domingo, 16 de novembro de 2014

“Notícias de um passado” (17/10/2014)

Foi em uma viagem sem propósitos e com uma noite mal dormida que se encontrou preso no banheiro. Do lado de fora sabia que já se resguardava acordada a mulher de qual a razão queria distância, mas que o corpo e suas necessidades afloradas pela manhã lhe atacariam sem forças para evitar. Por um mero instante esperou e conscientemente deu descarga nos seus pudores e teve primeiro a certeza de ter chamado atenção, para depois sair cheio de libido e encarnar os sonhos que nem eram seus. Seria uma escolha de um caso de uma noite que provavelmente não afetaria em nada teu agora, mas foi evidenciado claramente a marca de uma vida naqueles lençóis, uma dobra, uma fenda, uma decisão profunda, uma construção de caráter, um tornar-se, uma mudança. 

Nesse mesmo lugar, tempos depois, alguém vulnerável, disposta a deixar, por um instante, seus princípios, gostos e vontades. Pronta para ser sugestionada a aceitar a ideia de que o diferente era a saída para seus pensamentos ligados a quem não estava ao seu lado. A proposta de experimentar uma alternativa para ser feliz. Deixar tomar seu corpo meio apagado pela tristeza e quem sabe poder se esquecer enquanto o outro pudesse se enganar. Num acordo velado de almas que precisam, e até uma mentira serve para sobreviver. Um dia a verdade estaria ali como a única coisa que sobraria, uma dor que talvez até não fosse tão grande já que não houve entrega, mas, ainda assim, uma dor suficiente de envergonhar olhar na cara. Aqui não saberia dizer o tempo que isso duraria, mentiras tendem a ser altamente autossuficientes, encontrando palavras e meios de seguir de uma forma cômoda e imperceptível. Essa lembrança tem contornos mais fortes de mudança, e talvez uma que te levasse para sempre longe desta agora tão mais real, tão mais verdadeiro, tão mais completo. A verdade é que mesmo com todo este potencial, aquilo jamais pareceu uma opção. 

Há muitos outros momentos por aqui. A garota que comentava com amiga, e nunca teve a coragem de perguntar o que era. Aquela pergunta inconveniente no ônibus vazio. As pessoas que te acuaram e as quais você nunca prestou atenção. No fim deste tempo sempre beira uma única coisa, consciente ou não, emoção ou razão, tudo foi sempre uma escolha, e escolhas são o puro resultado do que somos, ou éramos. As notícias que te trago jamais poderiam fazer parte de quem você é. Siga em paz, pois tudo aqui já está. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

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