segunda-feira, 15 de setembro de 2014

“Desabafo Tardio” (29/08/2014)

Será que seríamos felizes se fôssemos mais simples
Sem a consciência de tudo que podemos
Sem a consciência de nossa liberdade
Sem consciência do nosso fadado fim

Será que seríamos mais livres
Se saíssemos sem ambição
Todo dia até o mesmo trabalho burocrático
Que sustentasse nossa vida fora dele
Nosso marasmo em frente a televisão 
Nossos suspiros levados pela correnteza
Nossa casa sem saídas

Por que essa ideia de grandiosidade?
Por que não podemos deixar os dias passarem naturalmente?
Deixar a vida a cada noite apaziguar um pouco mais nossa alma
Deixar o tempo ser mestre do destino
Ir e vir nesse mundo sem escalas e sem sinais
Operário da humanidade, uma estagnação da evolução
Poder sentar a mesa e sentir-se inteiro sem nada que lhe falte
Sem nada lá fora que precise para se sentir bem

Uma vida humilde sem muitas regalias
Com um canto para dormir e outro para rezar
Com um dia para sair e muitos para ficar
Que possa respirar sem culpa de algo que esqueci 
Uma vida não para marcar, apenas para viver

Divido-me entre a dádiva e o cansaço que a palavra me traz
Toda essa percepção sensível do mundo
Toda essa percepção do que sou e não gosto
Todos os sonhos que construo e não vivo
Todas ideias que não tenho coragem de ir atras
Todo potencial mal aproveitado
Essa vontade de se perder no supérfluo, no cotidiano, no banal

Vejo tanta felicidade em meus desejos
Mas em algumas madrugadas me pergunto
Será que seria mais feliz se desistisse

Ass: Danilo Mendonça Martinho

Um comentário:

  1. A maneira como escreveu esse poema/desabafo fez-me sentir num divã. Pela quantidade de questionamentos e observações sobre a vida... Desistir pode ser uma saída, mas encontrar também pode ser impossível.

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