
O reflexo se transforma
A palavra que dói
Também perde significado

Se um dia voltar
Não será pelo passado
Não seremos os mesmos
Queira algo novo
Pois tudo que fui
Abdiquei junto de ti

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quinta-feira, 14 de julho de 2011

"Bússola" (12/07/2011)

Não me incomodaria de ser feliz
Mas sabe tanto quanto eu
O teu olhar já não me procura
A tua palavra tenta disfarçar
Jamais movi teu sorriso
Diverte-me essa certeza
Ver no corpo alheio
Sentir na alma distante
Que há outro norte
Não aceitou minha rosa dos ventos
Meu farol segue sem porto
Bom é te ver a salvo
Distante da própria tormenta
O que te move nem disfarça
Você é mais dele do que teu
E qualquer palavra fica sem direção
Incomodaria-me desviar teu caminho

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 11 de julho de 2011

“Amores de metrô” (05/07/2011)

Procuro pelo teu reflexo
Um jogo de sinais
Não posso te entregar o olhar
Aprecio teus trejeitos
Verifico de canto teu rosto
Disfarço buscando o horizonte
Ao retratar teu corpo
Já sei que me repara
Não nego, te admiro
Mas nada além disso
Seriam levianas as palavras
Ousados demais os gestos
Somos então hipótese
Nossa intenção é um talvez
Tento parecer indiferente
Mas o sorriso me desfaz
Observo tua imagem na janela
Reparo seus anelares
Analiso minúcias de teu rosto
Hoje não tenho desculpas
Diluo a presença num sonho
As portas abrem na expectativa
E sempre desce antes de mim
Resta saber:
Será que ela é de olhar para trás.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

segunda-feira, 4 de julho de 2011

“Jogar-se” (28/06/2011)

Quem desenhou este vôo sem asa
A ilusão de Ícaro
A fuga sem realidade
Abandono todas máximas
Não quero compensar o universo
Sentir não é sacrificar-se
Não há promessas no fim do abismo
Ao me trocar pelo outro
Apenas desapareço
O querer não pede evidências
Posso ser mais teu
Mas sem ser verdade
Ainda prefiro tentar
Não viver longe daquilo que penso
Seja corpo ou coração
Não precipito mais
A queda não defende causa

Ass: Danilo Mendonça Martinho