sábado, 7 de junho de 2014

“Não-amor” (14/05/2014)

Na solidão é que podemos refletir melhor sobre as presenças. Separar a dor do amor. No silêncio estamos acompanhados de nossos passados, escutando sem jamais ser escutado. Tenho marcado palavras para tentar me comunicar com tudo que já viveu dentro de mim. Não quero mudar, não quero respostas. Quero explicar pela última vez estes sentimentos, pois vou abandoná-los, chega dessa dor da qual já não sei mais falar, a felicidade quando chega merece toda sua atenção. É possível compreender todas as tristezas traçar uma rota pela sua história e abrir espaço para novas aflições. O coração precisa de um respiro e nada mais justo do que engolir os últimos rancores que hoje chamo de “não-amores”, afinal é isso que são. Não adianta voltar sua raiva contra algo que simplesmente não era sua realidade, muito menos seu futuro. Ainda mais depois de encontrar a companhia que te faz fazer algum sentido. A melancolia ganha tanto espaço na nossa vida porque na maior parte do tempo sofrer parece algo natural, parece uma resposta. Viver indagando, clamando por um sinal de um bom futuro parece o único jeito de seguir em frente. Desde os primeiros olhos mais sinceros que encontrei, que jamais desviaram dos meus, venho me perdendo em tantos outros. Entregue ao inimigo, sem reação e sem fala. Quantos “não-amores” são mudos pela vida, não é mesmo? Ajoelhadas, presentes, flores, mas quantos “não-amores” dissestes apenas, gosto de você. A maioria das pessoas de posse de uma mente mais inocente e livre viveram mais do que eu que me voltei as folhas em branco, aos pés de ouvido, ao breu das madrugadas, aos cantos de cada capa de livro......rabiscando sentimentos ao mesmo tempo reais e improváveis. Vivi a minha maneira, penso eu. Aprendi as minhas penas. Acredito mais até mesmo do que sinto, que “não-amores” são perfeitos. Instigam, adoecem, compartilham, invadem, intensificam, saboreiam, derretem e acabam. Afinal, eu não conheço perfeição inacabada. O seu antônimo, o amor, que é muito do imperfeito, do qual vivemos tendo que aprimorar todos dias. Por isso é preciso tantos outros destes plurais, o outro depois que se encontra é o mesmo pela vida toda, um sabor único que pode ser sentido de infinitas maneiras. Quando se descobrir em um “não-amor” agradeça e parta. Recluso então doa, mas tudo que precisar doer. É bom....sentir é sempre melhor. Se alguém partir não rejeite a chance de dizer adeus, a tristeza não vai ser diferente, mas a lembrança, com certeza, será. E o que realmente aprendi disso tudo e que posso dizer sem nenhuma ressalva é que você deve seguir. O amor, mesmo quando inventa de ser dor, ainda sim, é uma das melhores coisas que podemos sentir. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

4 comentários:

  1. São tuas, as iguais palavras que a sabedoria silenciosa do "não-amor" dentro de cada um que está a (nos) partir, diria.

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  2. ''Quando se descobrir em um “não-amor” agradeça e parta. Recluso então doa, mas tudo que precisar doer. É bom....sentir é sempre melhor.''

    Levando para a minha agenda como tantos outros fragmentos que abraço por inteiro.

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  3. Estudei tanto o não-ser na faculdade, há uma frase que diz: O ser é e o não-ser não é. O não-amor parece ser onde o ser e o que não é se encontram.. A poesia dá conta da vida de um modo que a filosofia não poderia.

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  4. Poeta,


    Um dia escrevi: eu acredito em muita coisa, mas na poesia acredito mais. E o quão surpresa e feliz fiquei ao vir até aqui e me deparar com este texto tão maduro seu. Quantas vezes me debati e me arrastei de um não-amor até outro, sem entender que estavam me preparando para o amor. A tristeza pode se tornar um vício, que infelizmente cega e não há tato que identifique, depois de um tempo, a beleza quase palpável de todas as coisas.


    Obrigada pelo presente de sempre,

    um abraço, Ziris

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