domingo, 19 de julho de 2009

“Diga que fico” (01/05/2009)




O mundo insiste em dar voltas sem mim
Sem consideração pelo meu tempo
Acordo em outras épocas
Onde não sou rei, onde não sou príncipe
Onde não tenho papel...

É receber o jornal de ontem
É estar sempre atrasado
Um sorriso, um abraço, um encontro.

Parece-me proposital
Foi no fundo de poços
Em melancolias e angústias
Foi com dor e peito rasgado
Que encontrei as melhores palavras
Estou fadado a isto?
Representações do que não vivo?

Hoje fecho a fresta de luz
Levo disto apenas a escuridão
Tudo em mim permanecerá trancado

São as mesmas histórias
São os mesmos finais felizes
As ficções que me vendem
Propostas que só alimentam o vazio
Que inevitavelmente despenco

Não acredito que podem salvar
Não acredito que há alternativas
Que não seja a morte do amor.

Cansei de buscar meu fôlego
Não existe terra firme
Nada vale o esforço
Hoje só tenho cicatrizes
Hoje vou em direção oposta

Esta dor é mais uma gota
Neste oceano que finalmente transborda
Chega de abrir novas marcas

Vou honrar cada sangue que escorreu
A chuva vai lavar as feridas
Não haverá mais tréguas
Cada fio de pensamento
Cada nocividade contra o coração
Serão perseguidos sem escrúpulos

O ser humano é capaz de tudo
E nesses tempos de guerra
Somos o que é preciso

Desci mais uma vez ao inferno
Embora conheça todas as saídas
Fico até descobrir a que vim
Fico o quanto for preciso
Nem que seja para comprovar meu fim

Ass: Danilo Mendonça Martinho

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