quinta-feira, 27 de junho de 2013

“Não será amanhã”

A fumaça abaixa e fico no aguardo do nascer da aurora dos nossos tempos. Meus olhos já há muito tempo céticos talvez não reconheçam um raio de esperança. Não sofremos por um governo. Não sofremos pelo conservadorismo religioso. Não sofremos por uma economia precária. Não sofremos por um estado de miséria. Não sofremos por uma guerra. Somos mais livres do que poderíamos imaginar pedir. Mas sofremos por causa de um sistema social falido, corrupto, profundo e centenário. Da mais baixa classe social, do rincão mais perdido de terra neste país até a maior metrópole e o mais alto escalão do governo, estamos impregnados com este gene maldito do “jeitinho”, do deixa quieto, do lave minha mão que eu lavo a sua, da vista grossa, do interesse próprio, do procurar vantagem, do malandro, do passar a mão na cabeça, do passar todo mundo para trás. O DNA brasileiro não mudou em uma noite. Mas há uma chance, que nas frestas deste mundo, esta nação tenha encontrado outros pares para criar seus filhos. Quem sabe se daqui em diante possamos começar a apagar este traço contínuo da nossa história. A mudança é muito mais que interna. Sei que na verdade não verei nascer esta aurora. Nosso tempo será de quebra, choque, saturação e muito cansaço. Descobriremos o limite de todos os nossos erros e negligências. Uma época de decepções, amarguras e duras verdades. É preciso desfazer este brasileiro que criamos. Um a um se for o caso. Acredito em um dia onde todo ceticismo ficará para trás e poderemos ver um verdadeiro novo país. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

sábado, 22 de junho de 2013

“Um dia de Cão”

Dizem que a maioria dos animais enxergam preto e branco. Começo a pensar que isso não é assim de todo ruim. Eles não enxergam a poluição no horizonte, por exemplo. Lama, terra, asfalto, pedregulho, é tudo chão. Tratam os dias de Sol e de Chuva da mesma maneira. Talvez percam a beleza das flores, mas assim não criam diferenças com a beleza da grama e da copa das árvores. Tudo pode ser belo em um mundo preto e branco. As cores dos olhos não causam intrigas e os tons da pele preconceito. O urbano se mistura de tal forma que é provável, infelizmente não certo, que as pessoas se enxergassem como parte do mesmo todo. Poderíamos chamar aqui de sociedade, enfim. Num mundo sem cores desvalorizaríamos roupas, estética e imagem pelo conteúdo. O tucano, a televisão, o pôr-do-sol e o futebol perderiam um pouco da graça. Mas há outras coisas que valem nossa atenção nesse mundo. Tais como o gesto, o olhar e a palavra. Acredito que lágrimas e sorrisos continuariam iguais. Aguçaríamos nossos outros sentidos. Coisa que anda necessária, principalmente o tato. Talvez nos tornaríamos seres humanos mais na essência e menos fantasiados. No fim há prós, há contras e meu cachorro segue a me olhar sem revelar o que é melhor. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

sábado, 15 de junho de 2013

“Resenha”

Um coração que bate
A razão que se perde
Uma mente que se entrega
O âmago que contrai

Uma lágrima que cai
A falta que faz presença
Um todo que se torna sozinho
A certeza que não vai embora

Um corpo que parte
A saudade que se cria
Um abraço que volta
A alma que se conforta

Um sorriso que nos encontra
O olhar que não se distrai
Um vislumbre de felicidade
A esperança que não volta atrás

Uma verdade que se omite
Uma imagem que suspira
Um vazio que nos martirize
Até mesmo um silêncio que nos invada

O sentir sempre vale uma palavra
Mesmo que seja apenas amor.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

sábado, 8 de junho de 2013

“Sobrevivência”

Faz tempo que não se respira
Nem mesmo o silêncio
O outono me parece sensato
Encolhido ao tronco de uma árvore
Que já não faz sombra, nem dá frutos
Sua solidão é completa, quase humana
A palavra eventualmente se desgasta
O gesto invariavelmente se repete
É entendiante essa vida sem vontade
Mas infinitamente segura

A ciência diz o que pode soar como crendice
Um ser humano sem companhia se desfaz
Parte mais cedo, atrasa todas suas realizações
Como se apenas o outro comprovasse a si
Pensar já não é sinônimo de existir

Ontem voltou a chover, devagarinho
Evaporou-se a poeira do horizonte
O frio ocupou as frestas das casas
E por trás das tulipas desmaiadas
O suspiro errante foi ouvido
Apesar de contra toda a natureza
O sozinho segue caminhando
Respirar talvez seja um vício

Ass: Danilo Mendonça Martinho