Não existe nada mais estranho do que abandonar um peso. Aprendemos a nutri-lo, aprendemos a contar com ele, colocá-lo na balança em toda decisão como parte indivisível e insuperável. Deixá-lo é quase não se reconhecer, fomos mais tempo com do que podemos imaginar sem. Somos pessoas apegadas talvez até mais as nossas dores. A felicidade nos escapa, mas dormimos abraçados aos nossos medos. Quem sabe esse seja o pedaço que tanto me falta, não meu sonho ou desejo, mas sim essa parte que nunca deveria ter sido minha. Habituei-me, confesso. Há um conforto na melancolia, como vítimas não precisamos tratar as causas, temos sempre justificativa. Agora me sinto de volta a vida selvagem, tenho que agir para sentir, perdido nesse vazio onde tenho a chance de construir algo completamente meu. Deixar um peso para trás é aquele momento esquisito quando tiramos o gesso de uma perna. Parece uma coisa nova, muito formigamento, leveza, buscamos na memória, mas logo percebemos que para seguir em frente vai ser preciso um novo equilíbrio.
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