segunda-feira, 9 de abril de 2012

“Uma Lenda” (05/04/2012)

Há muito tempo atrás existiu um sonho. Era de uma vida que deixava de ser só. Uma troca de um mundo por uma única companhia. Nesta existência se completavam os corpos, as almas, as palavras. Neste lugar havia espaço para se construir de tudo, até mesmo um futuro. Era uma imensidão preenchida com uma natureza sem fim. Existiam limites irrelevantes e regras ignoradas pelo olhar destes dois que figuravam distantes do comum. Tudo era diferente de dentro daquele jardim que criavam. O sol uma alegria e a chuva uma bênção, o vento uma necessidade e o frio um alívio, o sorriso espontâneo e o choro inevitável. Não existiam pormenores. Tudo era franco, aberto e possível. Nunca construíram uma rua sem saída se quer. Viviam uma continuidade sem esperanças de eternidade. O fim sempre fez parte. Mesmo assim o amanhã jamais invadiu o hoje e cada passo foi escolhido ao seu tempo. Encheram de cores sua história, fizeram do tesouro um invisível. Guardaram no outro toda força, toda paciência, todo carinho, sentimento por sentimento que os faziam crescer. A confiança que o próximo não seria vão mesmo se decidisse partir. As intensidades eram ausentes de propósito, atitudes realmente livres. Como poucos podiam ser plenamente, pois na presença jamais poderiam ser pela metade. Não era uma mão completando a outra, eram dois inteiros que em si encontraram e decidiram compartilhar o mesmo pedacinho de vida.

Este sonho acordou nos lábios de um contador de histórias. Ganhou diferentes versões pelos locais onde passava a procura da realidade. O conto alimentava os pés dos ouvidos e sua existência se tornou tão crível quanto seu imaginário. O homem não descansou enquanto não terminou de percorrer o mundo atrás daquela utopia. Em diferentes línguas sussurravam essas entrelinhas. Cada pessoa levou consigo um pedaço e construiu seu próprio sentimento. A fala reinventava a vida um dia imaginada. Então em uma noite deitou-se ao lado de cada alma este sonho coletivo. Amanhecia pela primeira vez o amor e ninguém jamais esqueceu.

Ass: Danilo Mendonça Martinho

4 comentários:

  1. Olá,
    A variável que sempre faltou/falta..., amor.
    Ótimo texto!

    Homem de 2indices

    ResponderExcluir
  2. Lindo..profundamente poético. "Não era uma mão completando a outra, eram dois inteiros que em si encontraram e decidiram compartilhar o mesmo pedacinho de vida."

    ResponderExcluir
  3. É...o amor é um livro que nunca terminamos de ler.

    ResponderExcluir