Tenho medo das minhas esperanças. Elas me machucaram demais por diversas vezes. Boa parte, sem dúvida, dependeu do amor, mas não foi só isso. O meu ceticismo vem do cansaço. Foi muito sorriso em vão, foi muita fé na certeza que se dissolveu. Teve céu e inferno separado por segundos. Teve silêncio, teve não, teve jogos com requintes de maldade. Sem falar na maior parte da esperança, a espera. Parece que ela me deixou aqui e toda vez que me sugerem seguir é por uma janela e não uma porta. Só assisto passar. São sonhos lindos, com tempo até mesmo imperfeitos, mas que encantam, comovem, enchem o coração e me preocupam. Passaram muitas chances e não sai do lugar. Não teve brecha pela qual não tenha tentado escapar, chegando sempre mais perto e mesmo assim longe demais. Engraçado como o doce enjoa e o amargo acostuma. Lágrimas, suspiros, indiferença. Tudo só adia e a gente insiste quase sem vontade, apenas por saber que não existe outra maneira de chegar. Não tinha ideia do tamanho dessa pedra do caminho. Até que ontem me abriram mais duas janelas, me preparei no automático, então uma alegria me abraçou comemorando a oportunidade e eu, mesmo sem espelho, vi e senti minha face plana, sem destaques, sem relevos. Uma expressão que poderia se confundir com nervosismo, cautela, mas que eu sabia que era ausência dela, era o sonho inundado pela razão. Gostei, foi o que pensei. Gostei da ausência da ansiedade e do mar de imagens invadindo a mente. Teve um susto, mas fez sentido, porque agora seria diferente? Recuso outra ferida, recuso acreditar antes do fim. Posso me enganar, pois me colocar indiferente é a esperança que agindo de forma oposta as coisas possam dar certo. Mas faço isso também pela fatiga, pelo limite do espírito de quebrar. Não tinha percebido esse desgosto, só que não posso negar que o sinto necessário. Quando me sobem ideias eu fecho a cara. Espanto a esperança e a dor que pode acompanhar. Não me nego tentar, só que vou precisar muito mais para voltar a sorrir.
Ass: Danilo Mendonça Martinho
Relutamos por vezes a deixar a luz entrar, talvez por sua beleza tão profunda que nos revela a nós mesmos. Mas despercebidos , ela sempre chega e sem perceber voltamos à esperança.
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