quinta-feira, 29 de outubro de 2009

“Silenciei diante o medo”(26/06/2007)




Essas palavras não são minhas
Não te disse nada nos dias
Tenho certeza dos meus silêncios
Tenho dúvida ao que diz ser meu
Na verdade essa conversa não existe
Eu nunca estive por perto
Eu não te liguei em nenhuma tarde fria
Tomo por certo todas minhas ausências
Tomo por dúbia minha presença além daqui
Mas não, realmente não estou, não estive
Não lhe encontrei em nem um banco de praça
Não te acenei do outro lado da rua
Acredito na minha alienação a tua vida
Fico incerto quanto ao conhecimento da minha
Não pertenço ao meu próprio instante
As minhas próprias palavras e escrita
Não pertenço ao mundo que crio
Esqueço-te na realidade
Não te reconheço nos meus sonhos
Protejo-me onde não existo
Mas você me seguiu até aqui
Não posso nem negar-te
Tu és realidade mesmo onde não há
E este é o momento o qual não escapo
Com a palavra que me dá, calar-me.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

domingo, 25 de outubro de 2009

“Fim de noite” (21/10/2009)




Saudade da poesia
Sentar-me perto da lareira
(que não tenho)
A chama flamulante
Escolhendo as palavras
Ditando o ritmo

Saudade do meu caderno
Já de folhas esgotadas
De vida completa
Coração cheio

Saudade do que perdi
Inspirações fugidas da memória
Gostaria de um reencontro
Será que precisam de mim?
Provável que precise delas

Saudades imensas eu sinto
De procurar uma varanda
Debaixo de uma chuva
De lhe escrever uma carta
De arriscar um verso
De rasgar alguma página
De começar de novo
De não ter o que fazer
De voltar a minha paz
E se fosse o caso
Apenas sonhar.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

“Dance” (21/10/2009)




O salão está cheio
Mas a pista vazia
A música já começou
Alguns ensaiam a voz
Elas, olhares aos pares
Um sentimento incomoda
Um mundo incompleto
Um erro despercebido
Uma falta de comunicação
O desejo é óbvio
As pernas não se agüentam
Os sorrisos contagiam
Quem pode nos salvar?
Vencer essa inércia
Ser livre de valores
Praticar uma loucura
Apenas me responda isto
Quem de nós vai cruzar o salão?

A caminhada é longa
A pressão é cruel
Desistir é fácil
Hesitar quase natural
Pegar a mão, um desafio
Falar, uma coragem
Dançar, uma felicidade
Acabamos por descobrir
Que se a pista está vazia
É porque ainda não estendemos a mão

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

“Sol e Chuva” (12/10/2009)




Se eu fechar meu olhos
E pedir aos céus
Por um dia de Sol
É provável que o tenha
Quando precisar de chuva
Posso olhar para o céu
Pedir o que quiser
Pois ainda sim virá chuva

Hoje não sei do que preciso
Faça o tempo que for
Meu coração está inquieto
Minha mente descontrolada
As palavras a flor da pele
Deixo escapar segredos

Hoje já não me importo mais
Se você se importa demais
Já fui de muito desconsiderado
Por isso me reservo direitos
De cutucar aos âmagos
De ignorar sentimentos
Preservo-me cético às esperanças

Hoje concretizo a realidade
Metodicamente esquematizo
Não ajo passionalmente
Permito-me licenças poéticas
Quando já distante
Onde poucos me acompanham

Hoje saio de casa
Olho fielmente aos céus
E uma dúvida permanece
Fará sol ou chuva?
Serei livre ou feliz?

Ass: Danilo Mendonça Martinho

domingo, 11 de outubro de 2009

“Saiba” (11/10/2009)




Estranho como a vida fica mais fácil
As decisões não pesam
As responsabilidades não exageram
Tudo fica do tamanho certo
Do tamanho do abraço na estação
Na leveza da conversa jogada fora
Na certeza da presença no amanhã
Nos segredos compartilhados
Nos momentos vividos
A compreensão além das palavras
A verdade acima de tudo
A sinceridade inevitável
A amizade é algo peculiar
Existe até na falta da presença
É um privilégio meu amigo
O qual não esqueço um segundo

Ass: Danilo Mendonça Martinho

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

“You ruining every dance” (03/10/2009)




Você não acompanha meus passos
Dança em outras músicas
Não se anima e nem permite
Ceticamente descarta
Ironicamente pergunta
Conscientemente provoca
Evita toda busca
Levanta a muralha
Disfarça ser de pedra
Vence todos fracos
Afugenta os nobres
Abraça a solidão
Escolhe o canto da festa
Fecha a janela
Fica a espreita
Codifica seus sorrisos
Concorda sem dizer
Busca sem admitir
Fecha os olhos a tempo de fugir
Misteriosamente permanece
Firmemente continua a negar
Na espera de quem não vai chegar

Ass: Danilo Mendonça Martinho

domingo, 4 de outubro de 2009

“Melancolia Poética” (02/10/2009)




Tudo que o vento leva
Tudo que um sorriso traz
As mentiras desmascaradas
Os segredos nas suas verdades
Volta-me a arranhar o peito
Volto quando deveria ir
Olho-te em última esperança
Olho-te por não conseguir desviar
Tua alma carrega a poesia
Meu corpo então se entrega
Mas quando as memórias chegarem
Mas quando tua imagem perder a cor
Apenas então terei um verso
Apenas terei uma prosa sem romance

Conformo meus desejos
Conforme me cai a realidade
A solidão nas alianças alheias
A alegria que não encontrei
Amarguro aos meus passos
Amargo minha visão
Tiro do próximo a liberdade
Tiro no escuro do amanhã
Invento pretensiosas filosofias
Invento meu próprio saber
Mas nada construo
Nem mesmo um breve reflexo

Destrato meus sonhos
Descarto possibilidades
Esfrio todas situações
Desacelero o coração
Deixo meu acaso ao destino
Desleixo, despropósito
Chame do que quiser
Pode tentar Amor

Não quero entrar em minúcias
Não quero discutir valores
Os meus limites
Os seus limites
Jamais farão fronteira
Sempre serão absurdos
Por mais que nos corroa
Por mais que exista
Reconheci-me em ti à toa
Pois agora hei de te esquecer

De nada adiantou as poesias
De nada adiantou o pôr-do-sol
Poderiam existir inúmeras flores
Poderíamos jantar a luz de velas
As estrelas virem a cair do céu
Teus desejos serem atingidos
Escolha teu melhor vestido
E vou com meu melhor terno
Completaríamos a fotografia
Particularmente enquadrados
Inevitavelmente imperfeitos

Toda beleza traz um pouco de saudade
Toda alegria traz um pouco de tristeza
Todo amor traz um pouco de indiferença
Assim como viver traz a morte.

Ass: Danilo Mendonça Martinho