Viver ou não viver? É a tradução mais sincera dessa pergunta amedrontadora que por um instante supõe que a existência dessa consciência passageira esteja sujeita a uma escolha tão simples como abrir os olhos pela manhã.
Na minha mão em inglês arcaico vejo pela primeira vez o original que já não o é. Carregado de séculos de história e versões. Determinado e resignificado. São tantas suas possibilidades que reviso as minhas intenções. Mas o desejo é tentar traduzi-lo com meu inglês sem escola. Traduzi-lo em uma sincera e abstrata poesia.
Traduzir palavras tão distantes de sua verdade é fazê-las se perderem de uma vez, libertas de sentido. Serão vítimas do meu contexto, reais e deturpadas, sem mais chances de defender suas origens, a mercê do tempo e seus passageiros. Traduzir essas palavras é quase como negá-las a pureza que lhe resta, é negar sua própria existência.
Com um indiferente perdão poético o faço:
Viver ou não viver? Apavorante questão
É mais nobre sofrer do que desistir
Abraçar as mazelas e dores de nossa sorte
Ou com as próprias mãos enfrentar a maré
E ao enfrentar, encerrar em si o sentimento?
Morrer ou dormir, não importa mais.
Em um sonho encontrar nosso fim
O coração partido, e as milhares de cicatrizes
Que a carne deixa de herança para alma.
É a chama da qual desejamos e somos devotos que nos consome.
Morrer ou dormir, dormir!
Pela chance de sonhar: Sim, essa é a saída.
Pois dormindo não vivemos e o que podemos sonhar
Quando desconectados dos limites do corpo
Devem nos trazer alento
Um novo respeito as calamidades dessa vida tão longa
Para aqueles que vestem suas verdades e encaram sua rotina.
O poder corrompe, o orgulho cai
O Amor é negligenciado e tarda o perdão
O cansaço do trabalho e dos espinhos
Esse paciente mérito desmerecido
Que poderia em seu sossego
De mãos limpas nos tirar a vida.
Quem pensaria em aguentar?
Viver sob suor e lágrimas
Em vez de encarar o desconhecido
O silêncio que nenhuma palavra quebrou.
O desejo está em pedaços
E nos faz aguentar estes pesos
Em vez de encarar o precipício dos nossos sonhos.
A consciência do impossível deixa nossos pés no chão
E portanto as primitivas cores do olhar
Se diluem em um pensamento cinzento
E a aventura à flor da pele se resguarda
Suas correntezas se confundem
Se perdem em nome do nada.
Ass: Danilo Mendonça Martinho
*Inspirado no texto de Hamlet, Shakespeare. E no espetáculo "Hamlet, processo de revelação", dirigido por Adriano e Fernando Guimarães, interpretado por Emanuel Aragão.
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