segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

“Rotina” (31/01/2012)

Pensei acordar sob os mesmos céus ao enquadrar todas as manhãs o horizonte da minha janela. Olhei nuvens, tons de azul e pingos de chuva. Do outro lado tudo me pareceu estático, prédios, árvores, pessoas...principalmente pessoas. Assim desenhava meus dias, nos moldes ultrapassados do ontem, de cores cada vez mais desbotadas. Não há nostalgia que aguente. Não há espelho que não mofe encarando o mesmo rosto perdido, de olhos fundos sem quereres. Uma vida de paisagem para um corpo figurativo. Sem cena, sem ato, sem mão que se estenda. As portas já não se fechavam, não tinham o que deixar para trás, não havia surpresa, nem alguém para chegar. Pelas ruas vacantes, vagava, nesta aliteração que tenho certeza que também repito, e se nem o verso é livre como poderá ser o amanhã? Todo mundo quer este agora, vive-lo plenamente mesmo sem os controles dos segundos. Pois o que fazem os que querem tudo que está além do aqui? Beirando o desejo não há glória, bonitos são apenas os sacrifícios. Eu, crente da rotina, não pude pular, ao imaginar que minha escolha já estava marcada em algum passo de um tempo remoto. Ao verificar as marcas percebi que nenhuma era igual a outra, e que esta prisão do tempo, era minha ilusão.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

6 comentários:

  1. Às vezes o lirismo que a rotina traz é tão único quanto o que nós buscamos tentando sair dela. Muito lindo!

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  2. Muito bom. Penso que, de certo modo, somos nós que nos aprisionamos.

    Suzi

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  3. O próprio Destino causa nossa aliteração. Porque esperamos que as coisas caminhem da maneira em que elas têm que acontecer e, muitas vezes, não as interferimos.

    O comodismo é menos doloroso.

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  4. E o que seria a rotina além de uma grande mescla de ilusões?

    Lindo, poeta...

    Beijo grande!

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