segunda-feira, 4 de agosto de 2014

“Nicotina poética” (29/07/2014)

Eu trago palavras, mas não há doses recomendáveis de sentimentos, nem estudos que comprovem qualquer nocividade ao corpo. Só se sabe que age direto no coração, quando não no subconsciente da alma. Palavras se espalham rapidamente e logo ficam até mesmo no silêncio, palavras de vida e de morte. Palavras tendem aos extremos e não medem consequências. Talvez fosse natural esperar a consciência no seu uso, só que bem sabemos que seu uso é indiscriminado, sem regras ou fiscalização. O limite é quem fala mais alto, mais forte, ou até mesmo fere. 

A primeira palavra é doce, mas é quando ela amarga que te conquista. O gosto do talvez, do porque, do amanhã, do ainda pode ser. Perdidos neste emaranhado completamos a lacuna entre a realidade e o sonho. A forma mais fácil de se iludir é com aquilo que nós próprios criamos. Sabemos todos os detalhes necessários para tornar algo crível. E na frente do espelho, debaixo do travesseiro, no telefone com o amigo, repetimos as mesmas palavras, todos os dias em um ciclo que só pode ser vício. 

Aceitar seu problemas pode ser o primeiro passo para resolvê-lo, mas não nesse caso. Saber não te cala. Há um vocabulário inteiro com o qual podemos fazer mudanças sem alterar o significado. O sub é o mais consciente de nós. Mesmo que se liberte, o poder de controle sobre a palavra será seu caminho sem volta. Manipular teu próprio desejo, plantar ideias inquietantes nos dos outros, dizer não apenas por dizer. Viciado na palavra e em todos os seus silêncios. É embriagante e confesso....eu trago palavras todos os dias. 

Ass: Danilo Mendonça Martinho

Um comentário:

  1. Eu li. Depois, ouvi.
    Afoguei em palavras. Sorri versos e pensei em rascunhos.

    Lindo!!

    Bom demais voltar aqui!!

    Beijos

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